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Peça mostra a hilária relação quase gay entre dois héteros

A peça teatral "Um Estranho Casal" foi escrita pelo dramaturgo norte-americano Neil Simon ainda na década de 60. Com o sucesso nos palcos, foi adaptada para o cinema em 1968, em filme dirigido por Gene Saks e estrelado pela dupla Jack Lemmon e Walter Matthau. Ficou cinco anos na TV, de 1970 a 1975, como uma sitcom da rede ABC.

Mais de 40 anos depois, o espetáculo ganha versão nacional. Em cartaz desde meados de 2009, com os atores Edson Fieschi e Carmo Dalla Vecchia nos papéis que foram de Lemmon e Matthau, respectivamente, "Um Estranho Casal" segue em São Paulo até o dia 11 de setembro.

Carmo e Edson têm carreira extensa na TV e principalmente nos palcos cariocas. Em 1996, a dupla estrelou uma peça lendária e absolutamente gay: "Giovanni" (foto abaixo), de James Baldwin, sobre o tórrido caso de amor entre dois homens – que já tinha recebido versão nacional em 1987, estrelada pelos atores Caíque Ferreira e Hugo Della Santa; ironicamente, ambos já falecidos vítimas do HIV.

Apesar de muitas aparições em produções globais – Edson esteve em novelas importantes como "Vale Tudo" (88/89) e "Meu Bem Meu Mal" (90/91), e Carmo foi o filho adolescente de Cláudia Raia na minissérie "Engraçadinha" (95) -, os dois atores nem sempre tiveram o destaque que merecem na TV. Apenas mais recentemente Carmo começou a desempenhar personagens mais amplos, como o Zé Bob de "A Favorita" (08) e o bizarro Silvério do seriado "A Cura", atualmente no ar às terças-feiras, ambos trabalhos escritos por João Emanuel Carneiro.

A dupla então volta a se encontrar no palco, desta vez não como um casal gay – como acontecia em "Giovanni" -, mas como um casal "quase gay". "Um Estranho Casal" narra a convivência hilária entre dois homens héteros: o maníaco-depressivo Félix (Fieschi) e o largadão Oscar (Carmo). Félix é abandonado pela esposa e vai morar com o amigo Oscar, também divorciado. Começam os atritos do cotidiano. Além de deprimido, Félix tem mania de limpeza, é obcecado por organização, regras e horários. Oscar é o extremo oposto: um sujeito quase selvagem, relaxado, hedonista, tipicamente machista e mulherengo. Os conflitos entre os dois, que chegam a "discutir a relação" algumas vezes, geram a força do texto.

O grande trunfo da montagem é o texto original de Neil Simon, um dos dramaturgos americanos mais importantes dos últimos 50 anos. Mas a tradução de Gilberto Braga e a direção de Celso Nunes – ambos dispensam apresentações – reforçam o nível de qualidade da montagem. Gilberto conseguiu atualizar e abrasileirar um texto que é de saída bastante bairrista, totalmente nova-iorquino. A opção de colocar as duas vizinhas boazudas como garotas gaúchas, por exemplo, é extremamente feliz.

Vale ressaltar ainda o trabalho do elenco. Não só a dupla central está afiadíssima, como os outros seis atores também, num espetáculo que precisa – e consegue – funcionar como um relógio.

Enquanto isso, na plateia, a presença do público gay é considerável. Embora não se trate da história de um casal gay, toda a atmosfera acaba sendo simpatizante, num espetáculo que brinca com as inversões de gênero, os papéis homem-mulher, marido-esposa, machismo e feminismo, e por aí afora. E ainda faz tudo isso com atores de verdade, não com os perdidos mecanizados que atualmente infestam a TV e já dominaram também os palcos.

Serviço:
Um Estranho Casal
Teatro Renaissance – Al. Santos, 2233 – Jardins – São Paulo
Sexta 21h30 / Sábado 21h / Domingo 19h
De R$70 a R$80
Até 11/09


Carmo e Edson em "Giovanni" (1996)

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