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“Patrik 1.5” transforma o tema da adoção por gays em uma inusitada e divertida comédia

Pegue um filme bem "Sessão da Tarde", troque o casal de protagonistas héteros e os substitua por dois personagens gays. Depois mude o cenário – uma cidadezinha da Califórnia, por exemplo – e o transforme em um local semelhante, mas agora localizado na fria e distante Suécia. A comparação é válida para definir a atmosfera de "Patrik 1.5" (Patrik, Age 1.5, Suécia, 2008), um dos filmes com temática homossexual que a 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo apresenta a partir do próximo dia 23.

Em "Patrik 1.5", um casal gay tenta adotar uma criança, apesar das leis ainda pouco compreensíveis de seu país e da vizinhança aparentemente inofensiva. A própria história desse casal tão diferente já contribui para o enredo inusitado do filme, que lembra às vezes a excelente comédia francesa "Baby Love", que esteve em cartaz no país no ano passado.

Göran (Gustaf Skarsgård) é médico e um de seus sonhos é ser pai. Seu marido, o grandalhão e insensível Sven (Torkel Petersson), teve um casamento heterossexual e foi alcoólatra no passado. Nem mesmo as autoridades do país, que decidem negar a primeira tentativa de adoção, desanimam o casal. Com esmero e dedicação, os futuros papais decoram o quarto de bebê, compram um carrinho para carregar a criança e se preocupam até com uma babá eletrônica.

Mas eis que, sem ao menos esperarem, surge à porta do casal Patrik (Thomas Ljungman), um menino arredio e homofóbico, com um passado criminal e ainda por cima órfão. Num primeiro momento, Göran e Sven tentam devolver o adolescente, que os rejeita com palavras ofensivas, como "pedófilos" e "bichas". Mais tarde, vem a explicação: por erro do Serviço Social – uma vírgula mal colocada – Patrik, na verdade um jovem de 15 anos, vai parar na residência do casal e deve aceitar conviver com a nova família se não quiser voltar para o orfanato.

Apesar do dia a dia hostil, Göran é o primeiro a se simpatizar com o jovem. Com o passar do tempo, o médico leva o menino para acompanhá-lo em suas corridas diárias. Por sua vez, Patrik usa sem querer seus dotes de jardinagem para se aproximar de seus pais adotivos. Daí para frente, o filme transforma o que poderia ser um tema batido e convencional em uma divertida e espirituosa comédia.

"Patrik 1.5" é um filme despretensioso e delicado. Coloca lado a lado dois opostos rejeitados pela sociedade – o jovem criminoso e órfão e os pais homossexuais – para que ambos possam se resolver em suas diferenças. No filme da cineasta Ella Lemhagen, Göran, Sven e Patrik têm que lidar com as dificuldades diárias e comuns a todo e qualquer casal se quiserem passar a ser, de fato, uma família "normal".

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