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Peça “Torquemada17Balas” faz excelente leitura sobre o sujeito oprimido do século XXI

Estreou no último sábado (30/03) no Teatro Coletivo a peça “Torquemada17Balas”, que tem inspiração no texto de Augusto Boal (1931 – 2009), criador do Teatro do Oprimido, técnica teatral disseminada em vários cantos do mundo que parte do pressuposto de que todos os sujeitos são atores e de que o teatro pode ser utilizado como instrumento de emancipação social e também como ferramenta política. O Teatro do Oprimido, como  dizem os seguidores, é um “teatro que tem lado” e claro, está do lado do sujeito oprimido.

A peça “Torquemada17Balas” entra em cartaz num momento oportuno onde o debate em torno da Comissão da Verdade, que visa tornar público os documentos da ditadura que até hoje seguem em sigilo militar, se torna mais acirrado entre apoiadores e detratores a cada dia que passa. A peça também levanta a discussão a respeito de uma pseudo superação das práticas e valores da época da ditadura. Para debater tal questão a peça se divide em dois momentos históricos: a representação da tortura de Boal e nos tempos atuais com dois jovens skatistas da periferia da cidade de São Paulo.

Na primeira cena nos deparamos com o dramaturgo Augusto Boal sendo torturado por agentes do Estado ditatorial vigente à época no Brasil. Boal é acusado de publicar artigos em revistas estrangeiras onde denuncia a prática de tortura e desparecimento de presos políticos no Brasil. Ironicamente um dos nomes que os torturadores querem saber se o dramaturgo fez contato ou não é o de Aloysio Nunes Ferreira, sim, ele mesmo, o senador do PSDB por São Paulo. Augusto Boal resiste e não entrega os colegas políticos. Posteriormente a cena de tortura do dramaturgo, a peça salta para os dias atuais e é aí que reside a genialidade do texto.

São dois momentos que irão marcar a vida dos dois jovens skatistas da periferia da capital paulistana. O primeiro é quando os amigos estão na rua fazendo um rap e uma viatura enquadra (termo que se usa para abordagem de transeuntes pela Polícia militar) os jovens e nesta cena os termos utilizados pelos policiais militares para intimidar os adolescentes são os mesmo utilizados pelos militares para arrancar informações dos presos políticos. Se na ditadura os resistentes iam ao pau de arara, hoje é no cassetete e na arma em punho que os sujeitos oprimidos serão intimidados, e tudo isso revestido sob o símbolo da democracia, argumento que será utilizado pelos PMs.

O segundo momento em que os dois personagens vivenciarão na pele a ausência de democracia e de ocupação do espaço público é quando, ao irem andar de skate em uma calçada utilizada por eles desde jovens em seu bairro , esta calçada estará “privatizada” por uma nova pizzaria. Neste momento a figura dos policiais volta à cena, porém, como seguranças privados da pizzaria. Estabelece-se então um dialogo entre os seguranças, os jovens e a questão da calçada ser um espaço público. Obviamente prevalece a vontade do empresário e a violência dos seguranças. Como resolver tal questão? Estes jovens skatistas, grafiteiros, com dread na cabeça teriam apoio da comunidade? Aí entra em cena o Teatro Fórum e cada público irá oferecer a sua solução frente a tal aviltamento de direito.

Os dois jovens representados são skatistas, mas podemos tratá-los como objetos simbólicos para representar os sujeitos oprimidos em uma cidade como São Paulo, onde o que prevalece é a lógica do mercado e da opressão. Podemos trocar estes jovens pelos bailes funk, que hoje estão sendo perseguidos pela polícia, pelas travestis que fazem ponto por vivenciarem uma realidade que lhes nega oportunidade de estudo e trabalho, ou também podemos falar dos jovens homossexuais, que são perseguidos, espancados e assassinados até mesmo em seus pontos de convivência, os famigerados guetos.

Duas questões são colocadas pela peça: a não punição dos militares da ditadura e a exclusão de sujeitos que não correspondem aos códigos normativos de uma sociedade que só reconhece a democracia frente ao dinheiro e a aparência do sujeito. Com um humor ácido e ferrenho, a peça “Torquemada17Balas” causa risos não por ser engraçada, mas sim por jogar em nossa cara a falha democracia em que vivemos e que, assim como durante o período da ditadura se matavam aqueles que ousavam levantar a voz contra o sistema repressor, hoje se mata aqueles que ousam  questionar um sistema que se vende como “democrático”, mas que no fundo é tão ou mais repressor do que o regime militar, pois, antes tínhamos a figura do Estado Soberano Militar e o povo que deveria se calar, hoje, a partir da indústria da cultura e seus aparelhos ideológicos, vivenciamos uma ditadura diluída, sorridente e disfarçada de democracia.

“Torquemada17Balas” fica em cartaz até o dia 10 de abril. A peça é uma parceria entre entra a ONG Mudança de Cena e do Grupo de Teatro do Oprimido da Garoa.

Serviço:
“Torquemada – 17 Balas”
Apresentações: 31/03 e 1,2,3,7,8,9 e 10/04.
Segundas e terças às 20h, sábados e domingos, às 17h.
Local: Teatro Coletivo – Rua Consolação, 1623 –
Telefone:             (11) 3255-5922     
Entrada gratuita
Classificação: Maiores de 12 anos
Ingressos podem ser retirados com 1 hora de antecedência.

Informações: http://www.torquemada.art.br

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