Eu não sou diferente! O que seria diferente? O que faço entre quatro paredes? Ou por que freqüento lugares com pessoas que fazem o mesmo? Será que a única coisa que podemos ter de relevante é o tipo de relação que mantemos na cama com alguém? E só isso é o suficiente para dizer tudo ao meu respeito?
Eu acredito que somos muito, muito mais do que aquilo que praticamos sexualmente. Na realidade o fato de eu ser homossexual sempre foi apenas um detalhe em minha personalidade, assim como adorar mitologia grega, por exemplo.
Desde minha adolescência sempre procurei me portar com naturalidade junto às pessoas que convivia, tanto que minha saída do armário não foi uma das coisas mais complicadas que já tive que fazer. Contei com a aceitação da grande maioria dos meus amigos, inclusive dos homens héteros, que nunca deixaram de me abraçar (ou beijar no rosto) ao me cumprimentar. Atribuo esse comportamento a minha maneira de lidar de igual para igual com quem quer que seja, pois nunca me senti inferiorizado por ser gay e nem deixei essa ser minha principal característica.
Sei que para uma grande maioria o “outing” foi, é ou será ainda uma situação muito delicada, mas faz parte do nosso caminho e não podemos encará-lo como um problema. Lembro que quando saí do armário não tinha sequer um amigo gay. Todos eles eram héteros e, mesmo sem essa identificação, vários amigos, entre eles homens e mulheres, me ajudaram a entender o que acontecia comigo. Esse apoio para mim foi fundamental.
Percebo em algumas pessoas a necessidade de se vitimizar e enfatizar o fato de que são minoria, mas acabam de certa maneira colaborando com a mesma forma preconceituosa de pensar de alguns héteros. Às vezes tentam até criar subgrupos dentro do meio GLBTT, que é um só.
O fato de eu ser gay não quer dizer que eu não possa entender o que uma travesti pensa ou até mesmo o que um hétero sente em determinado momento de sua vida. O fato de eu ser gay me distancia tanto dele assim a ponto de eu me tornar um ser humano incapaz de compreendê-lo? Podemos aprender, sim, com experiências alheias, vivenciar um problema de uma amiga, conviver com diversos tipos de gênero e entendê-los por um só motivo: somos todos seres humanos. Se precisamos ser um integrante de cada gênero para entendê-lo, por que até hoje buscamos reconhecimento e tolerância dos heterossexuais?
Para mim essa forma de pensar é descabida e radical. Sempre acreditei que, apesar das pessoas insistirem em rótulos, somos todos iguais. Agir de maneira a segregar este ou aquele grupo é errado e não devemos dar força para esse tipo de sentimento. Afinal, agir de maneira reacionária quando não há por que é burrice.
O que vale mesmo é termos caráter, sermos verdadeiros e procurarmos manter nossa dignidade, não esquecermos que devemos protestar quando formos lesados em algo, que temos o direito de nos expressar, desde que seja de maneira justa, verdadeira e que eu possa sustentar meus argumentos de forma plausível.
Sermos diferentes em outros diversos aspectos (inclusive sexuais) não é e nunca será motivo para levantarmos um muro. Levantarmos muros é burrice, pois eles só tendem a ser derrubados com o tempo…