Estou me relacionando com uma moça faz 10 anos. Nossa vida sexual é morna, fazemos sexo de vez em quando. Ela não me procura muito. Eu também não faço muita questão. Ela é um moça boa, dedicada e batalhadora. Gosta de cuidar de mim. Sempre tive uma vida paralela saindo com carinhas que conheço na net. Tenho uma f*da fixa que é um padre do interior que conheci numa sauna. Encontro com ele quando ele está de folga para sexo ativo. Não tenho interesse em sair com mulher. Quando saio é porque estou na farra com o pessoal do trabalho e aí vamos zoar com umas p*tas na rua Augusta. Não me considero gay e sim bissexual. O que o senhor diz disso?Vitor (São Paulo – SP)
Vitor, a questão da bissexualidade é sujeita a controvérsia. O que se divulga na literatura é que a bissexualidade é um terceiro tipo de orientação sexual. Esse ponto de vista é defendido por muitos teóricos. Talvez, ainda, influenciados pelo trabalho (década de 1940 – EUA) do sexólogo norte-americano Kinsey, que na época defendeu a ideia de que todos nós nascemos bissexuais. Ele criou uma escala de 0 a 6 de hétero a homo, e classificou a população dentro dessa escala obtendo uma distribuição estatística em forma de sino. Hoje se sabe que este modelo criado por Kinsey é um modelo morto que não corresponde à realidade. Essa opinião é do neurocientista e pesquisador Dean Hamer (EUA), que na década de 1990 fez uma extensa pesquisa sobre gene e homossexualidade.
A equipe de Hamer concluiu que a orientação sexual em homens não é em forma de sino contínua, mas um jota bimodal. Numa extremidade alta do J, concentram-se 95% dos homens heterossexuais e, em outra extremidade, a perna do J, os 5% dos homens homossexuais. Ele, a cientista Angela Pattatuci (Universidade de Illinois – EUA) e equipe chegaram a essa conclusão depois da análise criteriosa de 114 famílias com homossexuais.
Portanto, existem duas orientações sexuais: a majoritária (heterossexual) e a minoritária (homossexual). E o que seria a bissexualidade? Não é um tipo de orientação sexual, mas sim um tipo de comportamento sexual atípico. Menos de 2% de qualquer população se declara bissexual.
Numa importante pesquisa realizada no Brasil, 92,0% dos homens entrevistados se declararam heterossexuais, 6,1% homossexuais e 1,8 % bissexuais (pesquisa intitulada Estudo da Vida Sexual do Brasileiro compreendeu 7.103 entrevistados em 13 estados, dos quais 54,6% do sexo masculino e foi realizada pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo em 2002).
Comprovei essa ideia de Hamer. Na minha experiência clínica, atendi e atendo muitos homens que se dizem bissexuais. Quando pesquisamos mais a fundo o histórico desses clientes, fica evidente que a preferência da maioria é pelo sexo gay. Mas então por que saem com mulheres e/ou são casados com mulheres? Aí, cada caso é um caso. É a tal da idiossincrasia ou história única do indivíduo e a funcionalidade dos seus comportamentos. Muitas vezes a funcionalidade é uma fuga/esquiva da punição homofóbica.
Você é um exemplo típico: sua orientação sexual é homossexual (tem frequência maior de sexo gay) e mantém relação hétero quase que exlusivamente com a sua mulher, ou seja, apresenta um comportamento sexual bissexual, no entanto, você é orientado para a homossexualidade.
A maioria dos gays não apresenta o comportamento sexual bissexual. A prática sexual é exclusivamente em consonância com a sua orientação sexual, ou seja, o sexo homossexual. Uma minoria dos gays apresenta o comportamento bissexual. Mais raro, ainda, é um homem orientado para heterossexualidade que pratica o sexo gay. São comportamentos mais complexos onde outras variáveis controlam o comportamento desses indivíduos.
* João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro "Segundo Desejo" (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site.
