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“Paternidade virtuosa não é monopólio da heterossexualidade”, diz pai gay

O jornalista Gilberto Scofield escreveu um artigo para o jornal O Estado de São Paulo em que fala sobre paternidade e o projeto do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em ressuscitar o Estatuto da Família, que restringe a casais heterossexuais a adoção.

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Considerando o projeto medieval – haja vista a "farta literatura científica provando que crianças criadas por casais homossexuais não diferem em nada de crianças criadas por casais héteros" – ele conta a história da adoção de PH ao lado do marido Rodrigo Barbosa

No texto, ele afirma que no fim de outubro recebeu um telefonema de um dos grupos de adoção, informando que uma criança se encaixava no nosso perfil e que estava num abrigo no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. O casal, que mora no Rio de Janeiro, partiu para a viagem.

"Nossas cabeças doíam na expectativa do que poderia acontecer: será que ele vai com a cara da gente? E se ele não gostar de dois pais? (…) PH estava lá: um menino de quatro anos que foi se aproximando desconfiado, mas que depois de 15 minutos, já estava brincando alegremente de carrinho com a gente. Nossos corações se encheram de esperanças, era emoção demais, carência demais de um lado e do outro, vontades súbitas de cair em prantos a troco de nada", disse.

Gilberto revelou que PH foi negligenciado pelos pais alcoólatras e que foi parar no abrigo aos dois anos, quando a mãe morreu aos 28. O pai o rejeitou e, após ser adotado pela primeira mulher, voltou ao abrigo por maus tratos. "Antes de nós, três casais heterossexuais já haviam visitado PH no abrigo e também o rejeitaram: dois porque o acharam 'muito feio'. O terceiro porque, para eles, PH era 'negro demais'".

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Hoje, eles completam quatro meses sendo pais de PH no Rio de Janeiro. E dizem que trata-se de um exercício especial de paternidade e acolhimento. "Precisamos dar amor e ensinar o que é amor. Mas precisamos educar. Não faz parte de nosso planos criar um pequeno tirano. Como diz uma amiga: ser pai é a arte de dizer não. Mas não é assim em todas as famílias?".

O jornalista diz que resolveu contar a sua história para mostrar que é uma família como qualquer outra e que a paternidade virtuosa não é monopólio da heterossexualidade. "O que o Estatuto da Família faz é dar aos casais heterossexuais o monopólio da criação "perfeita" de filhos, quando todos nós conhecemos casais heterossexuais cujos filhos são desajustados ou simplesmente maus. O noticiário está aí cheio de exemplos de rapazes e moças que atropelam e matam pessoas sem prestar socorro. Ou bandos de jovens de classe média bem criados cuja maior diversão é tacar fogo em mendigos ou bater e espancar prostitutas, gays e nordestinos".

Ele finaliza mandando um recado a Cunha: "Caso a sua religião não pregue a tolerância, preste atenção num fato muito simples: toda a criança adotada por um casal de gays ou de lésbicas foi abandonada/espancada/negligenciada por um casal heterossexual, esse mesmo que o senhor julga serem os únicos capazes de criar filhos 'normais'".

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