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“Parada Gay virou circo”, diz Dimmy Kieer

A drag Dimmy Kieer tem motivos de sobra para festejar seus 18 anos de carreira. Ao longo desse tempo, Dimmy foi testemunha dos avanços e retrocessos dos direitos gays, viu novas artistas surgirem na noite e também presenciou o crescimento das Paradas LGBT no país.

Com maturidade e disposição, Dimmy soube se reinventar no palco e na vida. Mas quem a vê montada cheia de vibração e alegria não sabe que a drag batalha e muito para que a peruca e a maquiagem possam reinar, enfim, absolutas. Além de performer, Dimmy é vitrinista e maquiadora. É impossível reconhecê-la durante o dia, quando a drag atende pelo nome de Dicesar Ferreira. A dupla identidade não a incomoda, talvez porque ela saiba que o sucesso não existe sem qualquer esforço.

No próximo domingo (25/10), Dimmy se junta às amigas Thália Bombinha, Valenttini, Danny Cowlt, Labelle Beauty, Striperella e Amanda Di Polly para fazer um brinde a todo esse sucesso. O palco da festa é a Tunnel, que recebe também nas pick-ups os DJs Gustavo Vianna, Jura, Paulo Pringles, Alexx, Edu Pietro e a drag DJ Ginger Hot.

Numa entrevista mais que sincera, a autêntica Dimmy Kieer fala sobre o que pensa das Paradas Gays, reclama da colocação na noite e confessa que tem vontade de seguir a carreira política. Leia a seguir.

Como é comemorar 18 anos de carreira?
Um prazer muito grande! Gosto de sentir o carinho do público e saber que fiz uma história bacana, divertida e colorida.

Você está preparando alguma coisa especial para o próximo domingo?
Sim, Stripperella, Valentine, La Belle Beauty e Thalia Bombinha virão todas de vermelho e farão um visual bem drag.

O que mudou na noite gay ao longo desses anos?
O que mudou é a quantidade de meninos lindos e jovens que estão preocupados em ficar, se drogar e curtir a batida perfeita da colocação. Fico meio de cara como o jovem gay está se drogando. Não namoram mais, não vão mais ao cinema, teatro, não têm mais o prazer da paquera. É só ficar e somar com quantos saíram na balada…

Você é destaque em Paradas Gays em todo o país. O que pensa sobre a manifestação?
Eu me monto com um visual bem bacana, visto as cores da nossa bandeira gay. Mas acho que infelizmente a Parada virou um circo, um carnaval fora de época. Cadê as faixas, os apoios da família, os gays pedindo respeito, reivindicando nossas causas, gritando diga não a homofobia, preconceito é crime? Cadê a mídia para mostrar que os gays se amam, são advogados, juízes, empresários que estão se dando bem, que pagam seus impostos? Que eu, você e todos somos normais e temos família? O que minha mãe acha de tudo isso? O que eu e outros artistas fazemos para sobreviver? E os que estão contaminados na rua vivendo como mendigos? Adoro as Paradas do interior de São Paulo, onde podemos pegar o microfone e deixar as pessoas cientes que estamos lá por uma boa causa e lutando pelos nossos direitos. E não é só uma festa, uma micareta, um trio elétrico com música…

Você sabe como ninguém que ser drag é uma profissão como qualquer outra. Já pensou em desistir e partir para outro desafio?
Desistir não, mas tem que ter um emprego de dia. Estou maquiada à noite e no salto, mas de dia tenho que ter meus pés no chão. Tudo custa caro e não dá para sobreviver só como drag. Sou maquiador, produtor visual e sempre me viro nos 30…

O que há de mais maravilhoso e estressante na noite?
A coisa mais maravilhosa é o aplauso, um abraço e o carinho de uma pessoa que você nem sabe quem é. E o estressante é carregar mala de show, correr como louca de uma cidade para outra. Nem todas querem pagar passagem de avião. Já viajei 14 horas num buzão, fui direto para a boate e ainda posei de linda, animada e fervida a noite toda (risos). A pior coisa ainda é hétero te agarrando, achando que drag faz programa e quer sair com você! Fico doida! Sou lésbica, só fico com gay e desmontada… Muito franca!

O que espera de sua carreira daqui para frente?
Quero fazer um curso profissional de drag DJ. Já estou tocando em umas festas, raves, Paradas. E quero gravar um CD dance com músicas famosas remixadas, tipo Ana Carolina, Ivete Sangalo, Isabela Taviani, Raul Seixas, Frenéticas… Artistas que eu adoro só no batidão para cantar nas Paradas e em festas que sou contratada. Não basta só dar pinta…

Após 18 anos de carreira, você tem esperança de presenciar algum avanço nos direitos gays?
Sim, acho que tudo está mudando. Outro dia li que o presidente Lula é a favor do casamento gay. No sindicato dos artistas temos que ter um convênio dos artistas gays da noite. Já fiz minha inscrição em um condomínio gay para comprar meu apartamento. Quem sabe teremos um bairro, uma vila literalmente gay.

Já pensou em seguir a carreira política? O que acha de outras drags serem candidatas?
Já pensei sim. Gosto da coragem da Salete [Campari] e do Léo [Áquilla] de se candidatarem. Os candidados esquecem que ninguém vive sozinho. Temos que levar em conta as palavras-chave com o nosso público: simpatia e carisma. Mas não é só colocar uma peruca na cabeça e o povo hétero achar a gente engraçada e divertida, ou que somos corajosas ou uns viados doidos de peruca… Não quero reivindicar nada para mim e sim para o nosso público. Nada dá certo se você não trabalha em equipe, pega todos os gays, drags, artistas da noite, empresários para sairmos às ruas, no Planalto, nas plataformas, no Fórum, na Prefeitura… Temos que gritar, pedir e mostrar a nossa cara com dignidade e todos numa só voz! Com certeza, um dia teremos um gay na política para respeitar.

Serviço:
Festa dos 18 anos de carreira de Dimmy Kieer
25/10/2009 (domingo), às 19h.
Tunnel – Rua dos Ingleses, 355.
Entrada: De R$ 5 a R$10.
Mais informações: www.tunnel.com.br.

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