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Polêmica sobre proibição do cigarro chega a clubes gays brasileiros

No fumacê, fumacê, quero dançar com você!

Nem os melhores frascos, vindos de Paris, são capazes de evitar o cheiro de cigarro que se impregna nas roupas após uma noite de balada. Sim, eu sei. Você não fuma. E o que isso importa?

Em São Paulo, a resposta parece ser bem clara: nada. "Ninguém se importa com quem não fuma. Existem campanhas para fumantes largarem o vício, mas não tomam medidas quanto aos riscos do fumo passivo", reclama a estudante de engenharia Érica Martins, 21.

A estudante se refere ao fato de que muitos estabelecimentos em São Paulo, como as casas noturnas, bares e até restaurantes não possuírem uma área exclusiva para fumantes. Em baladas, além do som, o que se destaca é o fumacê do cigarro que gera uma enorme nuvem sobre a pista. "É horrível. Quem não fuma, fica a mercê da fumaça dos outros," diz a jovem.

Recentemente, pesquisa realizada pelo INCA (Instituto Nacional de Câncer) e Iesc/UFRJ (Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro) constatou que, por dia, ao menos sete brasileiros não fumantes morrem de doenças relacionadas ao fumo.

Os números que fazem parte do estudo "Mortalidade Atribuível ao Tabagismo Passivo na População Urbana do Brasil", levam em consideração habitantes de áreas urbanas, com mais de 35 anos e que moram com um fumante. Tal pesquisa fomenta novamente a discussão da necessidade de uma legislação mais rígida quanto ao fumo em locais fechados.

No Rio de Janeiro, por exemplo, entrou em vigor o decreto (n.º 29284) da Prefeitura da cidade que "proíbe o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos, ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em recinto coletivo fechado, seja público ou privado".

O decreto designa como locais coletivos fechados "todos os recintos destinados à utilização simultânea de várias pessoas, cercados ou de qualquer forma delimitados por teto e paredes, divisórias ou qualquer outra barreira física, vazadas ou não, com ou sem janelas, mesmo abertas."

Em Recife, desde o dia 12 de fevereiro, a Procuradoria Regional do Trabalho fez valer a Lei Federal (9.294/96), proibindo o fumo em bares, restaurantes e motéis, a não ser que tenham áreas específicas com circulação de ar.

"Tivemos que comprar o terreno ao lado para ampliar a área livre e cumprir a lei do fumódromo," conta Maria do Céu, proprietária da boate Metrópole, em Recife, que adaptou seu estabelecimento. Hoje, a casa possui duas áreas livres.

Segundo a psiquiatra e diretora do CRATOD (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas) Luizemir Lago, "a Lei 9.294/96 é Federal e existe desde 1996. No entanto, não há em São Paulo uma fiscalização efetiva para que seja cumprida."

Luizemir alerta que "jamais se deve fumar em casas noturnas, baladas. Estes ambientes não são devidamente arejados. Muito menos na pista, onde a fumaça é totalmente prejudicial e pode alterar a capacidade de respiração".

Para a promoter de festas, Juliana L., 22, fumante desde os 16 anos, fumar em ambientes fechados é falta de respeito com outros, mas confessa que "muitas vezes, não temos nosso espaço, então…".

Sua amiga, a estudante de administração, Mayara B., 20, quando sai leva "o colírio na bolsa". "Eu adoro dançar, não saio da pista. Mas meus olhos ardem com a fumaça, fora a minha rinite que sempre ataca! Volto pra casa com um cheiro horrível", conta.

O fedor nas roupas, segundo Luizemir, não deve ser a principal preocupação dos não fumantes. "A curto prazo, o fumante passivo está sujeito a doenças como sinusite, rinite e, até, asma. Já a longo prazo, doenças mais graves como câncer de pulmão."

A existência de fumódromos deixa a desejar em muitas casas noturnas. De acordo com a assessoria da The Week, "todo o ambiente da casa é livre para o consumo de cigarro, mas a área externa contribui muito para reduzir o consumo na pista."

O famoso jardim da casa na Zona Oeste paulistana, "acaba se configurando como um fumódromo", diz a assessoria. "Se tornou uma atitude natural dos clientes se dirigirem a área externa para fumar e, assim, causar menos incômodo aos amigos que não fumam".

Entre os motivos alegados para a inexistência dos fumódromos, a falta de espaço é um dos mais apontados. A famosa boate Blue Space, que tem sede em São Paulo e filial em Brasília, só possui fumódromo na casa localizada na Capital Federal, devido ao vasto espaço que a boate possui. Já na terra da garoa, a assessoria afirma possuir "um ótimo sistema de exaustão espalhado por todos os ambientes."

Para Luizemir Lago, os que mais sofrem com o cigarro em ambientes fechados são os próprios funcionários da casa: barman, hosts e faxineiros. "Eles estão expostos. Por isso, inalam uma grande carga de substâncias tóxicas, o que provoca dores de cabeça e dificuldade na respiração"

Além de problemas à saúde, fumar pode causar também danos ao meio ambiente. Os filtros de cigarro são poluentes e uma simples "bituca" leva cerca de 2 anos para se decompor no meio ambiente**.

* Matéria originalmente publicada na edição #16 da revista A Capa – Setembro/2008
** Dados: Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana)

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