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Projeto do Estruturação revela como “figurões” gays saíram do armário

Luiz Mott se assumiu gay aos 31 anos, quando era casado e tinha duas filhas pequenas. João Silvério Trevisan se apaixonou pelo melhor amigo da namorada. Eduardo Barbosa só se assumiu depois de descobrir ser soropositivo. André Fischer ganhou do pai uma viagem para Búzios, com direito a namorado de companhia.

Essas e outras histórias dos "figurões" gays do país fazem parte do projeto do grupo Estruturação em torno do "Dia de Sair do Armário", a ser comemorado no próximo domingo (11). A ideia é inspirada no National Coming Out Day, realizado há 20 anos nos Estados Unidos.

Por aqui, a iniciativa da ONG de Brasília conta com um concurso cultural de fotografias – que premiará o vencedor em R$ 500 – além de outras atividades. As melhores fotos já podem ser escolhidas até às 23h59 de sábado, clicando aqui.

Welton Trindade, um dos responsáveis pela articulação da campanha, respondeu por e-mail algumas perguntas do site A Capa sobre a mobilização. Confira a entrevista a seguir.

De onde veio a ideia de fazer o Dia de Sair do Armário?
Claro, já sabíamos do National Coming Out Day, nos Estados Unidos, que tem 21 anos. Vinda do Núcleo Jovem do Estruturação, sempre houve demanda para fazermos alguma ação focando a saída do armário, algo bem presente na vida dos e das adolescentes. Daí, vimos que esse tema precisava merecer mais atenção e achamos ideal nos somar ao 11 de outubro e fazer o Dia de Sair do Armário no Brasil.

Falar sobre o outing também possui um viés político e social, além do relacionado à autoestima dos e das LGBT. O Estruturação atua em três frentes: governo, sociedade e LGBT. E fazer o Dia de Sair do Armário foi uma forma de trabalhar para que mais e mais LGBT possam refletir sobre a vivência da orientação sexual e identidade de gênero de forma plena.

Um exemplo que ocorreu há menos de uma hora no nosso Centro de Assistência LGBT. Um homossexual foi tratado de forma preconceituosa por policiais em um ambiente gay. O agredido quis registrar a ocorrência, mas não consegui testemunha porque ninguém que viu o fato queria expor a própria orientação sexual. Com isso, fica super difícil levar a queixa para a frente. E quantas vezes vieram pessoas falar conosco sobre discriminação, mas que não exigiram punição ou não levaram o caso à Justiça para não se exporem!

Outro triste exemplo: várias empresas já dão benefícios para casais LGBT, mas muitos preferem não usufruir desses direitos para não colocarem a orientação sexual de forma pública. Isso é só um exemplo de que o ativismo não pode canalizar esforços apenas para aprovar uma lei de união estável, por exemplo. Temos de educar os e as LGBT para eles e elas se sentirem bem pessoalmente para exercer os atuais e os futuros direitos. Ainda bem que temos as paradas, que contribuem de forma incrível neste sentido.

E viver de forma assumida é altamente transformador. Nossa Coordenação de Pesquisa fez levantamento que mostrou que a homofobia nos grupos de pessoas que conhecem um/a LGBT é três vezes menor do que no grupo de pessoas dizem não conhecer um/a homossexual, bissexual ou transgênero.

E outro ponto, quanto mais assumida é uma pessoa, mais ela se sente bem e até mais sensibilizada com a causa LGBT. Portanto, por vários motivos, assumir-se é algo que só traz benefícios. Tanto para a vida pessoal de cada um/a quanto para o país.

E a ideia de entrevistar os "figurões" do movimento LGBT?
Estamos entrevistando LGBT conhecidos: ativistas, empresários, gente da noite, gestores públicos. A ideia veio da proposta de mostrar para os e as LGBT como pessoas que hoje são destaque em suas áreas, viveram a saída do armário. Está sendo maravilhoso ver cada história. Quem diria que Luiz Mott se assumiu aos 31 anos dentro de um casamento heterossexual? Que Toni Reis sofreu por sete anos procurando a cura à sua homossexualidade? E por aí vai. E ninguém fica dizendo que só há flores no processo de outing. Dificuldades há, mas todos concluem que viver fora do armário é muito melhor. E escolhemos depoimentos também porque não há regras sobre esse assunto. O melhor mesmo é ver como cada pessoa enfrentou esse desafio. Ok, vamos fazer algo como um "manual" sobre a saída do armário, mas não haverá normas, e sim considerações.

Haverá entrevista com alguma militante lésbica, bi, trava ou trans?
Sim, convidamos para fornecer depoimentos pessoas de todas as orientações sexuais e identidade de gêneros. O que não postarmos até domingo 11, o Dia de Sair do Armário, é porque não tivermos retorno.

Quantas fotos vocês já receberam?
Não divulgamos números parciais.

Acredita que o prêmio de R$ 500 foi um incentivo maior para a adesão das pessoas à campanha?
É um atrativo, só isso. E boa parte das fotos recebidas até agora nem falam do dinheiro, falam que acharam a iniciativa muito legal, elogiam o tema e a proposta.

Como você saiu do armário?
Bom, o marcante para mim foi a saída do armário para a minha família, que aconteceu via Jornal Nacional. Em 2002, eu tinha 23 anos, estava em uma solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília, furei o bloqueio de seguranças presidencial e entreguei uma banderia do arco-íris para o Fernando Henrique Cardoso, chefe do Poder Executivo na época.

Bom, isso repercutiu muito e acabou no Jornal Nacional. Foi daí que minha mãe me ligou, deu parabéns para mim e perguntou por que exatamente eu tinha entregue uma bandeira do movimento LGBT para o presidente. Eu respondi: "Porque essa causa diz respeito a mim. Sou gay". Ela chorou, disse que eu era o filho querido dela, que isso era muito decepcionante, mas quando falei para ela: "Mãe, eu sou feliz assim", ela parou de chorar e entendeu. Que bom, porque só me ama verdadeiramente quem fica feliz com a minha felicidade.

Para o restante da família, foi tudo OK. O que foi ótimo. Até porque quem não me aceitasse como gay não iria receber uma palavra minha. Não iria ficar pedindo para que me amassem. Poderia ser minha mãe, meu pai, quem quer que fosse. Fico triste vendo que muitos gays ficam reféns dos pais, morrem tentando agradá-los para que o pai e a mãe os aceitem. Comigo não teria conversa. Se não me aceita, azar! Não preciso de quem não me entende.

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