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Profissão Sexo: Brasileiro fala de sua vida como michê na Itália

Brasileiro que faz programas na Itália conta como é viver da profissão no Velho Continente

Cena 1. Um português de 1,70 m e cerca de 130 kg entra no apê de "Il toro". Enquanto se despe, ele tem duas exigências: quer receber um gostoso botão de rosa (1) e, na hora do sexo, prefere "cavalgar". "Il toro"concorda. Afasta toda a fartura de carnes do
português, faz o botão e alegra-se em conferir que – ufa! – o cliente tem bom equilíbrio…

Cena 2. Um juiz benquisto em sua vara – sem trocadilhos – contrata os serviços de "Il toro". Ele tem três taras: vestir-se de mulher, ser tratada com rudeza e tomar um drinque de "fonte natural". "Il toro" urina na taça do juiz, que bebe o conteúdo com vagar.

Essas são apenas duas das dezenas de histórias curiosas que "Il toro" – que, em seus anúncios na internet, se apresenta como "mulatto, maschio, dotato, trasgressivo" (2) e convida a provar o "latte de un vero toro" (3), em bom italiano – tem para contar.

O rapaz, que tem padres, médicos, juízes, empresários, jornalistas, apresentadores de tevê e até um cônsul entre seus clientes, atende pelo nome de Pyter M.T. (pronunciase "Peter", como no inglês), tem 25 anos há cerca de cinco anos, é ativo, brasileiro e atua como garoto de programa na Europa.

Verdade seja dita, Pyter nem sempre foi michê e não emigrou pensando em fazer carreira na cama. Tudo começou quando namorava um francês, com quem viajou para Portugal. Logo, veio a ideia de buscar umfuturo melhor, aproveitando as oportunidades
que a Europa podia oferecer.

Pyter então trocou os cerca de 600? mensais que ganhava como ajudante de cozinha e resolveu apostar na carreira de scort boy. O resto é história – e, algumas delas, você confere na descontraída entrevista abaixo, realizada quando ele passava férias no Brasil.

Vamos começar pelo básico: idade. Lá, como cá, ter menos idade ajuda no trabalho?
Olha, os garotos que tem mais procura são os de 18 a 25 anos. Quando você tem 21, 22, 23 anos, até usa a idade verdadeira. Depois, tem sempre 25 [risos]. Quando não dá mais pra "segurar", você muda para 30 – e permanece tendo 30 até uns 40 anos [risos].

Você não fala a idade verdadeira para nenhum cliente?
Falo, falo, sim. Para os clientes fixos. O cara já te conhece há um certo tempo, alguns anos, aí quando ele pergunta, você ainda tem os mesmos 25 anos de quando o atendeu a primeira vez [risos]? Só que aí, não muda, porque o que importa é a qualidade.

Não tem mercado para michês mais velhos?
Tem, mas é um mercado mais específico. Com 30, 40 anos, é mais para clientes que procuram coisas como dominação, por exemplo.

E você não faz?
Se for soft, até faço.

Qual o principal trunfo de um scort?
Ah, a discrição. Já cansei de ver cliente meu com os filhos no shopping, aos domingos. Também é melhor se o scort morar sozinho…

Por quê?
Bom, geralmente, eles dão preferência para quem recebe. Alguns até pedem para eu ir até a casa deles, mas são poucos. Motel ou apartamento dividido com dois, três michês ao mesmo tempo. Eles não querem se expor, correr o risco de serem vistos entrando num motel com outro cara, e num apê dividido… Bom, o cara também pode se sentir inseguro. Alguns vão embora da porta.

E tem alguma técnica especial para conquistar o cliente?
Tem de investir na aparência. Eu sempre digo que, para ser michê, é preciso gostar de sexo, porque nem sempre você tem o que sonha na cama. Eu, por exemplo, tenho muitos clientes que não são, digamos, favorecidos fisicamente. Essas pessoas têm mais dificuldade de achar sexo, e aí recorrem a um scort. Eu, modéstia à parte, sou viciado em sexo. Umas duas ou três vezes, não consegui, mas de resto… Já quebrei o recorde de atender oito clientes e depois ainda cair na noite.

Você faz de tudo?
Dar, eu não dou [risos].

Por quê?
Olha, eu não dou porque eu não gosto. Nunca fez parte dar, nunca gostei.

E o que você faz com os versáteis quando chega a hora da "vez deles"?
Ah [risos]…. Aí, tem a técnica, né? Uma vez, eu saí com um cônsul de um país da África e ele perguntou se eu fazia versátil. "Faaaço". Aí, quando chegou na hora, fiz aquele oral, o cara gozou, e acabou a festa. Não precisei dar [risos].

Falando em gozar, isso é muito valorizado, não?
Ah, isso é. Não sei por que o povo é tão fissurado nisso. Querem na boca, na cara, na entradinha… Tem garoto de programa que não goza: pra gozar, paga mais. Eu, não. Graças a Deus, tenho uma fartura de leite…

E sexo seguro?
Não vou dizer que nunca fiz sem [preservativo]. Fiz com duas pessoas que eu já conhecia, e faz muito tempo. Faço meus exames de HIV e até topo fazer, se o cliente me apresentar um exame da semana negativado. Mas, de resto, sempre faço com preservativo.

Essa do exame é complicada, porque pode simplesmente não ter sido detectado. E de outros michês, você tem notícia?
Alguns fazem sem, mas são poucos. Quase ninguém.

Para finalizar: dá pra juntar dinheiro?
Eu cobro 80?, em média; às vezes, 100?. Não estipulo tempo, mas costuma durar uns 40 minutos. Já fiz até programas com 15, 20 minutos. Dá para juntar, sim. Eu não junto, porque sou muito consumista. Gasto muito – mas tô pensando em agir diferente quando voltar lá dessa próxima vez.

(1) – o mesmo que "cunete" no Brasil, ou sexo oral boca-ânus.
(2) – mulato, macho, dotado, transgressor.
(3) – leite de um touro de verdade.

* Matéria originalmente publicada na revista A Capa # 32, de abril de 2010.

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