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Presença trans em reality show do SBT adiantou trajetória de Ariadna no BBB11

Ariadna do BBB11 teve trajetória semelhante ao da travesti Bianca Soares da Casa dos Artistas

Primeira mulher transexual a participar do Big Brother Brasil, a cabeleireira Ariadna Thalia, aos 26 anos, entrou para a história do programa em 10 anos. O que parecia algo inédito, uma grande evolução na televisão brasileira, ganha sensação de "Vale à pena Ver de Novo" ao lembrarmos da travesti Bianca Soares e sua trajetória na Casa dos Artistas 4. A participação das trans, além de bastante parecidas – da entrada polêmica, eliminação na primeira semana, ao jeitinho brasileiro de colocá-las de volta ao reality show – mostra uma grande estagnação na questão trans e opinião popular sobre a categoria. Entenda:

PÚBLICO SABIA DE TUDO ANTES: Assim como Ariadna, Bianca entrou no reality show sem que tocassem na palavra "travesti". Com rosto delicado e voz feminina, permaneceu apenas como mulher durante todo o confinamento. O que nem Bianca nem Ariadna poderiam esperar (ou poderiam!) é que a imprensa fosse agir rapidamente e revelar que elas eram um dos Ts do LGBTT. Um dia após a estreia do reality show, as palavras "travesti" e "transexual" já estavam estampadas em todos os jornais; acompanhadas de fotos bem íntimas em anúncios de programas sexuais. Na época, Bianca usava no nome Kaylane para diferenciar a vida de trabalho da vida particular. Ariadna apostava em um novo visual (antes era loiríssima em sites internacionais). Nada adiantou. Em um piscar de olhos, todo o passado estava sob o paredão crítico do público conservador.  

AFFAIR: No confinamento, Bianca também se manteve em silêncio sobre a vivência trans. Não revelou em nenhum momento que era travesti e somente um participante – o ator Dudu Gonçalves – é que desconfiou. No BBB, os coloridos Daniel e Lucival suspeitavam que a cabeleireira era transexual (devido ao palavreado bastante utilizado no meio LGBT) e foi para eles (só para eles) que a bela revelou antes de sua emocionante eliminação. A permanência no armário – que seria uma orientação dos diretores; embora nenhuma delas confirme – culminou em vários questionamentos (a maioria preconceituosos) sobre possíveis relacionamentos amorosos. A revista Ti Ti Ti, por exemplo, anunciou em sua capa: "Bomba! Bianca é travesti! Alguém precisa avisar o Ale", ator que beijou a travesti. Já no BBB chegaram ameaçar a processar Ariadna caso ela beijasse algum brother, como se relacionar com trans fosse uma Pegadinha do Mallandro, algo vergonhoso perante o Brasil.

INCOMODOU: Resultado visível do preconceito contra o grupo trans – uma vez que não é possível conhecer a fundo nenhum participante em apenas uma semana – Ariadna e Bianca foram as primeiras eliminadas pelo público. O preconceito não ocorreu entre os brothers – que sequer sabiam que elas eram travesti e transexual – mas do telespectador. Na Casa dos Artistas, houve até um buxixo envolvendo os patrocinadores que, ao descobrirem que Bianca era travesti, exigiram sua eliminação, alegando que os produtos veiculados eram destinados ao público "família". Bianca foi então para o paredão na primeira oportunidade logo na primeira semana (prova de talento), bem como Ariadna (primeira indicação do líder). Com alta rejeição, Bianca foi eliminada com mais de 70% e Ariadna em um paredão triplo. 

FAMÍLIA: Com personalidade forte, as participantes conseguiram roubar a cena. Enquanto Bianca chegou a discutir com vários confinados, Ariadna não poupou fôlego ao falar sobre sexo. Mas talvez seus momentos mais emocionantes tenham sido sobre os desabafos aos brothers e encontro familiar na eliminação. Bianca disse que sempre sonhou em ser atriz, mas que nunca conseguiu oportunidades por ser "diferente" das demais, e chorou copiosamente ao receber um telefonema da mãe, que dizia estar orgulhosa da filha. Ariadna também falou sobre as pelejas que passou para ser quem é – ora dizendo-se orgulhosa ora arrependida – e se surpreendeu com a presença do pai na platéia. A mãe não foi por questões religiosas.
 
