Você esconde sua pinta ou é daqueles que não se preocupa e quanto mais puder se exibir melhor? Se você fica com a primeira opção, saiba que até em foto é possível descobrir se uma pessoa é gay ou não.
Pelo menos é o que mostrou um estudo do periódico científico "PLoS One", que revelou que a maioria das pessoas consegue identificar inconscientemente quem é gay ou lésbica através de uma fotografia.
Na pesquisa, 129 estudantes analisaram 96 fotos aleatórias. Em relação às mulheres, o grau de acerto foi de 65%. Na hora de identificar os homens gays, o número de acertos caiu, mas ainda assim foi alto, chegando a 57%. As fotos não traziam qualquer identificação que pudesse remeter ao universo LGBT.
Seria então um "gaydar" (radar gay) apurado? "É importante considerar que a sexualidade humana é muito complexa e cheia de possibilidades, os rótulos são bem artificiais. Vale lembrar que certas pesquisas científicas costumam trazer conclusões baseadas em dados questionáveis. Veja, 57% dos estudantes identificaram os homens gays. Será que esse número é suficiente para concluir que podemos identificar a sexualidade de alguém?", questiona o psicólogo clínico Vitor Sampaio.
Por conviver em guetos, um gay sabe onde o calo aperta e isso ajuda a reconhecer outro. "Se você é gay e convive com gays, com certeza sabe só de olhar quem é e quem não", conta Pedro Lucas, de 20 anos, estudante de comunicação. "A princípio, você repara na roupa, no modo como se veste, isso diz muito. Depois, basta observar, muito difícil encontrar um gay que não tenha pelo menos um trejeito feminino", acredita o estudante.
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Segundo o psicólogo, o estereótipo de que todo gay tem trejeito feminino vem sendo quebrado constantemente. Uma boa parte da população tem o pré-conceito de que um gay terá características femininas e de que lésbicas terão características masculinas, mas isso nem sempre acontece.
"Pensar por aí é a mesma coisa que pensar que todo hétero é necessariamente rude, grosseiro, um homem das cavernas. Apesar da correlação entre o jeito de ser e a orientação sexual de alguém, uma coisa não é necessariamente acompanhada da outra. Em resumo: o jeito rude e o trejeito feminino podem estar presentes como modos de ser de alguém, independente da orientação sexual", explica Sampaio.
Para Tiago Santos, 29, auxiliar administrativo e heterossexual, hoje em dia "não dá pra dizer com 100% de certeza se um cara é gay ou uma garota é lésbica, a não ser que ele seja muito efeminado e ela muito 'masculina'".
Gabriela S., que trabalha com marketing e também é heterossexual, tem uma opinião diferente deTiago. Para ela, é fácil reconhecer um gato na pista que talvez não esteja tão interessado nela, e sim, em seu amigo. "Em baladas, o jeito de dançar é o principal. Já os mais quietinhos não ficam um minuto sem arrumar ou olhar o cabelo no espelho, ainda mais em locais bastante espelhados", comenta.
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Ainda na questão do "decifra-me ou te devoro", há gays que fazem de tudo para não demonstrar pinta alguma. Famosos por seus "carões", querem mesmo passar despercebidos ou, em algumas situações, não se sentem à vontade em viver sua sexualidade em determinados ambientes.
Um exemplo é no trabalho, onde o cenário vem mudando, mas ainda existem casos de quem já foi demitido pelo simples fato de ser gay.
"Há vários fatores que podem levar um homossexual a esconder sua sexualidade de outras pessoas. O grande problema é o intenso sofrimento que isso gera: 'sou desse jeito, mas não posso ser assim. Esse 'não posso ser' pode vir dos pais, dos amigos, dos colegas de trabalho, ou dele mesmo em não se aceitar", afirma o psicólogo.
É por isso que o famoso gaydar nunca sai de moda. Sempre é possível abrir a porta do armário e, às vezes, nem é preciso muito esforço. "Se você é gay, não tem muito o que esconder, de uma maneira ou de outra vão sacar. Com pinta ou sem pinta, pelo menos uma vez na vida a tradicional dúvida vai surgir: será que ele é?", brinca Pedro.