Olá doutor.Tenho um relato a lhe fazer e gostaria de contar com a sua ajuda. É o seguinte: tenho 27 anos, sou homossexual e tinha um relacionamento de dois anos e meio que terminou recentemente. O grande problema é que nos amamos, mas acabamos terminando pelo fato da família dele pressionar muito nossa relação (ele contou pra mãe dele no começo do nosso relacionamento que era homossexual).
Ele se sente culpado, diz que não aguenta vê-la sofrer cada vez que nos encontramos. Que sentia-se muito mal pelo fato de não poder me dar o tempo que mereço e não satisfazer a família também. Então optou pelo fim do relacionamento, disse que morando com os pais e vivendo assim ele não se sentia bem. Que pretendia colocar a vida em ordem, morar só, pra não ter de dar satisfações a ninguém. E que se não conseguisse, que ele achava melhor não viver. Eu disse a ele que, em primeiro lugar, precisa se aceitar, não achar errado ou "com defeito" ser homossexual, pois não há maldade alguma no amor entre duas pessoas, não importando o sexo.
Pedi pra ele tentar conversar com ela. Fazê-la entender a situação ou ao menos respeitá-lo. Mas ele disse que não adianta. Continuamos amigos, mas quando ficamos só, não conseguimos nos segurar. E o sofrimento piora. Ele com medo de me iludir, reluta em estar comigo e eu, quando estou com ele, crio esperanças que tudo pode ser diferente. Queria saber se essa maneira de agir, se anulando pra agradar a família é a maneira mais correta. Eu acho que não. O que o senhor acha? Gosto muito dele e gostaria de ajudá-lo a sair dessa angústia. Grato desde já. Will (São Paulo – SP)
Obrigado pelo contato. Este é o principal drama de muitos homossexuais: o medo da punição da família e dos pais pelo fato de serem gays. Infelizmente, a maioria dos pais não aceita a orientação sexual homossexual dos seus filhos. Assim sendo, muitos gays se esquivam da sua homossexualidade não assumindo para a família, arrumando namoradas para disfarçar, casando com mulher, ou mesmo, como é o caso do seu ex, sucumbindo a pressão familiar para que não se relacione com outro homem.
Pelo seu relato parece que você é uma pessoa bem desencanada em relação a sua homossexualidade, ao contrário do seu ex. Para ele, talvez, seja mais difícil vivenciar a homossexualidade: pela educação que teve, a relação dele com a mãe, enfim são muitas variáveis que determinam o repertório comportamental de uma pessoa. Cada pessoa tem uma história de vida bem particular e reage diferente as questões colocadas pela vida. Anular-se para satisfazer a família parece que não é um bom caminho, concordo com você. Talvez, para ele se esquivar de um relacionamento gay seja a melhor atitude no momento para não ser preterido pela mãe.
Acho que você pode ajudá-lo a superar este momento. Algumas dicas para você: incentivá-lo a ser independente financeiramente; morar só (este já é um desejo dele); não pressioná-lo para conversar com a mãe (parece que ela é homofóbica); pois o enfrentamento com os pais deve ocorrer quando ele tiver uma base sólida de sobrevivência sem depender deles; e continue ao lado dele, sem pressioná-lo, respeitando o tempo dele. Quem sabe? Com sua amizade, companheirismo e paciência ele volte para você.
* João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro Segundo Desejo (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site http://www.syntony.com.br/.
