Seguranças abordaram primeiro pedindo para eles colocarem camisa e depois para se retirarem sob argumento de "estarem aparecendo demais"
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Casados há sete anos e militantes LGBT's, David Andrade e Júlio Valcanaia protagonizaram um episódio triste para o começo de um novo ano.
Eles foram retirados da festa de Réveillon que acontecia no Eco Hotel do Lago por seguranças, sob o argumento de "estarem aparecendo demais".
O casal foi chamado atenção primeiro por ter retirado a camisa. Depois, em vídeos gravados, já aparecem cercados pela equipe de segurança sendo levados para fora mesmo tendo atendido a ordem de vestir as roupas.
"Chegou um determinado horário que o salão estava muito cheio e o ar não estava conseguindo dar conta junto das luzes do palco. Nós tiramos a camiseta e nisso um grupo de cinco, seis pessoas também", conta o supervisor comercial David Andrade, de 29 anos.
Eles ficaram por volta de 2h, 2h30 sem camisa, curtindo a festa e dançando em frente ao palco. "Ninguém reclamou. As meninas que estavam próximas da gente vieram dançar, dançamos muito. Aí vieram uns três seguranças pedindo para a gente colocar", narra David.
O supervisor contestou e perguntou se havia escrito no regulamento ou no alvará que exigisse. "Aí me falaram que não tinha nada escrito, que era o dono do evento que estava dando a ordem para a gente colocar", conta.
Depois de atenderem ao pedido, o casal ainda calcula ter ficado entre 5 e 10 minutos dançando. "Depois que eu coloquei, nos abraçamos, demos um beijo. Foi carinho normal, nada de língua", descreve. Em seguida, os seguranças apareceram de novo, desta vez para retirá-los da festa.
"O dono mandou tirar porque vocês estão aparecendo demais. Foi isso que ele disse. Eu já tinha colocado a camisa, não estava atrapalhando ninguém. Nós não éramos convidados, nós pagamos para estar lá".
Segundo David, juntaram de oito a 10 seguranças ao redor do casal. Nas imagens, todos parecem tranquilos e dialogando. "Porque nós falamos mostramos a carteirinha da OAB do Júlio, que ele é advogado e nós conhecemos de lei", justifica David.
A reclamação, na opinião do casal, poderia vir dos clientes. "A festa estava marcada para acabar 8h da manhã, era open de bebida e comida também. Eu poderia ter reclamado que a bebida estava quente, que acabou, mas não. A gente só estava querendo curtir e o dono mandou retirar porque a gente estava 'aparecendo demais'"? questiona David.
O casal se sentiu humilhado e os seguranças até pediram desculpas. "Todo mundo viu a gente ser retirado da festa. Para outras pessoas que estavam sem camisa, eles fizeram vista grossa. De casal gay sem camisa era só a gente mesmo", completa.
No domingo, o caso ganhou repercussão nas redes sociais e muitas mensagens de apoio chegaram. "Você percebe que grande parte da população já está mais aberta para conviver com a diferença".
E se fossem os dois héteros sem camisa? Será que haveria a mesma postura? David acredita que não. "Com certeza não. Mandaram a gente colocar a camiseta e nós cumprimos, depois eles nos retiraram. Outras pessoas ainda estavam sem e nada aconteceu com eles. Foi puro preconceito".
Júlio e David vão registrar boletim de ocorrência e ainda entrar com ação na Justiça. "Vamos fazer denúncia para o Centro de referência contra a homofobia, vamos até Brasília se der para chegar, para que outras pessoas tenham coragem de denunciar. Menos que não dê em nada, nós vamos fazer valer nossos direitos", frisa David.
O casal deixa claro que dinheiro nenhum paga o que eles passaram. "Não paga a sua dignidade, a sua reputação. Mas vamos fazer valer nosso direito como cidadãos", completa.
Outro lado – O proprietário do Eco Hotel do Lago, Robson Furlan, negou que tenha usado do argumento "aparecendo demais". "Isso aí não procede. Quando entrei no salão tinham quatro pessoas sem camisa e apesar de ser uma festa de balada, é familiar, então solicitei para as pessoas colocarem", disse.
Robson alegou que houve o questionamento por David quanto à obrigatoriedade de por a camisa. E que ele resistiu. "É um absurdo eles se comportarem assim num evento que não é rave, não é um open air. Eu falei que senão colocassem, os seguranças poderiam retirá-los. Um colocou primeiro e o outro só depois. Era tarde demais, eles já tinham causado transtorno de 10 seguranças em volta deles", narra.
O proprietário também nega que tenha sido homofobia. "Não tem nada a ver com homofobia. Eu nem sabia que eles eram gays. Eu tenho amigos gays, funcionários gays. Eles usam deste pretexto para aparecer e causar e isso acontecer. Eles só foram retirados porque não tiveram conduta adequada, até então eu nem sabia que eles eram namorados e isso é indiferente para mim", argumenta.
Robson ainda frisou que ele quem vai tomar as medidas contra o casal por se sentir "caluniado".
Fonte: Campo Grande News