in

“Paradas mostram fracasso do movimento gay”, diz ex-Secretário de Assistência Social do Rio

Cinco de maio de 1992. A data marcou o início de uma nova fase na vida de Marcelo Garcia, ex-Secretário de Assistência Social da cidade do Rio de Janeiro (cargo que ocupou por 5 anos e 3 meses) e atual Secretário de Assistência Social de Juiz de Fora. Até aquele dia, jamais havia passado por sua cabeça a possibilidade de assumir sua homossexualidade. Um ano mais tarde, ele se formaria em Serviço Social na Universidade Federal Fluminense (UFF) e começaria a criar o seu mito. 

Em entrevista ao site A Capa Marcelo nega que tenha se formado com média cinco e mostra sua inteligência. Abaixo ele faz uma avaliação sobre sua experiência na Secretaria do Rio, fala sobre seu novo trabalho em Juiz de Fora e faz duras críticas aos grupos gays e ao formato das paradas.

Quando se assumiu gay e como foi?
Foi em 1992. Eu tinha 22 anos e até aquele dia 05 de maio nunca tinha sequer falado para mim mesmo que poderia ser gay. Fui passar férias em Curitiba na casa de um amigo. Ele queria que eu namorasse a cunhada dele. Na hora, eu pensei: ‘Vou namorar esta menina para que as pessoas parem de me cobrar uma namorada’. Só que quando voltava para casa, percebi que estava sendo sacana com a menina e, sobretudo sacana comigo, pois tinha 22 anos, nunca tinha namorado ninguém e já havia me apaixonado por caras. Cheguei à faculdade e fui conversar com meus amigos, um a um. Queria ser o que era. Logo depois me apaixonei pelo Thiago. Foi tudo muito rápido, em menos de 2 meses deixei de ser um cara totalmente dentro do armário para ser um cara que já tinha até namorado. Como tive que me virar meio que sozinho, já que ninguém tratava do assunto comigo, escrevi um livro, que se chama ‘E ninguém tinha nada com isso’.

Em 1993, época em que se formou em Serviço Social, é verdade que sua média final foi 5?
Minha média final foi 8. Nunca perdi em nenhuma disciplina. Me formei na Federal Fluminense e acho que fui um grande aluno. Quando a escola fez 50 anos, fui convidado para ser homenageado. Na UFF a média para passar era 6, desta forma se eu tivesse tirado 5 não teria me formado.

Conte sobre o que mais marcou na sua gestão como Secretário de Assistência Social.
Foi a profissionalização da Secretaria. Fiz 3 grandes concursos e estabeleci a carreira social na Prefeitura do Rio. Pude desenvolver muitos projetos legais de combate a indigência, a miséria e projetos inovadores na área de Direitos Humanos. Foram 5 anos e 3 meses muito felizes mas de muito trabalho. Ser secretário numa cidade como o Rio de Janeiro é uma tarefa bastante complicada, mas os resultados foram sempre muito bons.

Como recebeu o convite para chefiar a secretaria?
Eu havia sido Secretário Nacional de Assistência Social no governo de Fernando Henrique e naquele momento era Secretário de Trabalho da Prefeitura. Estava com o Prefeito Cesar Maia numa reunião do BID nos EUA e ele decidiu que eu deveria sair da Secretaria do Trabalho e ir para a de Assistência Social. E lá fui eu…

O fato de ser gay assumido atrapalhou de alguma forma a sua gestão?
Nunca me atrapalhou. Nunca senti preconceito de nenhum colega de Secretariado e muito menos do Prefeito Cesar Maia, que é zero homofóbico. Em 2004 fui eleito Presidente do Fórum Nacional de Secretários Municipais de Assistência Social – CONGEMAS que presido até hoje. Ocupei várias missões em comissões nacionais e internacionais. Estive na África, várias vezes no BID nos EUA, no Timor Leste, já fui a reuniões em todos os estados brasileiros e nunca o fato de ser gay me atrapalhou. E nunca escondi de ninguém que sou gay. Aliás, se eu puder numa palestra ou conferência falar, eu falo, pois só assim vamos construir igualdade de fato.

