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Por que não deu certo?

Você se dedicava integralmente, planejava casamento, filhos e almoços de domingo com a família. No lugar dos sonhos realizados restou rancor, amargura, arrependimento, desilusão. E se questiona: Como eu pude ter me entregado tão intensamente a ela?
Dia e noite fiel, em seus sonhos e palavras. No coração, fiel; e também na vontade de um futuro juntas.

Ao término de tudo se procura desesperadamente por um único motivo que a tenha levado àquela degradação emocional e o que lhe restou foi a pergunta: Por quê? Procurar entender o porquê é cavar a própria cova.

É triste você amar alguém, confiar seus segredos e partilhar sonhos, cama, prato e planos. Antes ela era sua melhor amiga, companheira, cúmplice, amante, mulher. Hoje vocês passam na mesma rua e mudam de calçada de cabeça baixa e, se trocam olhares , são como farpas.

Aquela mesma pessoa, pouco tempo atrás, tinha sido teu íntimo. Alguém a quem você confessou, sem medo algum, sua alma. Confessou acreditando que seria para sempre, porque era a pessoa que você mais confiava. E agora o que sobra é a conveniência de culpar um dos lados para justificar a relação fracassada, a dor e o rancor.

Quem nunca viveu um grande amor que depois que terminou tudo ficou igual ao Soneto da Separação, de Vinícius de Moraes? E você segue por muito tempo com aquela sensação de impotência, raiva, vazio. Sentimentos que podiam ser jogados fora se você fizesse o simples exercício de se por no lugar do outro e, mesmo tendo sido traída, enganada, preterida (o que for), entendido que ela, igual a você, só quer ser feliz e fugir do sofrimento. Mesmo que escolha as piores formas para isso.

E, mesmo que de fato tenha sido ela quem errou, é bom lembrar que toda história tem, no mínimo, dois lados. Além disso, o que sentimos em relação ao outro nada mais é do que a projeção do que temos dentro de nós mesmas. Vale à pena tanta amargura no coração ou culpar uma pessoa por nossos insucessos?

Durante esse período de incógnitas, do momento da queda e de todo um processo demorado e doloroso de se reerguer, perdemos muito tempo procurando culpados, achamos que nunca mais vamos amar, que o mundo não vale o que sonhamos e que amor é coisa pra livro de poeta e novela de Manoel Carlos.

Um belo dia você vai superando e deixando para lá o que antes te incomodava. Você acorda, vai para uma festa e dá de cara com sua ex-namorada com outra namorada e não sente absolutamente nada. A impermanência pode ser, muitas vezes, uma bênção!

Você percebe que todo aquele sentimento ruim passou, que você está bem, feliz (com outra pessoa ou não), e que quer mais é que ela seja feliz também, mesmo que ela, talvez, ainda esteja naquela fase da pequinês humana onde procura culpar e odiar você.

Aí nos vemos numa outra busca: por nós mesmas. O ser humano está sempre buscando a necessidade de um abrigo em alguém, de um outro novo começo, mas o mais importante é buscar dentro de si.

Com um novo amor ou não estaremos sempre lidando com relações e isso quer dizer que é a junção de dois universos que por mais que se pareçam não deixam de ser completamente diferentes.

É preciso jogo de cintura, cuidado, humildade, benevolência e autocontrole para saber lidar com um outro mundo e espaço. É necessário compreender que não se trata de duas pessoas criarem um universo paralelo, tampouco fundir dois universos distintos e sim uma intersecção entre duas bagagens, sonhos, vivencias e aspirações.

Quando entendemos que todos somos falhos, desejamos fugir do sofrimento e encontrar a felicidade, fica mais fácil de se relacionar. Automaticamente vamos tomando refúgio no respeito e na liberdade – que é fundamental dentro de um relacionamento – e assim as coisas vão fluindo mais tranquilamente.

Não devemos esperar do outro a atitude para mudar o mundo, devemos mudar o mundo a partir de nós mesmas, lá no fundo, cada uma individualmente. Quando você passa a se relacionar com você de forma diferente, o mundo muda do lado de fora.

Aprenderemos então que aprender a amar é uma grande escada que não sabemos quando acaba, mas sabemos que os degraus muitas vezes nos farão tropeçar, ora pela ânsia de subir, ora pelo medo, ora pelos tropeços tantas vezes ingênuos.

Fugir da escada da vida é cometer suicídio. Desacreditar do amor ou negar a sua imperfeição é deixar de viver.

Meninas, por favor, nunca olhem para trás da escada e façam do que parecia infinito um mero degrau. Não desrespeitem o que viveram, não neguem quem amaram, apenas respirem fundo, olhem pra frente e sigam querendo o bem daquela pessoa.

O que foi um dia amor nunca pode deixar de ser. Porque amor e vida se confundem e porque o amor se transforma. Somos o que vivemos. Uma caneta nanquim, um desenho composto por vários traços. Nunca um único.

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A segunda QUASE transa