A polêmica está lançada. A deputada Sueli Vidigal (PDT-ES) acaba de lançar Projeto de Lei que, se aprovado, irá proibir os bancos de sangue a perguntarem a orientação sexual do doador. Tal medida contraria a portaria da ANVISA que não permite HSH (Homens que fazem sexo com homens) e homossexuais que tenham tido relações sexuais recentes a doarem sangue no período de um ano.
Em entrevista concedida ao A Capa na tarde de ontem, a deputada diz que tal medida é "preconceituosa e discriminatória". Ela afirma que em um país onde se tem problema com a demanda de sangue, tal portaria "não se justifica". Sueli também diz que hoje há vários segmentos com comportamentos de risco e que todo mundo sabe que "o HIV não é detectado em exame simples". Confira a seguir a entrevista.
A senhora acredita que há uma contradição quando o Ministério da Saúde diz que não há mais grupos de risco e sim comportamentos de risco e, ao mesmo tempo, não permite que HSH (Homens que sexo com homens) que tiveram relações sexuais não doem sangue no período de um ano?
É um ato preconceituoso e discriminatório. Na verdade, se o país hoje enfrenta uma demanda diária de mais de mil e quinhentas bolsas de sangue e a gente acompanha através dos meios de comunicação as campanhas para convencimento dos cidadãos para doarem sangue, sabemos que a necessidade de manter os bancos de sangue abastecidos é permanente e a oferta é menor do que a procura. Portanto, não justifica a portaria da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). E o objetivo do projeto de lei é salvar vidas, e que seja respeitada a vida e a opção (sic) sexual do cidadão.
Há preconceito na doação de sangue por homossexuais?
As pesquisas mais recentes já dão conta que existe outros segmentos da sociedade de imodo gual de alto risco. O HIV não é detectado em exame simples e todos nós sabemos disso. Eu posso chegar lá e não declarar a minha opção sexual. É discriminatório em um país onde nós precisamos urgentemente trabalhar no sentido de melhorar a saúde, a qualidade de vida dos cidadãos… É inadmissível essa portaria da ANVISA proibir os homossexuais de doarem sangue.
Esse é um dos principais fatores para a defasagem de sangue?
Não diria pra você que a defasagem da oferta de sangue seja por conta disso. Acho que o apelo é forte para que as pessoas doem sangue, então se é para doar sangue, se é para realmente manter os bancos abastecidos, se o objetivo realmente é preservar a vida, eu não posso ter um ato dessa forma. Porque todo sangue que é colhido tem que se ver a vulnerabilidade dele. O sangue é avaliado. Então é discriminatório. Você imagina um cidadão de forma voluntária chegar ao local, com toda a boa vontade do mundo e de repente ‘você não pode porque você tem essa opção sexual’.
A senhora acredita na aprovação do projeto?
Acredito na aprovação. Eu acredito na sensibilidade de homens e mulheres que foram para aquela casa de leis com o compromisso e responsabilidade de garantir os direitos de ir e vir dos cidadãos e garantir os direitos de uma população que realmente necessita de nós. Temos que estar sintonizados com ela.
Caso aprovado, o projeto tem algum plano para acompanhamento de aplicação dessa medida?
Como é um projeto e todas as pessoas tem acesso, e tem aqueles que acompanham, existe segmentos da sociedade, movimentos da sociedade civil que com toda a certeza estarão acompanhando. Cabe a nós legisladores apresentar o projeto, trabalhar na aprovação dele, mas o seu cumprimento já não cabe mais a mim. Lógico que, se eu tiver a oportunidade através do seu site, através dos meios de comunicação, eu vou pedir a população que nos ajude a fiscalizar.
Em 2007, a pesquisa de Programa Nacional de Combate ao HIV/Aids chamou a atenção para o grande aumento de infecção por HIV entre jovens héteros e homossexuais. Como a senhora observa isso?
Observo que mais uma vez essa medida é preconceituosa. Por que discriminar o homossexual se tantos outros segmentos da nossa sociedade são de igual forma grupos de risco? Não me cabe dizer o motivo do aumento entre os jovens. Até porque acredito que a maior menção do HIV entre os jovens esteja entre os usuários de drogas, isso também é o que mais contribui com a violência do país, o que mais contribui para dizimar famílias e é também o que mais contribui para que nossos jovens fiquem em situação de vulnerabilidade.
É interessante a senhora tocar nisso, pois recentemente a Secretaria de Saúde de São Paulo divulgou uma pesquisa onde cerca de 93% dos entrevistados que não possuem parceiros fixos revelaram não usar camisinha por estarem sob o efeito de drogas e álcool.
Toda campanha é extremamente importante e positiva. Vai contribuir com ações positivas para melhorar a qualidade de vida. Tudo aquilo que vai contribuir para preservar a vida é importante que seja levantado esse apelo. Vimos um apelo forte que é a questão do sangue, temos cidadãos brasileiros a espera de sangue e de órgãos.
Na mesma pesquisa, 43% dos entrevistados revelaram não usar camisinha? Qual a sua opinião?
Ainda é preciso fortalecer essas campanhas. Já que temos doenças sexualmente transmissíveis , temos que conscientizar cada dia mais os nossos jovens da necessidade de eles se precaverem.
Mas deputada, campanhas temos aos montes, acredita que é necessário repensar essas campanhas?
É preciso repensar o tipo de campanha. Eu sou mãe de um jovem, eles de repente não param perto de uma televisão e ficam prestando atenção em campanhas. Acho que tem que se repensar mesmo, tem que fazer campanhas dentro das escolas…
… Os pais precisam falar mais sobre sexo com os filhos?
Existe um tabu, o diálogo é extremamente importante, ele norteia o cidadão na sociedade, no ambiente do trabalho. É você falar, ouvir, isso é importante demais, o poder do diálogo, da conversa, é extremamente positivo. É preciso que os pais tirem um tempo para dialogarem mais com os seus filhos. O mundo está extremamente necessitado de carinho, de afeto, de atenção. Precisamos desse tempo para os nossos filhos.