Segundo as narrativas bíblicas, Jesus teria dito aos seus apóstolos "… doravante, serão pescadores de homens". Mas não confunda, querida, ele não estava querendo dizer que os apóstolos montariam uma agência de modelos ou sairiam pegando todo mundo… O que histórica e teologicamente se interpreta desta passagem é que os apóstolos sairiam por aí afora mostrando a novidade do momento, ou o próprio evangelho mesmo, que significa exatamente isso: boa nova, novidade ou simplesmente o baphão do momento.
Antes de prosseguir com meu artigo, quero fazer algumas considerações:
1. Apesar de ter crescido em um lar católico e ter feito tudo como manda o babado (batismo, primeira comunhão, confissão e crisma), hoje, não sigo nenhuma religião ou denominação. Basta-me crer em um ser divino e poderoso o suficiente pra criar todo este enredo maravilhoso que é a vida;
2. Diferente do que algumas pessoas podem pensar, eu não tenho absolutamente nada contra as religiões (nada a favor também, diga-se de passagem). No entanto, tenho um profundo respeito e até admiração por algumas delas por conta de seu teor cultural e histórico. Afinal, se querem olhar para o que restou da Roma Antiga, basta olhar para a Igreja Católica: uma verdadeira relíquia viva do que foi um dos maiores impérios do planeta;
3. Ao contrário do que se ouve por aí – é preciso fazer este lembrete – a Bíblia não contém palavras de Deus, não foram escritas ou ditadas por Ele. Qualquer teólogo sabe disso, ou melhor, qualquer pessoa com o mínimo de entendimento sabe que as palavras escritas ali são de pessoas relatando sua experiência com a divindade. São palavras que são, talvez, inspiradas em Deus. Mas jamais se trata de um fax, uma carta, um e-mail ou algo do tipo…
Fiz questão de fazer tais observações pois, geralmente, ou melhor dizendo, todas as vezes que líderes ou fanáticos religiosos lançam mão das escrituras da Bíblia para condenar a homossexualidade, eles geralmente usam como expediente, mais do que eficiente, dizer que homossexuais são ateus ou praticantes de religiões satânicas, como as religiões afrodescendentes, ou então, dizer que gays são contra os cristãos (estão aí as igrejas cristãs inclusivas ou mesmo igrejas como a Anglicana e outras que ordenam ministros homossexuais, aceitam e convivem muito bem com a homossexualidade) ou então alegam que a Bíblia é expressão do próprio Deus, o que, como já disse, não é verdade.
Mas o que seria pescar homens, então?
Claro que a Bíblia não é um livro racional, ao contrário, é um livro de fé. Mas é claro, também, que em seu interior existem orientações interessantes, conselhos, palavras edificantes… Como também existe o contrário. E tudo piora ou melhora, de acordo com a interpretação que se dá. Infelizmente, o que mais tenho visto são as interpretações literais dos textos bíblicos para se condenar uma prática normal e natural, uma variação da sexualidade humana. Aliás, a Bíblia, desde a Antiguidade e passando por toda a Idade Média e Moderna, chegando à Idade Contemporânea, sempre foi utilizada para abominar o sexo (mesmo o heterossexual), afinal, prazer é sinônimo de pecado.
Pescar homens e levar a mensagem da Bíblia tem muito mais haver com respeito e fraternidade do que com uma prática religiosa alienada que leva as pessoas a acreditarem que só seguindo tal denominação, ou só sendo fiel de tal líder religioso é que se encontrará a salvação.
O que me intriga é que, cristãos, por exemplo, dizem que Jesus (com sua morte) pagou todos os nossos pecados. Então, de que salvação estamos falando exatamente? E aí eles alegam que a religião (termo do grego que significa religar) é o caminho para conectar o ser humano à Deus. Mas em que momento fomos desconectados que precisamos ser religados?
É claro que aí não faltarão discursos (ratificados com trechos bíblicos ou não) para justificar a necessidade das religiões, dos ministros da fé e de uma conduta moral e cívica padronizada através de ensinamentos religiosos…
Pescar homens, levar o Evangelho e mostrar fé racional e palpável não é interessante pra quase ninguém…
Tá dado o recado…
Beijo, beijo, beijo… Fui…
in Cultura