Em primeiro lugar, gostaria de dizer que sou admirador de seus artigos no site A Capa já de um longo tempo. O senhor trata com propriedade de assuntos ligados ao universo gay e contribui muito para a diminuição do preconceito externo e principalmente entre nossos pares.
Sou gay não assumido no trabalho e convivo com um amigo num estabelecimento de ensino e percebo indiretas dele a respeito da homossexualidade. Existe um clima de atração entre nós, ele nunca é muito claro, mas está sempre fazendo comentários sobre homens bonitos ou com pênis avantajados, ou então situações de homens casados que fazem sexo com outros homens. Esse tipo de comentário é insistente e sempre acontece quando estamos juntos ou pego carona com ele.
Tudo isso me deixa desconcertado e muitíssimo excitado. Mas existe a questão de além de ser um cara do meu trabalho, é um sujeito casado com uma mulher e pai de três filhos. Percebo em mim componentes fantasiosos. Toda a situação mexe muito com minha fantasia e tenho medo de levar essa questão adiante, até por ele nunca ter falado de nenhuma experiência dele (não sei se ele sonda o terreno). Assim temo me expor e ele simplesmente fugir da raia (ou então expor o assédio aos colegas), apesar de todos os indícios de bissexualidade e da sedução reinante.
Já levo essa história com bastante incômodo, mas percebo também que há algum ganho secundário meu nisso tudo. Em meio às dificuldades de relacionamento afetivo que tenho, vejo que talvez esse cara seja uma espécie de "bote salva vidas". Não sei mais como conduzir essa situação, se saio fora de vez ou sou assertivo com o sujeito pagando pra ver a experiência. Tide (Rio de Janeiro – RJ)
Caro Tide, seu relato é relativamente comum entre gays que apresentam alguma dificuldade em manejarem a sua homossexualidade. São gays que não aceitam a sua orientação sexual e vivem na clandestinidade, escondendo o seu verdadeiro desejo. Como eles ficam muito privados de uma vida sexual e afetiva com outra pessoa do mesmo sexo se envolvem facilmente com alguém que sinaliza uma possível homossexualidade. É comum, também, o relato de fantasias que é um efeito colateral da privação.
A privação do sexo gay pode levar a esta condição de fácil envolvimento com alguém que emite dicas. É o caso deste seu colega de trabalho que emite possíveis dicas da homossexualidade dele.
O problema é que não sabemos a funcionalidade dessas dicas: podem ser falsas, pode se assédio moral – homofobia, ele pode te desejar e ser um gay "enrustido" casado com mulher, entre outras. Acho que se ele quisesse algo com você seria mais direto, não ficaria te provocando. Seria uma hipótese mais provável.
O conselho que te dou é "pular fora". Apesar da forte homofobia que ainda reina na nossa cultura o gay hoje tem várias alternativas para arrumar um parceiro para sexo casual ou relacionamento, como: internet, saunas, casas noturnas, bares, entre outras. Aí no Rio de Janeiro existem várias opções onde você pode encontrar pessoas. Boa sorte. Feliz ano novo.
*João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro "Segundo Desejo" (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site.