Fui no domingo ver "Brüno". O filme é tudo aquilo que imaginava, bem mais sarcástico, sem aquele apelo ingênuo de "Borat", o longa anterior de Sacha Baron Cohen.
Fiquei tão apaixonado pelo comediante que estou tentando convencer minha orientadora no mestrado para que ele seja objeto da minha dissertação. Baron Cohen é um dos poucos comediantes que ainda tem coragem de peitar nossa realidade (particularmente a norte-americana). Em "Brüno", coloca um espelho em frente à plateia, como se nos obrigasse a mergulhar fundo em nossas próprias hipocrisias.
Brüno é um dos personagens mais bem acabados de Baron Cohen. É convincente, deliciosamente perturbador, incrivelmente provocante. A piada, ou melhor dizendo, a sátira no filme, funciona como uma poderosa lente de aumento, que nos faz pensar e questionar. Sob o ponto de vista da narrativa, o filme é linear demais, mas não necessariamente previsível. As cenas funcionam melhor separadamente, como esquetes cômicas, o que de certa forma preserva a história do personagem, originado de um programa de televisão.
Não considero "Brüno" como algo "fake", apesar de saber que o filme faz uma espécie de simulacro, ou seja, mistura a todo o momento realidade e ficção. Antes, porém, entendo que sua figura afetada, caricata e teatral está carregada de significados. Brüno, o repórter austríaco über fashion, é, na verdade, um pedacinho de cada um de nós gays e, essencialmente, luta por aquilo que todos nós lutamos: visibilidade. Aspira à fama a qualquer preço, mas no fundo quer também passar sua mensagem.
Polêmico e politicamente incorreto, como a grande maioria de nós, chama a atenção para as mazelas sociais, para o falso moralismo, para a discriminação incoerente. Brüno choca porque precisa chocar. Pode até ser às vezes intragável, mas é uma daquelas pessoas que não passam despercebidas. Nesse sentido – por que não – poderia servir como autêntico e original porta-voz da comunidade gay. E quem não concordar com isso, que tal levar a vida um pouco menos a sério?