Psicólogo, eu gostaria de saber se existe algum tratamento para deixar essa vida de homossexualidade, pois desde pequeno apenas sofri bullying e era muito ruim… Sempre ficava sozinho nas brincadeiras, as outras crianças não queriam nem sentar próximas a mim. Aí fui crescendo, as brincadeiras continuavam e eu só encantava as pessoas me fazendo de palhaço, o que nunca foi muito bom para mim. Nunca namorei um outro homem, primeiro porque minha família não aceita (católicos fervorosos!) e segundo porque o mundo gay impõe que eu seja uma coisa que não sou: alto, rico, sarado, influente, lindo (um mundo cheio de preconceitos na minha opinião). Cansado de tanta futilidade, de tentar ser o que não sou desisti dessa vida, pois acredito que o que faz um homem querer outro é a obra do demônio! Estou perguntando porque já mantive relações com pessoas do mesmo sexo (para mim ser gay é promiscuidade, apenas e unicamente sexo) e está sendo difícil deixar essa vida (dois meses sem transar com homens, graças a Deus) assim de uma vez. O senhor me aconselharia algo? Preciso que o senhor tire essa dúvida da minha mente, pois é uma coisa que não desejo para ninguém passar pelo que passei, uma vida que pode até acabar levando muitos gays para o caminho das DSTs e do HIV! Muito Obrigado! Bruno
Bruno, não existe tratamento para deixar de ser gay, porque não existe nenhum método ou procedimento, seja médico ou psicoterápico, capaz de reverter a orientação sexual de alguém. Na época em que a homossexualidade era vista como doença pela comunidade científica, muitas tentativas foram feitas e nenhuma com sucesso, como tratamentos hormonais, terapia de aversão, entre outros.
Por que estas experiências não deram certo? Porque o desejo sexual, que ocorre a partir da orientação sexual da pessoa, é determinado filogeneticamente, ou seja, já nascemos com uma suscetibilidade genética para sermos gay ou hétero. O desejo não é algo cultural ou algo que foi adquirido no ambiente. Esse desejo sexual é "despertado", ou se quisermos usar a expressão científica, é disparado por estímulos ambientais já na infância. E por contingência de reforço ele é fixado no repertório comportamental do indivíduo. Esse fenômeno ocorre com os héteros e os gays.
Nos dias de hoje entendemos que a homossexualidade não é uma doença nem um distúrbio emocional, portanto, não merece tratamento. Muitos gays adoecem por não aceitarem a sua homossexualidade. Desenvolvem depressão, pânico, disfunções sexuais, entre outras. Aí sim esses gays precisam de tratamento para curarem estes distúrbios emocionais, não a homossexualidade.
Como você foi criado num ambiente religioso, talvez esteja aí a sua dificuldade em aceitar a sua homossexualidade. Provavelmente essas suas colocações com relação a homossexualidade tenha a funcionalidade de fuga/esquiva da sua própria homossexualidade quando você acredita que: é obra do demônio; o mundo gay é de futilidade, preconceito e promiscuidade. Existem muitos gays dignos, responsáveis e bons profissionais. Essa história de associar gay a futililidade e promiscuidade tornou-se um mito para desqualificar a pessoa homossexual e é utilizado justamente por aqueles que são homofóbicos ou não aceitam a sua orientação sexual.
Antes de mais nada um gay é um ser humano com "defeitos" e "qualidades". Assim como os héteros, temos gays fúteis e promíscuos. Agora, generalizar como você fez não corresponde à realidade.
Você me pede um conselho. O que tenho para te dizer é que como você não vai deixar de sentir o desejo homosssexual é necessário que aprenda a conviver com ele e se sinta feliz sendo gay. Num primeiro momento, procure ajuda profissional numa psicoterapia que poderá ser de grande valia para o seu processo de autoaceitação. Depois procure se relacionar com outro homem gay para que você possa vivenciar o sexo homossexual, que é o que a sua natureza clama. Com o tempo sentirá que não faz nada de errado e que ser gay é tão normal como ser hétero. Boa sorte.
* João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro "Segundo Desejo" (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site.