in

Parada Gay de SP termina em tempo recorde e sua realização na Paulista é questionada

Aconteceu no último domingo (14/06) a 13ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, organizada pela Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis (APOGLBT). O saldo foi positivo, mas ao mesmo tempo a Parada desnudou a contradição do discurso que considera a manifestação também como um evento turístico.

Sempre que o assunto é Parada Gay o que se discute é o número de pessoas que reuniu – a Associação previa em torno de 3 milhões de participantes – o fato de lotar hotéis e, consequentemente, de elevar os lucros da cidade. Nada mais natural. Segundo dados da SPTuris, cerca de R$ 400 milhões foram injetados por conta da Parada. Mas a maneira como os trios tiveram de deixar a Paulista, a toque de caixa, pode ser considerado um tiro no pé.

Imagine o cidadão que vem de qualquer outra cidade e chega aqui para ver a maior Parada Gay do mundo acabar por volta das 17h? E as empresas que investiram alto em seus trios e tiveram que encerrar as atividades por volta das 16h? O comentário mais comum entre os frequentadores era: "Nossa! Já acabou? Não acredito!". Eram 18h. Será que vale a pena pegar avião, reservar hotel, gastar caro para subir num trio para ver uma Parada acabar em menos de 4 horas? Algo precisa ser repensado. O formato da manifestação principalmente.

Agora, a melhor notícia dessa Parada é a diminuição da violência. Como o jornalista Paco Llistó apurou com o tenente Orlando Taveiros, "foram registradas apenas 89 ocorrências este ano (sendo que 75 delas foram furtos), 84% a menos que no ano passado, quando a PM contabilizou 589 denúncias". Agora, o engraçado é que a grande imprensa só fez questão de realçar notícias ruins. Preguiça de apurar e comparar com a edição anterior?

Para quem transitou pela Parada foi claro notar um número menor de pessoas passando mal por conta do alto consumo de álcool ou de drogas ilícitas. Outro dado positivo que a nossa reportagem averiguou foi a ausência de "empurra-empurras", que aconteceram nas edições de 2007 e 2008. Mas isso também não foi noticiado.

O terceiro fato relevante é a questão da ausência dos trios das casas noturnas. Há quem diga que elas não fizeram a mínima falta, outros afirmam o contrário, que sem elas a Parada fica morna, quase sonolenta. É perigoso assumir um lado, é melhor partir para a reflexão.

É inegável que as casas noturnas fazem parte da vida da maioria da população LGBT, pois a vida social de alguns gays passa necessariamente por nelas. De um lado, os empresários dizem que os preços cobrados para se colocar um trio na avenida – R$ 10 mil – é caro demais. Do outro, a APOGLBT diz que os empresários reclamam demais, que são afeitos a pouco diálogo, que estão com as portas abertas e que as casas deixaram por vontade própria de participar. Quem sabe em 2010 eles fazem as pazes e os trios dos clubes voltem a desfilar na avenida Paulista?

O que ocorre há anos sempre que uma Parada acaba é a discussão sobre a viabilidade do evento na Paulista. É bom lembrar que, na ocasião em que o evento atingiu dois milhões de pessoas, em 2005, a questão do local foi amplamente debatida. Durante o evento, em 2006, houve manifestações para que ela não saísse do cartão postal de São Paulo. Permaneceu. Mas, ao lermos os jornais de ontem e de hoje, vemos o prefeito Gilberto Kassab fazer uma declaração dúbia sobre o tema.

"Vamos estudar, mas não há nenhuma intenção de retirar, ainda, da Paulista", disse o prefeito. Em seguida o Ministério Público diz que irá rever o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) e, talvez, proibir a realização da próxima Parada Gay na Paulista. Uns apontam o Sambódromo como solução, outros solicitam o Campo de Bagatele. Esse é um debate que ainda vai render calorosas discussões.

Porém, essas reações costumam ser fogo de palha. Daqui a um mês ninguém mais falará de Parada. Essa reação dos poderes é fruto da campanha altamente negativa de boa parte da imprensa, que apenas noticiou os casos de alcoolismo, furto e brigas, como faz todos os anos. Quantas linhas foram dedicadas ao trio da campanha Não Homofobia? Ao último trio em homenagem aos 40 anos de Stonewall?

Pior ainda é a história da suposta bomba caseira, que se descobriu ser um rojão jogado por um morador da Vieira de Carvalho. Esqueceram de dizer que ataques homofóbicos nessa região são cotidianos e a própria Polícia Militar disse que o fato nada teve a ver com a Parada. Enfim, o problema está na Parada continuar na Paulista ou de boa parte da sociedade ainda ser homofóbica e mal educada?

Parada Gay 2009: Números, Formato, Festas, Politização e Novas Mídias

Igreja de São Paulo realiza casamentos gays