Como avalia sua gestão como Secretário Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro?
Acho que junto com minha equipe fizemos coisas muito legais. Todos os indicadores de Gestão são bons na cidade do Rio. Isso se deve a um trabalho de equipe, pois como disse Guimarães Rosa: ‘A vida é um mutirão de todos’.

O que foi feito com relação aos moradores de rua?
Fizemos 3 importantes levantamentos sobre a situação da população de rua (2006, 2007 e 2008). Abrimos hotéis, aumentamos vagas em abrigos e implantamos o família acolhedora, mas, sobretudo disputamos dentro do governo e ganhamos uma briga para mostrar que população de rua não é lixo. É gente que precisa de ajuda e não de humilhação. Sempre disse que minha preocupação com a população de rua nunca foi estética. Não me preocupo com a calçada que tem população de rua e sim com a pessoa que está vulnerável na calçada. Tive grandes brigas para defender o direito ao acolhimento com dignidade. Acho que ganhamos a tese do respeito ao morador de rua.

Aqui em São Paulo costumam dizer que enquanto a SAS dá um cobertor aos moradores de rua a polícia espanca. Como é essa relação da polícia com moradores de rua e a Secretaria de Assistência Social do Rio?
Na minha época não se agredia morador de rua e a polícia sabia que se espancasse um morador de rua era a mim que estavam espancando e a briga ia ser dura. Quem vive o cotidiano da miséria e da indigência merece respeito e não pancada.

Com a mudança na prefeitura acredita que o trabalho feito por você possa perder a continuidade?
O Prefeito Eduardo Paes e o novo Secretário Fernando William são homens sérios. Vão manter tudo que está dando certo e vão mudar o que precisar ser alterado.

Que projetos foram feitos para a comunidade LGBT?
Fizemos o Damas para Travestis, fizemos o Disk Solidão para gays, criamos o comitê da Diversidade Sexual, consolidamos leis importantes como a da livre expressão de afeto nos estabelecimentos públicos. Acho que nunca um governo fez tanto pelos gays como o de Cesar Maia. Mas cá entre nós, os grupos gays que são controlados ideologicamente nunca reconheceram isso publicamente. A Prefeitura do Rio foi a primeira a garantir pensão para as pessoas do mesmo sexo no seu sistema previdenciário. Isso em 2001. Nós fizemos coisas que foi preciso muita coragem, mas os grupos gays gostam mais de conferências do que de ações. Enquanto o governo federal fazia conferência nós agíamos defendendo direitos.

O que mudou em sua vida depois que assumiu o cargo?
O Fato de um Secretário Municipal da cidade do Rio ser um gay assumido é muito emblemático, mas eu não fui secretário porque sou gay. A área da Assistência Social é a minha área de trabalho. O Rio foi uma etapa importante, mas agora sigo minha jornada.
Mudança mesmo, só na cabeça (menos cabelo) e olheiras (acho que nunca mais vou perder).

O Rio de Janeiro é uma cidade turística e que sempre quis estar como rota do turismo gay. Nos últimos anos, por conta de aprovação de leis e outras seguridades vimos Buenos Aires ascender nesse sentido. O que falta então pro Brasil e, mais especificamente, o Rio voltar à posição de destaque no turismo gay que tinha antes?
Conheço muitas cidades em todo mundo e posso afirmar que o Rio não é uma cidade gay. É uma cidade que ama a diversidade. Não precisamos ser capital dos gays, pois somos a cidade que os gays mais amam e que mais são amados. Nossa legislação é muito moderna.

Como você avalia a importância de Stonewall para os dias de hoje?
Sem Stonewall nada disso que vivemos hoje seria possível. Pena que tudo anda esquecido pelos grupos gays.

O que foi preparado para as comemorações de 40 anos de Stonewall?
Lançamos a campanha Rio Orgulho em 2008 para comemorar os 40 anos de Stonewall em 2009. Lanç

Meninas se beijam embaixo d’água no Big Brother Brasil 9

Aniversário de São Paulo conta com atrações gays na programação