Experiências duras e traumas moldam a forma como homens gays mais velhos veem o mundo – um diálogo essencial entre gerações.
Em um relato sincero que viralizou nas redes sociais, um homem gay mais velho de Palm Springs, Califórnia, resolveu explicar para a geração mais jovem por que tantos de seus pares aparentam estar “sempre tão irritados”. A resposta, como ele mesmo contou, está enraizada em uma história dolorosa, cheia de perdas, injustiças e traumas que marcaram profundamente a comunidade LGBTQIA+ ao longo das últimas décadas.
As cicatrizes do passado que o jovem não conhece
Scott Abel, que compartilhou seu depoimento, disse que jovens gays têm feito perguntas honestas e cheias de curiosidade, mas que refletem uma grande distância temporal e cultural. Um deles, um rapaz de 27 anos, perguntou diretamente: “Por que vocês, homens gays mais velhos, estão sempre tão bravos?”
Abel explica que essa “raiva” é, na verdade, uma mistura de nervosismo, vigilância constante e uma quase sensação de urgência diante das ameaças políticas e sociais atuais. Ele relembra eventos traumáticos, como quando, nos primeiros anos da epidemia de HIV, equipes médicas chegaram a abandonar pacientes por medo do contágio, um ato que ainda hoje provoca indignação e dor profunda.
Perdas irreparáveis e o silêncio que marcou uma geração
Além do abandono por parte do sistema de saúde, muitos homens gays perderam amigos, parceiros e famílias escolhidas inteiras para a Aids. Foram demitidos, expulsos de suas casas e deixados à margem da sociedade, muitas vezes sem sequer ter a chance de um funeral digno. Abel lembra que não foi apenas uma crise de saúde pública, mas um fracasso moral acompanhado de um silêncio doloroso.
Esse passado marca a forma como homens gays mais velhos encaram discussões políticas, especialmente quando envolvem direitos civis, discursos conservadores e temas como “valores familiares”. Eles carregam essa memória e não podem simplesmente esquecer o que viveram e perderam.
Um convite ao diálogo e à escuta intergeracional
Abel enfatiza que seu objetivo não é despertar pena ou admiração, mas sim criar pontes entre gerações. Ele convoca os jovens a continuarem perguntando e ouvindo, para que possam compreender o que está em jogo e valorizar as conquistas e a luta herdada.
Nos comentários à sua postagem, outros homens gays mais velhos compartilharam relatos de cuidados negados, da necessidade de documentos legais para garantir direitos mínimos e da solidão enfrentada. Muitos concordam que o que parece raiva é, na verdade, uma frustração não resolvida, fruto do trauma histórico que ainda ecoa.
Entre a dor e a esperança: construindo pontes
A reação à postagem de Abel foi enorme, com milhares de compartilhamentos e comentários emocionados. Histórias que ficaram guardadas por anos finalmente foram compartilhadas, permitindo que mais pessoas entendam o peso do passado.
Para essa geração, ser um “daddy” não é sobre status, mas sobre ser uma ponte entre o que foi e o que está por vir, entre a dor da perda e a esperança do crescimento. Compartilhar essas histórias é um ato de resistência e de amor, para que as próximas gerações não precisem aprender tudo do zero e possam continuar avançando em um mundo mais justo e acolhedor.
Se você é um jovem gay, escute com atenção. A voz dos homens gays mais velhos carrega lições de sobrevivência, coragem e luta. E se você é um homem gay mais velho, saiba que sua história é um farol que ilumina o caminho para muitos que ainda estão por vir.