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Para sofrer menos e amar mais

Vinícius de Moraes dizia numa de suas músicas que “todo grande amor só é bem grande se for triste”. Apesar de ele ser um dos meus poetas preferidos, vou xingá-lo nesse exato momento de minha vida: macumbeiro!

Brincadeiras à parte, Vinícius foi um homem que peculiarmente talvez tenha entendido a natureza de todas as coisas, a transitoriedade. Quem de vocês ainda não percebeu que todo amor traz, em um determinado momento, dor?

Infelizmente (ou não?) isso é bem verdade e quanto mais feliz se é com alguém, mais se sofre quando há o rompimento. Tudo que sobe muito alto sofre uma inversão proporcional durante sua queda e a dor é bem maior.

O apego está intimamente ligado ao sofrimento. Ou porque você quer ter alguém e não tem, ou porque você já está com essa mulher maravilhosa e tem medo de perdê-la, ou ainda porque tinha e a perdeu…

De um jeito ou do outro as pessoas estão sempre sofrendo por questões ligadas ao apego por uma pessoa, um ideal, por sonhos. Dentro de um relacionamento o que podemos fazer de pior é acharmos que possuímos alguém. Isso é cavar a sepultura de um relacionamento!

Ninguém possui ninguém. Nascemos livres e sós e assim morreremos. Devemos, portanto, procurar manifestar nossa vida da mesma forma: livremente. O problema é que temos plena consciência disso, mas ter consciência é uma coisa e ter controle é outra.

Eu acredito na compreensão budista da roda da vida que diz que uma hora estamos em cima e em outra, embaixo. É mais ou menos como afirmar que não há felicidade sem dor e nem dor sem alivio. Explico: você se apega a algum plano e quando percebe que não conseguirá atingi-lo, sofre; você se apega a um trabalho e se é demitido, o mundo cai na sua cabeça; você ama sua namorada/mulher e tem plena certeza de que vai viver ao lado dela pelo resto da vida. Se termina, o chão abre embaixo dos seus pés.

Se ficam realmente juntas por longos anos ou até o fim de suas vidas, acharão outro ponto de insatisfação e sofrimento: ela já não me ama como antes, nós já não transamos com a mesma frequência, e por aí vai…

Mas aí é que vem a parte boa. Como? Oras! Se você sofre porque perdeu algo, você aprende, evolui e amadurece com essa experiência e com isso vai aprendendo sobre outras alternativas de procedimento, caminhos, decisões e trajetórias.

Segue tentando acertar de outras formas que não a mesma fixação de sempre sobre a ideia de se concentrar em não se apegar àquilo ou àquela pessoa porque desse jeito termina também sofrendo todo o tempo nesse processo, tentando, se esforçando…

Aí tudo volta a girar e eis a inevitável roda da vida mais uma vez. E você conhece outra pessoa maravilhosa e parece que é a primeira vez novamente. É incrível como nossas energias operam dentro de mecanismos condicionados dentro de certas culturas e informações que absorvemos ao longo de nossas vidas.

Quando o príncipe Sidarta Gautama saiu do palácio onde morava protegido da realidade da vida, percebeu a dor, a morte, a fome, a doença e a decrepitude. No budismo chamamos isso de DUKA.

Ele estudou as pessoas e percebeu uma coisa: todo sofrimento estava ligado ao apego. É mais ou menos como se o pensamento ocidental de separação entre alegria e sofrimento não existisse.

As pessoas vivem em busca de uma felicidade perfeita, que está em algum lugar. Algo de “feliz para sempre”, que não vai acontecer. Entender isso é ser feliz a cada dia, com perdas e ganhos. Tristeza e alegria é a mesma coisa, ligadas por um fio que faz com que uma coisa dependa da outra.

Se nos esforçamos para compreender a efemeridade da vida em todas as suas manifestações, viveremos mais tranquilos, as dores serão mais breves. Talvez não menores, mas provavelmente mais amenas. É necessário compreendermos que tudo passa: as dores passam, as alegrias também. Só o que não pode passar é a tranquilidade de compreender que tudo passa.

Apesar de ser quase impossível ter o controle sobre nossa mente e coração, é possível saber aproveitar melhor as paixões e amores que passam em nossas vidas se as deixarmos livres, se as tratarmos com respeito e, principalmente, se entendermos que o amor é uma manifestação de energia entre duas pessoas e que por isso deve receber sempre boas vibrações.

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