Com sete anos de estrada, muita cor e muito close, Gysella Popovick é a drag queen da nova geração que venceu a primeira temporada do reality show virtual "Academia de Drags", apresentado pelo ícone Silvetty Montilla.
– Conheça drags que são engajadas e militantes
A finalíssima contra Yasmin Carraroh ocorreu na última sexta-feira (5) no clube Blue Space e o resultado foi exibido oficialmente na noite de segunda (8) no canal oficial do Youtube.
Com o sobrenome inspirado na apresentadora Silvia Popovick, Gysella diz com exclusividade ao A CAPA que a participação trouxe algo fundamental para a carreira – visibilidade – e que aprendeu muito com as provas, disputas e convivência.
Em entrevista ela revela os bastidores, a participação e novos passos:
– O que representa para você vencer o "Academia de Drags"?
A vitória representa um passo importante na minha carreira. Não é fácil para ninguém estar no palco, ser julgada a todo o momento, principalmente porque as pessoas veem mais os seus defeitos que as qualidades. Já estou na noite faz sete anos, mas participar deu um boom na minha carreira. As pessoas começaram a me olhar com ar profissional, não só como iniciante. Vencer é dar essa virada.
– O que te motivou a querer se montar pela primeira vez?
Foi só em São Paulo que comecei a me montar (Gysella é de Pernambuco e atualmente mora em São Paulo). Eu via a arte do transformismo no programa Gente que Brilha, do Silvio Santos, e ficava vidrada. Lá, iam artistas como a Marcinha do Corinto, a Letícia Vendramini… Eu amava! Quando estava em São Paulo, pedi para um amigo me ajudar. Depois da primeira vez, não quis mais tirar a peruca da cabeça (risos).
– E você sempre teve a preocupação de ser profissional ou teve a fase de só querer dar close?
As duas coisas. Sempre quis me profissionalizar, já participei de vários concursos, como os da Danger, venci alguns e também já quis me montar só por close. Mas (se montar) tem todo um gasto que não dá só para querer dar close. Levo a sério a profissão.
– Qual foi o maior desafio do programa?
Para mim, foi o desafio do humor. Ai, não consegui ficar em cena (risos). Eu sou engraçada na roda de amigos, mas sou tímida para pegar o microfone e querer fazer as pessoas rirem, te aplaudirem pelo que você fala e pelo humor. Gosto mais do show, da performance… Mas tenho consciência que preciso trabalhar isso para ficar mais completa.
– E o que mais gostou?
A visibilidade, as amizades e a experiência que vou levar para a minha vida. Melhorei 100% desde quando cheguei até o programa ser lançado. Se você assistir o começo e me ver agora vai notar uma evolução. Tanto nas questões de maquiagem, performance, estilo, até chegar a tabus que consegui quebrar.
– Que tipo de tabu?
Eu achava que drag queen não poderia usar cabelo sintético, que tinha que usar cabelo humano. Mas hoje eu não vejo mais assim. Posso colocar cabelo sintético sem medo do que as pessoas vão achar.
– Como foi a convivência com as demais competidoras? Ficou alguma amizade?
Ficou, claro. Não com todas, pois algumas se apresentam em lugares diferentes e têm um perfil de trabalho diferente do meu. São pessoas incríveis, de talento e que estão conquistando o próprio espaço. Tenho menos contato com a Yasmin e a Rita (Von Hunty), mas com as outras a gente está sempre trabalhando juntas, se encontrando e indicando um trabalho para a outra.
– Como foi o contato com a Silvetty Montilla?
A Silvetty é incrível, mas confesso que tinha medo dela antes. Tinha medo de ela me chamar no palco e de me xoxar (risos). Mas achei ela incrível. Sempre admirei ela e a Thalia (Bombinha), são duas pessoas e artistas maravilhosas.
– As drags gordinhas que vemos na noite acabam entrando para o lado do humor. Existiu esse tipo de apontamento ou cobrança?
Sempre vi gente falando sobre isso e meus amigos diziam: "Popovick, faz a linha caricata". Mas eu não tenho jeito para levar a linha caricata – apesar de aplaudir e considerar importante o trabalho de quem faz. E fui me guiando naquilo que eu mesma quis. Tanto que outra drag gordinha maravilhosa, chamada Diega de Neve, me falou: "Pô, bi, fiquei feliz que você uma big girl participou e que não precisou ser caricata". Eu sou gordinha, sou feliz, me amo, gosto de mim e sei que quebrei um tabu. Sei que nem toda drag queen gordinha precisa ser caricata, ela também pode ser top drag. Basta acreditar e correr atrás.
– Como prêmio, você terá mais uma performance na Blue Space. Gostaria de dividir o palco com alguma outra top drag queen?
Gostaria de dividir o palco com a Lysa Bombom, que é muito querida. A Dany Cowlt, a Talessa (Top), a Alexia Twister, que é um exemplo de pessoa e uma verdadeira camaleoa em cena. Também adoro a Marcia Pantera e a Marcinha do Corinto, que tem uma postura incrível em cena.
– O que achou dos comentários de que sua vitória não foi justa?
Bom, pretendo melhorar mais e mais, sempre. Ainda sou iniciante, sim, apesar de ter alguns títulos. Para algumas pessoas, posso realmente não ser a melhor, mas acho que se eu ganhei é porque me destaquei em algo. Cada um tem o seu estilo e a gente tem que entender que drag queen não é só bate-cabelo. Tem drag que é DJ, tem drag que é hostess, tem drag que fazem outros tipos de performances. Eu gostaria que as pessoas tivessem respeito, pois não é fácil estar lá no palco. Com respeito, todo mundo caminha mais longe.