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Peça gay estreia nos palcos paulistanos

O dramaturgo João Fábio Cabral, 35, já mostrou que tem sensibilidade em lidar com temas gays na peça "Flores Brancas", que trouxe à tona questões latentes no amor entre mulheres.

João Fábio (foto) volta a abordar a homossexualidade, desta vez para contar o relacionamento entre um escritor recém-separado, um enfermeiro que tem adoração por Elis Regina e um michê do sul do país. Segundo o dramaturgo, o fio condutor de "Tanto" (assista a clipe), espetáculo que estreia no próximo dia 11 de junho, no Teatro Augusta, em São Paulo, recorre ao desejo e ao sexo entre homens para questionar o real valor da amizade, que, apesar de reverberar fortemente no cotidiano do homem gay, integra uma problemática universal.

Em sua pesquisa, o autor descobriu que o abismo entre sociedade e orientação sexual é muito maior do que se pensa. "O homem gay sofre, seja pela distância entre família, tolerância e aceitação com naturalidade", diz.

Nesta entrevista, João Fábio fala sobre este seu texto inédito, inspirado em livro do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, e também por que decidiu mergulhar, mais uma vez, na temática da homossexualidade. Confira a seguir.

"Tanto" é uma peça gay? Do que ela trata?
É uma peça que fala da relação de três homens gays. Gosto de pensar que todos possam assistir, independente da orientação. Os personagens são gays, mas os temas abordados são universais. Logicamente que o público gay vai identificar-se mais rapidamente. É uma história sobre a grande amizade entre José, um roteirista deprimido, e Antônio, um enfermeiro debochado que não acredita no amor. Tudo muda quando Antônio encontra Artur, um garoto de programa que veio do sul do país.

Que questionamentos você quis levantar com o espetáculo?
Nesse novo trabalho busco apontar situações cada vez mais presentes na nossa sociedade, ou em algum de seus núcleos. Uma relação de amizade, pra quem tem amigos, é algo muito sagrado. Tentei encontrar um fio condutor que fosse significativo falar, colocar em cena. Nesse novo espetáculo o importante não é apenas o desejo entre dois homens, o sexo, ou mesmo a condição social. Para mim o importante é observar como esses três homens lidam com solidão, dor, perda, saudade, preço, fidelidade, paixão etc. Qual é o valor de uma grande amizade? Quem tem amigos sabe do que estou falando. Saudade é uma palavra muito presente nessa peça. O humor na relação dos dois também.

Pode me falar um pouco sobre cada personagem e os atores que os interpretam?
Antônio (Guilherme Gonzales) é um enfermeiro, fã de Elis Regina e Ângela Ro Ro, um personagem muito divertido, debochado e de raciocínio rápido, tenho certeza que o público dará boas gargalhadas. José (Gustavo Haddad) é um roteirista de cinema amargurado, um homem sério, fechado, que ficou desencantado pela vida depois que foi abandonado pelo namorado. E por último, Artur (Fábio Rhoden), um rapaz muito bonito que veio do sul do país, um garoto de programa que acaba se envolvendo com Antônio e José.

Esse é seu primeiro espetáculo a abordar a homossexualidade masculina. Por que resolveu focar no amor entre homens?
No ano passado escrevi "Flores Brancas", que foi um grande sucesso e que provavelmente voltará em junho aos palcos paulistanos para mais uma temporada. Na semana da Parada o espetáculo fará duas apresentações no espaço dos Satyros a convite de uma entidade. Como tinha escrito sobre mulheres, resolvi falar dos homens, pra ninguém reclamar (risos). Mas é um universo que me provoca, me emociona, me diverte, me faz pensar muito, mesmo com toda essa "aparência de aceitação", percebo uma grande lacuna entre sociedade e orientação sexual. Nessa pesquisa que realizei, descobri o quanto o homem gay sofre, seja pela distância entre família, tolerância e aceitação com naturalidade. Existe uma grande quantidade de homens solteiros e solitários, o casamento muitas vezes é com um amigo, digo, um casamento de amizade. Uma certa descrença numa relação saudável é algo muito presente nos pensamentos desses homens.

Que reação você espera do público?
Espero que o público divirta-se, emocione-se, identifique-se e, acima de tudo, prestigie. Foi um trabalho realizado com muito amor, dedicação e respeito.

Tem mais alguma peça com a mesma temática em mente?
No momento não. Mas quem sabe, se algo me mover para o desenvolvimento de algum outro texto que trate da homossexualidade, farei com muito prazer e alegria. Existem outros projetos com temas diferentes, se tudo correr bem, devem estrear no segundo semestre.

Como foi a repercussão de "Flores Brancas"? Como foi lidar com a homossexualidade feminina?
Fantástica. Fiquei muito feliz. Recebi várias mensagens de mulheres que gostariam muito de encontrar uma Luiza ou uma Vitória. "Flores Brancas" é muito significativa para mim. [As atrizes] Zeza Mota, Luciana Caruso e nossa coringa, Camila Grazziano, continuam enchendo de emoção os corações femininos…

"Tanto" foi realizada sem qualquer patrocínio. Isso tem a ver com o fato de a peça ser gay?
Parece que, a cada ano que passa, realizar um projeto teatral fica mais difícil, com essa temática então é ainda mais complicado. Graças à coragem e luta de Guilherme Gonzales (ator e produtor) e toda equipe podemos iniciar esse projeto. Gostaria de agradecer aos nossos apoiadores e pedir ao público que compareça ao Teatro Augusta a partir do dia 11 de junho. "Tanto" espera por todos de braços abertos, sem distinção ou barreiras. A peça está linda, cenas de tirar o fôlego, um elenco lindíssimo e muito talentoso. Viva! Viva! Viva!

Serviço:
"Tanto"
Estreia dia 11/06, quinta-feira, às 21h
Teatro Augusta – Sala Nobre (rua Augusta, 943, Centro).
Temporada de sexta a domingo
Ingressos:
Sexta: R$ 40,00/ R$ 20,00 (meia) / Sábados e domingos: R$ 50,00/ R$ 25,00 (meia)
Não haverá espetáculo no domingo (14/06)
Informações: (11) 3151-4141

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