Nunca soube lidar com perdas. É uma das minhas grandes limitações. Em especial a perda da morte.
Quando eu ouço a notícia de que alguém que conheço morreu, demoro de acreditar. Sempre tenho a impressão de que quem me informou está enganado, que daqui a pouco vou receber uma ligação dizendo que tudo não passou de um grande susto. É a minha negação.
O último amigo que perdi, só acreditei de verdade quando o caixão estava sendo baixado na cova. Só naquele momento eu aceitei que era ele, que fora covardemente assassinado por ladrões que levaram seu carro.
A morte sempre me faz pensar na vida. Paradoxal? Talvez nem tanto. Creio que evitamos o assunto “morte” exatamente porque ela nos faz lembrar que não somos imortais, ela nos confronta com a nossa vida. Lembrar que eu também vou morrer me tira da zona de conforto.
– O que EU estou fazendo da minha vida?
Esta semana faleceu a Helô, que trabalhava conosco na Super Dyke. Ela morreu na rua e por pouco não foi enterrada como indigente. Ficou 40 minutos esperando a ambulância, que só chegou quando já era tarde.
40 minutos agonizando de falta de ar. A mim falta o ar só de imaginar o sofrimento. Que triste isso, meu Deus, que triste morrer assim.
– Helô, você está bem? Melhorou? – Foram estas as minhas últimas palavras para ela.
– Meu oxigênio está no carro, isso responde a sua pergunta? – Foram as últimas palavras dela para mim.
Ninguém sabia que ela estava tão gravemente doente. Poderíamos ter ajudado ou procurado alguém que pudesse ajudá-la. Mas ela se omitiu. Será que se entregou? Por que não disse? O que faz uma pessoa esconder uma doença grave?
Perguntas sem resposta que fazem companhia para o vazio que a pessoa deixa.
Ela sempre fez questão de “levantar minha moral”, levando os elogios que ouvia na pista até mim. E sempre me disse onde ainda posso melhorar.
O que eu fiz de bom por ela? – me pergunto agora.
Aliás, o que eu ando fazendo de bom para as pessoas?