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Preconceito punk

A Verdurada é um festival de hardcore com cultura vegan que acontece em São Paulo. Sempre com shows de bandas da cena punk da cidade. O barato do evento é que ele é organizado de forma independente. Sem patrocínios e com muita boa vontade. A organização pede para as pessoas que vão aos shows não bebam, fumem ou usem drogas durante o festival.

Sou uma pessoa looser o suficiente para não ter comprado ingresso antecipado, chegado na porta do festival e ter dado com a cara na porta. A venda tinha acabado. Eu queria ver Dominatrix, que seria a penúltima banda a tocar. O jeito foi assistir ouvir o show do lado de fora mesmo. Me senti aquelas pessoas que vão até o autódromo de Interlagos apenas para ouvir o som dos carros porque não têm dinheiro para assistir a corrida.

Além das letras e melodias das músicas o que me faz gostar muito de Dominatrix é o ativismo de suas integrantes. A vocalista e guitarrista Elisa Gargiulo sempre fala coisas interessantes sobre feminismo, luta por direitos homossexuais, machismo e feminismo durante os shows. Mayra, baixista da antiga formação da banda, já contou situações em que foi perseguida por skins na Augusta. Uma pena que nem todo mundo escuta o que elas falam…

Ontem Elisa falou sobre violência doméstica contra as mulheres, antes de tocar “Filhas, Mães, Irmãs”, música nova, em português, da nova fase da banda. Lembrou o caso da menina de 15 anos, presa num presidiário masculino e estuprada diversas vezes até que alguém se desse conta do caso. Também falou sobre a importância de eventos como a Verdurada. De como o underground e essa cultura jovem pode influenciar o ativismo tradicional brasileiro. Deu uma aula de feminismo contemporâneo.

Elisa saiu do armário quando o Dominatrix tocou na Verdurada a última vez. Há 10 anos atrás, “numa época em que era muito difícil se assumir gay dentro da cena hardcore, não que hoje não seja, mas antes era pior”. Isso ela falou antes de tocar “Homophobia on a tray”, que obviamente fala sobre homofobia. Mas o ponto alto foi antes de tocar “Vai Lá” quando ela falou sobre os “roqueiros da Augusta”. Algumas pessoas falam que ela é “de direita” quando deixa claro que não gosta de piadas racistas, misóginas ou homofóbicas. E essa música ela fez para essas pessoas. Que não percebem que ser conservador não é não gostar de piada homofóbica. Conservador é fazer piada homofóbica. E nenhum roqueiro da augusta é revolucionário quando está reproduzindo o status quo.

Foi ela acabar de falar isso e um punk que tava do lado de fora, do meu lado gritou “Cala a boca femista!”. Ela faz uma observação pra lá de pertinente. Uma crítica inteligente. Alguém pensante no meio da cena hardcore e é recebida assim por gente besta. Pô. A maioria do pessoal lá dentro estava curtindo o show. E um cara assina o atestado de roqueiro da Augusta. Bléh

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