VOLTARAM:
Após a eliminação, as ex-confinadas desfilaram em vários programas, foram temas de inúmeras reportagens, concederam infinitas entrevistas. Resultado: de olho na baixa audiência, foram convidadas a voltar ao reality show. Pois é, assim como Boninho chamou Ariadna para voltar ao programa através da Casa de Vidro (ele teria a candidata trans por pelo menos uma semana), Silvio Santos chamou Bianca Soares para voltar à Casa dos Artistas como convidada. Bianca voltou, revelou que é travesti e permaneceu por mais seis dias, falando rapidamente de sua trajetória, fazendo dublagens e dando lembrancinhas aos brothers. Sim, após serem eliminadas ambas tiveram mais sete dias de confinamento.

VIDA PÓS-REALITY: Ariadna quer posar nua, deixar de fazer programa, abrir um centro de estética, aproveitar ao máximo a fama que o Big Brother proporcionou. Esperamos que ela tenha grandes oportunidades e que não caia nos estereótipos. Bianca, por exemplo, sonhou, mas não conseguiu ser protagonista de novela (aliás, nenhum dos competidores conseguiu; nem a vencedora). A única porta aberta para ela – além dos programas de televisão que não rendiam dinheiro no bolso – foi o da indústria de filmes pornográficos. Na carreira, a atriz estrelou mais de 5 produções, inclusive uma com o ator Alexandre Frota. Quase dois anos depois, conseguiu finalmente papel de destaque na série Mandrake, exibida pela HBO, em que contracena com Marcos Palmeira, além de estar na paródia "O Infeliz", do programa Show do Tom (Record) e posar nua para a revista Man.

PRECONCEITO E AVANÇOS: Tendo em vista que os shows de realidade mostram a opinião popular, os avanços ou retrocessos sobre pessoas ou grupos, podemos concluir que o preconceito contra a categoria T (envolvendo travestis e transexuais) está estagnado. Da participação de Bianca Soares ao boom da Ariadna já passaram sete anos e, como podemos ver, pouca coisa mudou. Pior. Depois da vitória do professor gay Jean Willys em 2005, tivemos a vitória do lutador considerado homofóbico Marcelo Dourado sobre um maquiador drag queen em 2010. Acompanhando esse retrocesso na bandeira LGBT, é claro que uma transexual incomodaria. Mas apesar disso, ainda há de se comemorar a oportunidade e visibilidade que pouco a pouco as diferentes identidades de gênero estão tendo. Quanto mais trans participarem de tais programas, mais a sensação de novidade desaparece. E, assim, suas trajetórias ficam mais naturais e comuns para o público. Afinal, somente com visibilidade os estigmas caem por terra e a sister tem a verdadeira oportunidade de mostrar quem realmente é, muito além do mito trans.

Transgêneros nos reality shows

 
Dindry Buck (2004): Toda montada, a drag queen (foto à esq.) foi a primeira a entrar em um reality show no Brasil. Ela participou do Tá na Mão (Band), em 2004, cuja competição consistia em fixar as mãos em um veículo e só tirar depois da última desistência. Dindry não venceu a competição, mas garantiu que a participação ajudou em futuros trabalhos.

Bianca Soares (2004): Primeira travesti a participar de um reality no Brasil, Bianca Soares tentou ser protagonista de novela do SBT, na quarta edição da Casa dos Artistas. Cercada de polêmicas, foi a primeira eliminada, mas voltou ao reality semanas depois como convidada.

Dicesar/Dimmy Kieer (2010): Embora a personagem Dimmy Kieer tenha surgido somente em algumas festas do BBB10, o maquiador Dicesar pode falar um pouco sobre a vivência de se montar e da persona feminina para os brothers. Foi eliminado pelo vencedor da edição Marcelo Dourado. 

Nany People (2010): Após assumir-se como transexual, Nany People (foto à dir.) finalmente aceitou participar de um reality show. Em A Fazenda 3, adotou a política da mãezona desbocada e protagonizou vários debates. Foi a quinta eliminada.

Ariadna (2011): A cabeleireira Ariadna entrou para a 11ª edição do Big Brother Brasil e causou polêmica ao não se assumir transexual logo nos primeiros dias. Eliminada na primeira semana, teve a oportunidade de voltar para o reality por uma semana através da Casa de Vidro.

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