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Política do Arco-Íris: A escalada conservadora

Os fatos se sucedem com impressionante velocidade. Há poucos dias, assistimos propaganda política do Partido Social Cristão(PSC) . Nela, somos informados que "família" é definida como a soma de "amor + homem + mulher". Ou seja: um partido político que tem já em seu nome uma religião  – e não uma ideologia – usa boa parte do  tempo de rádio e TV que lhe cabe para atacar milhões de famílias que não se enquadram no modelo ideal defendido pela sigla. Enquanto isso, crescem os assassinatos de LGBT e os ataques violentos em plena região da Avenida Paulista.

"Humoristas"  e colunistas  badalados  por certa mídia se especializam em criar piadas ofensivas, racistas, homofóbicas, sexistas. Se orgulham em desprezar solenemente a luta histórica das mulheres, negro/as, judeus, gays e  pessoas com deficiência contra o estigma e a discriminação. Às vezes, são tão absurdos que são tirados do ar, como o tal Rafinha Bastos.  São a face mais visível de um crescente sentimento  neoconservador (neocon),  presente em amplos setores das classes médias, "intelectualizados", conectados,cool. São os que  deitam e rolam nas redes sociais – como vimos no episódio do câncer de Lula e na campanha preconceituosa que defendia que ele fosse se tratar  no SUS.

Ao mesmo tempo, temos o fundamentalismo cristão, sobretudo evangélico. Cada dia mais forte, os neopentecostais querem construir um "Brasil cristão". Confundem religião com política, deliberadamente.  Tem um projeto de poder. Misturam templo com parlamento. Usam rádios e TVs para propagar não apenas opiniões teológicas, mas, sobretudo, posições político-ideológicas. Uma agenda conservadora, lastreada no repúdio aos direitos LGBT e nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Na política, são fisiológicos, tendem a apoiar qualquer  governo – daí sua força. Estão concentrados em siglas como o PR, o PRB, o PTB, o PMDB,  o DEM. Mas aumentam sua força no PSDB e mesmo no PT e PCdoB.

De outro lado, cresce a repressão estatal aos movimentos sociais e o apoio desses mesmos setores das "classes médias" a essa política autoritária. São Paulo é  o laboratório e vanguarda dessa nova política do "prendo e arrebento". A Polícia Militar na USP seria impensável há poucos anos atrás. A prisão de estudantes em campi universitários porque portavam maconha seria absolutamente improvável, em qualquer lugar do Brasil, em qualquer tempo. Desocupação de reitoria com força de choque da PM  não seria  trivial  nem na ditadura. A maioria da mídia apoiou essa escalada repressiva.

Ao invés de abrirmos um debate nacional sobre uma nova política de drogas – realista, não hipócrita, fora do escopo do proibicionismo – como corajosamente propôs até uma grande liderança conservadora, como FHC, aplaudimos ações repressivas das polícias, que nada mais fazem do que enxugar gelo e "jogar para a galera". Alimenta-se o pânico moral com relação ao crack, por exemplo. Tudo para justificar mais polícia, mais repressão. Ou a patologização  definitiva de um complexo problema social.

É nesse cenário, de escalada do neoconservadorismo e do fundamentalismo cristão, que devemos situar a luta pelos direitos LGBT. Não se trata de um tema singular, singelo, específico. Nossa causa é parte de uma agenda progressista, laica, que amplia as liberdades e a democracia.  E que carece, portanto, de se conectar com a luta das mulheres pela legalização do aborto, à luta do movimento negro por reconhecimento, à luta da juventude pela legalização da maconha, à batalha do movimento de direitos humanos pelo direito à memória e à verdade, à luta de diversos setores pela garantia da liberdade religiosa e da  laicidade do Estado – entre tantas outras.

O movimento LGBT não conseguirá vencer  os homofóbicos profissionais como Silas Malafaia –  que incita o ódio em cadeia nacional toda semana e agora ameaça Toni Reis, presidente da ABGLT – se não nos articularmos firmemente  em uma ampla coalizão.

Progressistas de todas as tribos, uni-vos.

Reconhecer e combater a escalada da intolerância e do conservadorismo é urgente. Antes que seja tarde demais.
 
*Julian Rodrigues é ativista LGBT da Aliança Paulista e da ABGLT e membro do Conselho Nacional LGBT.

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