Esta foi minha décima Parada, sendo a sexta trabalhando. E depois de tantos anos já é possível perceber certos comportamentos das pessoas e analisar com alguma visão crítica tudo o que aconteceu e o que poderá ainda acontecer. Como nos números, que para mim a diminuição já era óbvia.
Números
A Parada não soltou ainda o resultado oficial e a Polícia Militar já adiantou na semana passada que não daria qualquer número oficial. Eles já fazem isso há dois anos. O que acho até bom, porque fica uma briga por conta desse dado que pouco importa.
Se são 3 mil ou 3 milhões nada vai mudar na aprovação dos direitos que tanto se luta nas esferas municipal, estadual e federal como a PLC 122 e então é desnecessário saber quantos estiveram presentes, mesmo porque esse número já vem inflacionado há muitos anos. Matemáticos já explicaram até no Fantástico sobre isso.
Na quarta disseram que vão soltar o número oficial da Parada. Estou bem querendo ver o que vão dizer, pois era visível que a Paulista estava mais vazia. A circulação era razoavelmente tranqüila, visto outros anos. A Parada acabou cedíssimo e muita gente não sabia dos novos horários, mas esperamos para ver e eu já vinha dizendo para alguns amigos que este ano seria o inicio do declínio de participantes.
Novo Formato
A Parada Gay precisa encontrar um novo formato e acho que o Carnaval de Salvador é o melhor case para inspiração. Fechar a rua, colocar camarote de cervejaria e operadora de celular. Vender o acesso aos camarotes, vender o acesso ao espaço dentro das cordas e deixar espaço para quem não quer ou não pode pagar ir de pipoca.
Claro que isso deveria ser organizado por uma empresa com expertise no assunto e a APOGLBT seria uma espécie de conselheira e receberia uma porcentagem desta receita para se manter e criar, de fato, suas ações sem depender de verbas publica. Independência.
Mas magina, este formato jamais vai acontecer e algum militante que lerem isto vão achar que estou louco, ou ainda, vão me criticar publicamente por um pensamento puramente capitalista. Mas alguém acha que o formato atual está bom?
Domingo mesmo ouvi que "tucanaram a Parada" por conta do horário de término – este ano a Paulista tinha que estar liberada às 16h, ano passado era às 18h. É evidente que este é um movimento para pressionar que a Parada deixe a Paulista por vontade própria, já que não obtiveram sucesso forçando a barra de outra maneira. Mais um indício de que é preciso repensar o formato.
E porque não convidar as pessoas envolvidas em toda a roldana para conversar e debater? É preciso sair do circulo da liderança do movimento, das lideranças das ONGs e conversar com os empresários, com freqüentadores e chegar a um consenso? Seria o ideal, mas o ideal quase nunca é o real. E essa questão política deixa para ativistas profissionais que já fazem isso muito bem.
Politização
Quem vai à Parada está lá para se divertir, para beber, beijar, pegar, se jogar. Tudo menos consciência política e isso se pode conferir com o resultado da ação do "Não Homofobia", que mesmo depois de grandes ações na Parada do Rio e de São Paulo não tem nem 50 mil assinaturas, das 1 milhão pretendidas.
Se este formato não politiza as pessoas é preciso agir de outra maneira e deixar que este importante espaço conquistado nos últimos treze anos seja utilizado para capitalizar e aplicar parte disto em ações efetivas. Criação de centros com dinheiro privado, por exemplo.
Festas
Não tenho a menor dúvida que gostei mais das festas em torno do Orgulho Gay do que a Parada em si. Diverti-me muito mais, mesmo trabalhando na cobertura dos eventos e este sim é algo que deu certo. Alias, existe um forte preconceito com jornalistas que cobrem noite, alguns não vêem isso como trabalho. Uó!
Todos os anos são novas labels, novos produtores, novos DJs, novas culturas e para quem gosta de música e noite como eu é essencial essa conexão com outros países que as festas trazem. Alias, tive sorte de ser escalado para cobrir só as festas que eu realmente estava a fim de ir.
E certíssimos os produtores que deixaram de gastar quase R$ 100 mil para colocar um trio bacana na Parada e investiram em festas paralelas e estão retornando o investimento feito e nisso aí existe também uma pressão para que os clubes não participem.
Novas Mídias
Hoje estamos totalmente conectados o tempo todo e as pessoas comuns este ano tiveram uma participação fundamental na hora de registrar os acontecimentos da Parada. Muita gente postando no Facebook e Twitter informações e imagens em tempo real, antes até dos veículos tradicionais de mídia gay – A Capa, G Magazine e Mix – e da grande imprensa como Folha e Estado.
Esse conteúdo gerado pelas pessoas é extremamente importante para o jornalismo tradicional. É através destes repórteres espalhados por toda a avenida que se sabe de alguns acontecimentos que a mídia tradicional não estava presente. Um cara martelado, um caído, onde determinado Trio está, essas coisas.