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Preconceito e machismo nas mesas redondas sobre futebol na TV

Mais uma vez a TV brasileira afirma sua ignorância com sugestões homofóbicas e pejorativas. No programa “Bate-bola” desta última quinta-feira (dia 10), exibido pela Rede Record (aquela mesma, do bispo Edir Macedo), e comandado por Milton Neves e por uma série de “esclarecidos” e entusiastas do mundo futebolístico, mais uma vez sugestões de ordem homofóbica, vulgares e preconceituosas foram levadas ao público.

Toda a dinâmica do programa acontece em torno de um mesmo tema (sempre ligado ao mundo do futebol), no qual os convidados são levados a debater e a colocar suas opiniões, fato este que acontece sempre de modo, digamos, inflamado. Pois bem, neste dia 10 o tema abordado era a derrota do São Paulo, o que o desclassificou da Libertadores. Pessoas exaltadas debatiam o tema, em meio a um cenário especialmente planejado para a ocasião: ao centro podia-se perceber um caixão cor-de-rosa, sobre o qual estavam dispostas várias flores e, ao fundo, atrás dos apresentadores, estavam penduradas plumas em variações de rosa.

O debate corria, as pessoas “especializadas” colocavam suas opiniões, debatendo sempre a fraqueza, a falta de sintonia e a frouxidão que o São Paulo apresentava nas últimas campanhas. De repente, Milton Neves interrompe e diz que um dos debatedores havia trazido uma foto que mostrava o que era o São Paulo e que era um presente para este time; neste momento a câmera focaliza uma imagem do personagem Bambi, de Walt Disney, e Milton Neves pergunta ao convidado que animal era aquele; o convidado tenta desconversar, o apresentador se dirige à outro convidado, pergunta em tom de voz elevado e chacoteando que animal era aquele que simbolizava o São Paulo e durante várias vezes insiste para que alguém diga o nome daquele animal, juntamente com risadas e insinuações sobre o teor da imagem apresentada. “Vamos, diga que animal é este”, ele dizia.

Evidente que o convidado viu-se constrangido ao ser pressionado a dizer a palavra “veado”. Mas, pior que o constrangimento, foi o tom jocoso com que, em meio às risadas e insinuações, sugeriu-se que os jogadores do São Paulo eram “veados”.

Deplorável perceber que um programa de acesso à milhares de pessoas não se presta ao mínimo de um pensamento democrático e politicamente correto. Contudo, mais grave que isso, é perceber que temos um governo complacente, indiferente e ignorante às questões discriminatórias, situações estas que colocam pessoas asseguradas pela constituição por sua igualdade enquanto ser humano, à situações vexatórias através de insinuações homofóbicas.

Algo que simplesmente não deveria acontecer em nenhuma instância das atividades sociais, foi colocado aos olhos de milhares de expectadores. Mais uma vez, distribuída à milhões de pessoas, a imagem chacoteada dos gays, ou melhor, dos “veados” foi colocada como sinônimo de erro, de falta, de desajuste (naquele caso, diretamente ligada à péssima campanha do São Paulo no campeonato).

Sabemos do papel da mídia em nossa sociedade, e não cabe aqui entrar nesses méritos. Contudo, mesmo sabendo da grandiosidade de abrangência destes meios de informação, nosso governo fecha os olhos e, como um imbecil que não executa perfeitamente suas funções, permite que mensagens como estas sejam veiculadas.

Estupidez, imbecilidade, ou mesmo ignorância, não podemos saber ao certo o que levou aos “debatedores” a chamarem os jogadores de “veados”. O certo é que atitudes como estas não podem mais ser toleradas.

Após presenciar o programa, o que resta é indignação, revolta e ofensa. Indignado com a estupidez daqueles que detém o poder da informação e daqueles que deveriam controlá-los; revoltado em ver minha orientação sexual explorada como piada barata; ofendido enquanto ser humano.

*Colaboração do leitor para o site. As idéias aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do A Capa.

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