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Psicólogo Pedrosa Responde: Como ser passivo sem sentir dor?

Caro psicólogo, tenho 56 anos e assumi a pouco tempo uma relação homossexual com um rapaz de 36 anos. No começo, eu era ativo na relação e tudo ia bem. Acontece que, de uns tempos para cá, ele vem manifestando vontade de me penetrar e eu não gosto, porque me dói muito. Ele diz que é porque não aceito minha homossexualidade, por isso ser passivo mexe com minha homofobia. Sei que as coisas não são fáceis para mim, mas confesso que é impossível sentir prazer com dor. Nossa relação vem ficando morna, ultimamente. Essa questão da dor seria um sintoma meramente psicológico? Obrigado. Renato (Porto Alegre – RS)

No seu caso, o fato de você não querer ser passivo não tem nada haver com homofobia. Temos uma explicação mais plausível para este seu comportamento. O sintoma de dor que não deixa você ser penetrado, numa visão da psicologia tradicional, poderíamos dizer que é psicológico. Numa visão da análise do comportamento, que é uma ciência que explica as coisas de uma forma diferente da psicologia tradicional, diríamos que a dor é uma questão de contingência de reforço. Existe algo físico também: como você não relaxa na penetração anal você sente dor, associando penetração com dor.

O comportamento de ser passivo ou ativo na relação homossexual é determinado basicamente pelas contingências de reforço. O que é isto? Este termo técnico da psicologia comportamental (ou análise do comportamento) refere-se a relação que existe entre o organismo (a pessoa) e as estimulações ambientais (estímulos que as pessoas recebem).

Por exemplo, se toda vez que uma criança escovar os dentes você fizer um carinho nela podemos dizer que você está contingenciado o comportamento de escovar os dentes na criança, aumentado a probabilidade deste comportamento acontecer no futuro. Pois, carinho é um reforço positivo que permite o aumento da frequência de um comportamento que queremos adicionar ao repertório comportamental da pessoa. O contrário, se toda vez que a criança escovar os dentes você bater na criança, punido-a, você vai diminuir a frequência deste comportamento. Ocorrerá um reforço negativo de fuga/esquiva, ou seja, haverá a probabilidade de diminuir a frequência do comportamento de escovar os dentes na criança. O reforço negativo subtrai um comportamento do repertório da pessoa.

No seu caso este princípio da análise do comportamento é o mesmo. Você contingenciou o comportamento de ser ativo na relação sexual, numa história de reforço positivo, ou seja, você fez muitas vezes isto e foi prazeroso. Ser ativo é reforçado positivamente. Já ser passivo é aversivo para você, pois você não relaxa e sente dor. Dor entra como uma punição neste caso, então você evita praticar o sexo passivo (reforço negativo de esquiva). Podemos dizer que você sensibilizou o seu organismo para ser ativo.

Para você ser passivo, você tem que reforçar positivamente este comportamento. Ao invés de dor você tem que sentir prazer. Com a prática e a repetição você conseguirá. Dicas para você: 1. peça para o seu parceiro fazer o Beijo Grego em você, que consiste nele passar a língua no seu ânus; 2. em seguida,  peça para ele fazer uma massagem anal, colocando bastante gel  no dedo e introduzir devagar no seu ânus: 3. relaxe e respire fundo; 4. quando estiver bem relaxado peça para ele introduzir dois dedos; e 5. finalmente ele poderá introduzir o pênis em você com camisinha e bastante gel lubrificante. Você deve praticar muitas vezes os pontos 1, 2, 3, e 4. No mínimo 10 vezes. Quando começar a sentir bastante prazer na massagem anal e tiver relaxando bem vá para o ponto 5. Boa sorte! E sucesso na nova vida de versátil.

*João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro “Segundo Desejo” (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site.

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