Luizianne Lins é feminista e filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT-CE) desde 1989. Em 1996, foi a vereadora mais votada de sua cidade, Fortaleza, e repetiria tal ato no ano 2000. Nas eleições seguintes, em 2002, foi eleita deputada estadual e também bateria mais um recorde em sua trajetória política: a quarta mais votada em seu Estado e a mulher mais votada naquelas eleições.
Seja como vereadora ou como deputada, Luizianne sempre esteve ligada às questões dos direitos humanos. Enquanto vereadora presidiu a comissão de Defesa da Mulher, da Juventude e da Criança. Na assembléia, foi presidente da Comissão de Direitos Humanos. O seu mandato como deputada seria interrompido, para em 2004 ser eleita prefeita da cidade de Fortaleza.
Em seu primeiro mandato como prefeita, Luizianne avançou em questões ainda inéditas em sua cidade. Foi a primeira a tocar na questão LGBT e a transformá-la em política pública. Na campanha de 2004, seus adversários tentavam desmoralizá-la dizendo que ela era a "candidata dos homossexuais". Para o bem, Luiziannne confirmou o que os seus adversários pregavam. Em sua gestão, aplicou capacitação para educadores quanto à questão de gênero; a campanha Juventude Sem Homofobia; o I Festival de Cinema da Diversidade e o programa Fortaleza Sem Homofobia.
Em entrevista exclusiva para o A Capa, Luizianne Lins fala em continuar todos os projetos, sobre a criação de uma coordenaria dos Direitos Humanos e de que maneira a sua primeira gestão trabalhou pela diminuição da homofobia. Também falou sobre a perseguição religiosa que está sofrendo nas atuais eleições e a questão dos outdoors que afirmam que ela seja "contra a Bíblia".
Confira a seguir a entrevista na íntegra.
Candidata, a que você credita tais outdoors? Quais são os reais motivos de tal campanha contra sua pessoa?
É apenas uma pessoa, que diz presidir uma instituição não reconhecida pelos próprios evangélicos, que tem dezenas de processos acumulados na Justiça e que está usando a boa-fé da população. Com certeza, o protesto tem motivações políticas e estamos investigando o fato. A Justiça já determinou a retirada dos cartazes e outdoors, que foi devidamente efetuada.
O grupo fez críticas pesadíssimas, disseram que a sua gestão transformou a Prefeitura em um exército de sodomitas. O que representa, para você, tais argumentos?
É fruto do preconceito. O fato é que esta gestão tem diálogo aberto com todos os segmentos, inclusive o LGBT. São argumentos desqualificados que devem ser respondidos não na esfera política, mas na judicial.
Como a senhora pretende fazer valer a questão do Estado Laico em sua gestão?
Dialogando com todos os setores sociais e todas as religiões em pé de igualdade, mas com ações administrativas democráticas. Em outras palavras, as conquistas desta gestão – passagem de ônibus congeladas em R$ 1,60 há quatro anos, reformas de escolas e postos de saúde, quase 5 mil casas populares entregues e mais 15 mil em construção etc – valem para todos, independentemente de credo.
O seu principal adversário, Moroni Torgan (DEM), recentemente posou para fotos com pessoas LGBT. Sendo que, na campanha passada ele usou do mesmo tema para tentar lhe derrubar, dizendo que você era a candidata que apoiava os homossexuais e usou até uma atriz para tal. Qual a sua opinião a respeito?
A partir da ação desta gestão, que criou inclusive uma Coordenadoria só para tratar do tema, que implementou ações contra o preconceito junto aos professores e guardas municipais, por exemplo, evidenciou-se a importância da temática para todas as candidaturas. Qualquer candidato em Fortaleza terá de apresentar propostas para o segmento LGBT. Isso é uma conquista política importante.
Em sua gestão vocês aplicaram várias iniciativas para a população LGBT. Entre elas destacamos: capacitação para educadores quanto à questão de gênero; a campanha Juventude Sem Homofobia; I Festival de Cinema da Diversidade; o programa Fortaleza Sem Homofobia e outros. Pretende continuar estes projetos, fortalecê-los? E, caso reeleita, quais outras propostas pretender implementar no que diz respeito aos LGBT?
A próxima medida será criar a Secretaria de Direitos Humanos, da qual a Coordenadoria fará parte. Todos os projetos existentes serão mantidos e a luta contra o preconceito continuará a ser uma das marcas da gestão, sendo fortalecida com a existência de uma secretaria que concentre todas as coordenadorias que trabalham pelos direitos humanos.
Ser mulher, defender as questões LGBT e estar em um partido de esquerda. Você enfrenta muito preconceito no meio político e social?
O preconceito infelizmente existe e se mostra em situações de formas diferentes. Mas temos encarado essa questão de frente, superando diversos obstáculos e mostrando o valor da mulher na construção de uma nova sociedade. A nossa administração, pelo grau de realizações implementadas, é a prova da competência das mulheres.
Acredita que sua gestão ajudou na luta pela diminuição da homofobia em Fortaleza?
Sim. Até porque nenhum outro governo teve a coragem sequer de falar sobre o assunto. Geralmente, as pessoas se esquivam de discutir essa temática, o que acaba reforçando o preconceito. Basicamente, quando você amplia as discussões, quando a população de uma forma geral tem acesso às informações sobre as diferentes opções de orientação sexual, o preconceito tende a diminuir.
Nas eleições passadas, a direção do PT resolveu apoiar um dos seus adversário no primeiro turno. No segundo, apoiaram a sua candidatura. Porém, este ano o apoio tem sido forte, tanto é que a sua campanha tem sido apontada como uma das mais caras. Por quê resolveram te apoiar?
Porque a gestão tem o que mostrar e porque houve um amadurecimento do PT e um reconhecimento de todo um trabalho feito em Fortaleza. Hoje vivemos um novo contexto administrativo, trabalhamos com problemas graves e comuns a uma grande metrópole e precisamos que a população perceba a importância de Município, Estado e União marcharem juntos. Sem dúvida, isso representa um avanço fortíssimo na resolutibilidade de diversas questões nas áreas de transporte, habitação, saúde, educação e transporte, só para citar alguns. A grande maioria das capitais brasileiras não conseguem avançar em obras e serviços com recursos próprios. É imprescindível o apoio das demais instâncias federativas.
Pra finalizar, gostaria que você dissesse aos leitores e eleitores como será uma segunda administração de Luizianne Lins no que diz respeito ao segmento LGBT.
Pode-se esperar o mesmo respeito, a mesma capacidade de diálogo, a mesma garra no sentido de combater o preconceito e ampliar as ações que dêem a esse segmento melhores condições de vida, pois, como diz a música "toda forma de amor vale a pena".