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Príncipe gay pretende estreitar laços entre Índia e Brasil

Ele ficou sob os holofotes da mídia internacional após assumir sua homossexualidade em 2006. Príncipe integrante de uma das famílias mais abastadas da Índia, Manvendra Singh Gohil, 43, é uma pessoa simples, reservada e de fala mansa. E não ostenta sua condição de único herdeiro de uma família real.

Ainda aparentando certo cansaço após uma longa viagem desde sua cidade natal, Rajpipla, pequeno estado de 4100 quilômetros quadrados situado no Sul do estado do Gujarat, um dos mais prósperos da Índia, Manvendra recebeu a reportagem do site A Capa em um dos enormes salões do Casarão Brasil, associação GLS do empresário Douglas Drummond, localizada na rua Frei Caneca, em São Paulo.

Disputado pela mídia brasileira, Manvendra parece imune a tanta paparicação. Aliás, desde que se tornou alvo da imprensa internacional e virou uma espécie de celebridade, o príncipe divide seu tempo entre a ONG que comanda, a Lakshya Trust, de luta contra o HIV/Aids, e os diversos compromissos com jornais, revistas e televisões de todo o mundo.

Mas, segundo o príncipe, essa superexposição teve um motivo: levantar o debate sobre a homossexualidade. "Queria abrir a caixa de Pandora, fazer as pessoas discutirem sobre um assunto ainda tão complicado", disse Manvendra, que, antes de sair do armário, manteve um relacionamento heterossexual.

Com vocês, Vossa Majestade príncipe Manvendra Singh Gohil:

Esta é a sua primeira vez no Brasil. O que espera de sua visita?
Espero estreitar os laços entre Brasil e Índia e, principalmente, trazer à tona a discussão sobre HIV/Aids, que é um assunto que eu trabalho na minha fundação [a organização não governamental Lakshya Trust, fundada em 2000]. Tenho certeza que muitos brasileiros desconhecem o que acontece no meu país em relação à homossexualidade. Essa troca pode ser muito interessante e acredito que aprenderei muito sobre os homens gays no Brasil e isso me ajudará a entender melhor a forma como nos organizamos.

O que o senhor já ouviu falar do nosso país?
Que o Brasil tem a maior Parada Gay do mundo e que vocês possuem diversas associações que cuidam dos interesses dos homossexuais. Mas que também tem índices elevados de homofobia. Como acontece na Índia, ainda lutamos pela nossa visibilidade, e esses índices de violência contra homossexuais também atingem muitas pessoas em meu país. Também sei que a religião afeta diretamente essa questão da homofobia…

Sim, a Igreja Católica e algumas denominações evangélicas contribuem para isso…
Exato. É por esse motivo que vim ao Brasil, para entender como isso funciona. Na Índia, ao contrário, a religião não é contra a homossexualidade.

E o que o senhor pode comentar sobre as hijras (mulheres transexuais que são aceitas pela sociedade indiana)?
Os hijras são "homens" cuja presença foi institucionalizada de geração para geração. Pode ser considerado um terceiro gênero e é um aspecto de nossa cultura que ainda levanta muita curiosidade. Os hijras se vestem e agem como mulheres e estão em grande número na Índia [uma pesquisa de quase 20 anos atrás estimou que eles somam 50 mil na Índia, mas esse número é impreciso].

O senhor fica até quando no Brasil?
Fico até o dia 17.

E qual é a agenda que pretende seguir?
Estou aqui a convite do Douglas Drumond, do Casarão Brasil, e devo acompanhá-lo em algumas ações. Mas também quero fortalecer meu conhecimento sobre a questão do HIV/Aids entre a população gay…

O senhor disse que pretende se casar em breve, é verdade?
No momento, estou solteiro e comprometido unicamente com meu trabalho. Se tivesse um parceiro agora, tenho certeza que não daria toda a atenção que ele mereceria…

Como está a situação com a sua família no momento?
Inicialmente, foi algo difícil. Mas a mídia exerceu um papel muito importante nessa história, ao discutir sobre a homossexualidade. Há pessoas na minha família que são claramente homofóbicas. Minha família me aceitou, mas isso não significa que o assunto é comentado livremente. Eles simplesmente não falam sobre isso. Eu não fui o primeiro da minha família a me assumir.

Como foi o seu processo de auto-aceitação? O senhor sabia que sair do armário seria algo difícil de fazer, não?
Eu sempre soube que era gay. A única diferença é que eu estava isolado, não tinha ninguém com quem conversar, compartilhar. Fiquei confuso e me perguntava: ‘será que sou o único que está errado?’.

O senhor já foi casado com uma mulher…
Sim, mas nessa época eu mentia para mim mesmo, apenas estava fugindo do problema…

O senhor foi entrevistado pela apresentadora americana Oprah Winfrey. Como foi essa experiência?
Oprah Winfrey é uma pessoa muito amável e me encheu de orgulho quando falou sobre sua vida. Por ser negra, ela também sofreu preconceito e na entrevista pudemos debater essa questão. E, por ser uma mulher forte, conseguiu felizmente superar a discriminação e hoje está onde está.

O senhor é conhecido como o "Príncipe Pink". Cor-de-rosa é sua cor preferida?
Sim, é minha cor preferida (risos). Em Rajpipla, todas as casas são cor-de-rosa…

No Brasil, atualmente é exibida uma novela, chamada "Caminho das Índias", que aborda os costumes de seu país. Já ouviu falar sobre ela?
Tudo o que sei eu pesquisei na internet. Mas eu mesmo nunca assisti a novelas brasileiras, então infelizmente não posso falar muito…

E qual é a sua expectativa para desfilar na Parada Gay do próximo domingo?
Na verdade não sei, Douglas pode falar melhor sobre isso…

[Nesse momento, o empresário Douglas Drumond se junta à conversa].
Estamos combinando de participar de uma Parada Gay na Índia no ano que vem. Domingo agora vamos desfilar no carro oficial, da Associação da Parada…

Hoje vai acontecer aqui no Casarão uma apresentação de uma escola de samba gay. O senhor gosta de samba?
Ah, sim, muito. Estou ansioso para ver. E não sabia que o Brasil tinha uma escola de samba gay… O problema é que eu não sei dançar…

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