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Peça “Bicha Oca”, em cartaz em São Paulo, expõe fragilidades da relação amorosa gay

Numa cozinha, escura e fria, um homem gay, na faixa dos 50 e poucos anos, confidencia seu passado e relembra suas desilusões amorosas.  Pelos cantos do recinto, que se transforma em palco, o público vira confidente do ator Rodolfo Lima, que, em cena, evoca a dor e a amargura para falar do amor que não deu certo.

"Bicha Oca", em cartaz no Casarão do Belvedere, em São Paulo,  é um mergulho profundo e sofrido na natureza humana. Sem medo de expor sentimentos universais, a peça coloca sob o crivo da plateia a entrega total de seu intérprete. Derruba-se a quarta parede para que, completamente despido, o ator possa trazer à tona seu lado mais sombrio.

No início do espetáculo, Alceu, personagem de Rodolfo Lima nesse "quase" monólogo inspirado livremente em contos do pernambucano Marcelino Freire, murmura trechos da letra de "As canções que você fez pra mim", de Erasmo Carlos e Roberto Carlos, para então iniciar sua viagem inglória rumo ao passado. Quem ouve e vê esse homem abatido, praticamente sem forças, é tomado pela atmosfera angustiante que insiste em permanecer ao longo de toda a peça.

Sem tirar os olhos das pessoas que o observam, Alceu diz, lamuriante, que "bicha devia nascer sem coração". É nesse momento que a peça faz pensar e reavaliar nossa própria existência. Com segurança, Lima discute temas caros a todo e qualquer homossexual, mas, ao invés de reforçar qualquer conclusão estereotipada, humaniza e imprime personalidade a esse universo por meio do personagem que encarna.

Mas há alguns (poucos) problemas em "Bicha Oca". A marcação é confusa e Lima não aproveita o espaço cênico em sua totalidade. Ao costurar vários contos de Marcelino Freire sem muito rigor dramatúrgico, a peça se torna fragmentada, desfavorecendo o ritmo. Detalhes que passam despercebidos frente à força de Rodolfo Lima em cena e a sua habilidade em provocar e constranger positivamente o espectador.

"Bicha Oca", que fica em cartaz até o fim de setembro, não pode e – não deve – ser evitada. Como confidenciou Rodolfo Lima em entrevista para o A Capa, a intenção é "provocar". E é esse um dos grandes méritos do espetáculo: ajudar a reconhecer em si próprio aquilo que nem mesmo o espelho é capaz.

Serviço:
Bicha Oca
Local: Casarão do Beldevere
Rua Pedroso, 267, Bela Vista. Tel.: (11) 3266-5272.
De 12 de agosto a 30 de setembro
Quartas-feiras, às 21h.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Reservas e informações: teatrodoindividuo@yahoo.com.br e/ou contato@casaraodobelvedere.com.br.

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