Muitos jovens gays – rapazes e garotas – passam pelo dilema “contar ou não contar pra suas mães” sobre sua orientação sexual, durante muito tempo. E esse período de protelação angustiada está baseado em pelo menos dois motivos.
O primeiro é a crença de que, como o amor de mãe é o mais incondicional que existe e mãe é sinônimo de acolhimento, proteção, carinho e sensibilidade, há uma crença muito difundida na comunidade de que “mãe sempre sabe”. Mas eu lhes garanto que a maioria das mães não sabe. Isso é um mito! As mães não sabem, porque não foram preparadas para a possibilidade de terem filhos homossexuais; elas não sabem, porque os filhos sempre escondem de suas mães que são gays…
A construção desse mito – que a “mãe sempre sabe” – tem a participação ativa dos homossexuais, pois, se a mãe já sabe, não é necessário que os filhos gays se revelem a elas. E eles se sentem mais tranqüilos e seguros se enganando desse modo.
O segundo mito é que as mães são todas iguais. Que engano! Mãe é o nome de um papel social construído pela cultura e por detrás dele se escondem mulheres muito diferentes umas das outras: em nível cultural e socioeconômico, em tipos de educação, religiões, com idade e personalidades diferentes. Amigos – pais e filhos(as) -, na verdade, o caminho da felicidade é bem outro.
Hoje, algumas mães passam por um processo de aceitação rápido, a maioria delas, lento, mas acabam aceitando seus filhos gays. Então, por que não contar?
Na adolescência, os gays ficam se escondendo de medo de perder o amor da mãe, do pai, o respeito dos professores e coleguinhas. É um sofrimento muito grande e o medo que sentem é real, as dificuldades existem, sim. Mas se a pessoa se deixar dominar pelo medo toda a sua vida, o que vai acontecer? Ela vai se trancar, acabar com sua espontaneidade, sua auto-estima, vai se atrofiar emocionalmente. Mentir, omitir, esconder, não leva a nenhuma solução positiva, pelo contrário. Acaba com a vida emocional das pessoas e elas se impedem de ir em busca da sua integridade pessoal, da sua felicidade.
Envergonhada, escondida, uma pessoa estará dividida internamente, para todo o sempre. Ao contrário, medo a gente enfrenta e pode servir para nos impulsionar para realizações muito importantes!
Isso aconteceu comigo. Depois que eu soube que meu filho caçula é gay, sofri muito, desci para o fundo de um buraco escuro, pra depois buscar a luz. Hoje sei que sou uma pessoa muito melhor do que era graças ao meu filho.
E você já pensou o que sua mãe vai dizer um dia, quando descobrir que você escondeu dela uma parte tão importante da sua vida? Há mães que não conseguem lidar com a homossexualidade de um filho, uma filha, mas são muito poucas. A grande maioria das mães é regida pela energia do afeto!
O amor pelo meu filho me fez enfrentar o preconceito enorme que eu tinha contra a diversidade sexual, um processo de aceitação de mais de dez anos. Eu tive de fundar um grupo de pais de homossexuais, escrever livros de pesquisa sobre a diversidade sexual, sobre a homo-afetividade… Todo esse trabalho, hoje eu sei, foram etapas do meu processo de aceitação. Claro que meu filho sofreu também e nunca vou deixar de me entristecer por isso. Mas, como dizem, “é preciso ser muito macho pra ser gay!”
Hoje, vocês não podem imaginar a nossa felicidade! Conversamos sobre todos os assuntos. Meu filho pode falar de seus sentimentos, de seus afetos, de seus relacionamentos, seus planos para o futuro, suas dúvidas, pra mim e para toda a família. Ele não se envergonha de ser como é, tornou-se uma pessoa espontânea e íntegra, com uma carreira importante e perspectivas muito positivas pela frente.
Amigos, neste “dia das mães”, pensem seriamente em dizer a suas mães quem vocês verdadeiramente são. Pode não parecer à primeira vista, mas é o maior presente que lhes poderiam dar. E, um dia – próximo ou mais longínquo-, sua mãe lhe dirá isso.
Será fácil? Certamente, não. Ela aceitará com tranqüilidade? Provavelmente, não. Mas vale a pena! Com a sua ajuda, paciência e amor, sua mãe vai descobrir um jeito de lidar com isso e vocês serão muito mais felizes!
*Edith Modesto é fundadora do GPH – Associação Brasileira de Pais e Mães de Homossexuais. Site: www.gph.org.br