O sitcom “Toma Lá, Dá Cá”, exibido nas noites de terça-feira na Globo, ganhou nos últimos episódios uma personagem lésbica interpretada pela atriz Norma Bengell, 72. De visual masculinizado, Daisy Coturno dá em cima das outras mulheres do elenco descaradamente, utilizando frases que até mesmo num programa de humor podem parecer ofensivas.
Zeladora do Edifício Jambalaya, onde os protagonistas do seriado vivem seus quiprocós, Daisy já tinha feito pequenas aparições, mas a pedido do autor, Miguel Falabella, passou a ter destaque no programa. Personagens como Daisy não são exatamente uma novidade na TV brasileira, mas esta talvez seja a primeira vez que uma lésbica assumidíssima polariza as atenções do público.
Em entrevista ao jornal “O Dia”, Norma Bengell comentou sobre seu papel em “Toma Lá, Dá Cá”, inspirado livremente numa contra-regra que a atriz e diretora conheceu em São Paulo. “Estou aprendendo muito. É um exercício de memória e pique. Sou muito exigente. Eu estudo demais o texto, decoro, gosto de chegar com tudo em cima”, disse. “Todos nós temos um lado masculino e outro feminino. Eu busco uma voz mais grossa… um trejeito. As pessoas estão adorando”, acrescentou.
E é verdade. Algumas lésbicas concordam que a personagem de Bengell não chega exatamente a incomodar. “Eu sinceramente acho o seriado engraçado”, opina a cientista social e colunista do Dykerama.com Elisa Freitas, que analisa ainda o outro lado da moeda. “Com relação à personagem, acho complicado estereotipar tanto sem contextualizar, problematizar. Se hoje eu chamo, de forma bem-humorada, minhas amigas de ‘sapatão’, é porque já pensei e problematizei muita coisa”, diz. “Infelizmente, no caso do seriado, pode acontecer de reforçar um estereótipo sem a menor intenção de desconstruir preconceitos.”
Para a militante do movimento lésbico Irina Bacci, Daisy representa um conceito de lésbica que, no passado, era popularmente conhecida como “fanchona”. “Ela se caracteriza como um homem e sinto que vivencia o papel como um homem, apesar de ser mulher. O programa explora o humor a partir de estigmas criados pela sociedade”, acredita.
Apesar de ser “politicamente incorreta”, na opinião de Irina, a personagem tem merecido destaque no programa. “Programas de humor fazem comédia em cima do que é estigmatizado, assim como acontece com a maioria dos personagens do seriado”, defende.
Para quem ainda não era nascido, Norma Bengell foi uma das musas do Cinema Novo. No filme “Os Cafajestes”, de 1962, protagonizou o primeiro nu frontal do cinema nacional. Mais recentemente, em 1996, foi acusada de lavagem de dinheiro através do orçamento do filme “O Guarani”, dirigido por ela.
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