Eu olho as bancas de revistas e fico sempre surpresa. Apesar dessa crise que nos ronda, de um mercado em teoria restrito (apenas 7% da população brasileira consome revistas), dos tantos chororôs e reclamações sobre a concorrência desleal da internet, vejo centenas de capas coloridas e lindamente produzidas ali expostas.
Só que, olhando mais de perto, parece que são apenas cinco ou seis revistas diferentes, com várias dúzias de clones. Tem a de moda feminina e umas vinte cópias. A de automóveis, a de decoração, a de adolescentes (hetero), com três ou quatro imitações cada. As concorrentes usuais de notícias semanais, com assuntos de capa às vezes idênticos. Tem até as revistas gays que mudam quase que só no título, com bofinhos parecidos fazendo a mesma cara de “sou gostoso” na capa.
Você pode achar que estou exagerando, mas veja se o princípio não é verdadeiro. Alguém lança (ou lançou faz vinte anos) uma revista de postura e público definidos, e as outras editoras só copiam. Esportes, viagens, artesanato, sexo, matéria de vestibular: parece que é uma revista só publicada com vários nomes por diferentes editoras.
Aí eu me pergunto: o que passa pela cabeça do editor que prefere fazer a quinta cópia de uma revista super conhecida a arriscar algo de novo? Por que uma mulher que queira dicas de maquiagem para o outono encontra dezessete versões da mesma matéria, enquanto a que procura uma dica de um lugar romântico para ir com a namorada não encontra nenhuma?
Onde estão as descrições das festas L e das tribos que as frequentam? Nos milhares de páginas publicados, onde encontro dicas de viagens para casais de mulheres? Resenhas de livros de conteúdo homossexual? Entrevistas com lésbicas famosas? Opiniões sobre figuras polêmicas? Críticas sobre CDs com letras de amor que agradam às lésbicas? E tantas outras possibilidades de assuntos do interesse de mulheres homossexuais?
Por que o meio de comunicações impressas é tão repetitivo, tão pouco ousado, tão apavorado? Se você tem alguma ideia, diga aí nos comentários. Eu sempre me surpreendo, ainda mais agora, com a crise, a concorrência da internet e tantos outros fatores que não perdoam os empreendedores sem posicionamento e diferencial claro.
Eu conheço os argumentos tradicionais. Como sou uma lésbica assumida e pública faz um tempão, já fui chamada para participar de um monte de reuniões de criação de produtos para lésbicas, inclusive revistas. Sim, eu já fiquei várias horas dentro das redações de diferentes editoras, discutindo com donos e chefes de reportagem sobre publicações para lésbicas.
Falei com gente inteligente, engraçada, articulada. Conheci lésbicas lá dentro, que trabalham há anos com revistas e dominam o mercado de cima a baixo. Pareciam todos entusiasmados, prontos para se lançarem. E quantas revistas para lésbicas você já viu em bancas?
Houve já tentativas esparsas, porém conduzidas por amadoras. Com design, fotos, reportagens e edição profissional eu nunca vi nenhuma revista no Brasil dirigida a nós leitoras lésbicas. Os profissionais falam da dificuldade de conseguir anunciantes e de expor algo diferente nas bancas lotadas.
Certo, mas essa dificuldade não existe para a enésima clone da revista de decoração? Aliás, a vida não é mais difícil para a cópia sem tanto nome e personalidade quanto a irmã famosa do gênero? Não é por essa mesmice que tantas revistas estão naufragando?
O que eu sei é que dez porcento do público feminino é de homossexuais, mas há zero porcento de publicações para essa fatia. Adoraria se alguém me oferecesse algo diferente em que gastar o meu dinheiro. E você?
* Laura Bacellar é editora de livros, atualmente responsável, juntamente com um grupo de mulheres, pela primeira editora lésbica do Brasil, www.editoramalagueta.com.br.