Tenho 32 anos, sou gay, mas não sou assumido no trabalho. Sou supervisor de vendas numa empresa de bebidas. Faz algum tempo que um outro supervisor me enche o saco porque desconfia que sou gay. Apesar de não ser nada efeminado, mas pelo fato de ser solteiro e não apresentar namoradas, ele fica em muitos momentos gesticulado para mim, falando fino e me chamando de Crô, personagem da novela "Fina Estampa". Isso me incomoda muito. Acho que estou desenvolvendo uma depressão. Fico pertubado e não tenho vontade de ir trabalhar. Como devo proceder? Jorge (São Paulo – SP)
Caro Jorge, a situação que você relata é muito comum, principalmente quando a homossexualidade da pessoa é evidente, por exemplo, quando o gay é efeminado.
Em algumas situações o comportamento da pessoa em ficar falando e gesticulando de forma caricata imitando um gay efeminado ou uma travesti na presença do gay que não é assumido tem a função homofóbica de punição para desqualificar o homossexual. Denota assédio moral. Situação que mina a autoestima do homossexual.
Já quando o gay é assumido e é reforçardor ter o comportamento caricato, tipo o Crô da novela, ele não encara isso como uma punição. Pelo contrário, nesse contexto, soa como um reforço positivo à brincadeira. O que não é o seu caso.
No imaginário popular o gay é aquela pessoa histriônica: que ostenta exagero nos gestos, na maneira de se expressar, de se vestir e é efeminado. O protótipo desse gay é o Crô, que Aguinaldo Silva reeditou na novela Fina Estampa. É o tipo de gay que faz sucesso na mídia. Amado pelas crianças e pelas senhoras, seu comportamento espalhafatoso agrada muitas pessoas. Vide a travesti Valéria, do Zorra Total. Esse tipo de personagem estava meio demodê, agora volta com força na mídia. Ultimamente com a visibildade da população gay na mídia esta imagem começou a ser desmistificada com a inclusão de gays masculinizados nas novelas.
Como você deve agir? Sugiro que converse com o seu colega e relate que você não se sente bem sendo comparado com um personagem de novela e peça para ele parar. Caso a conversa não tenha efeito fale com o seu chefe e relate a situação.
Caso nenhuma dessas situações resolvam, você pode abrir um processo judicial por assédio moral. É uma medida extrema que tem consequências, ou seja, a sua exposição. Por isso muitos gays dessistem de ir por esse caminho.
Uma sugestão final, talvez, seja o caso de você procurar ajuda psicológica para criar repertório de como lidar com situações de assédio moral. Receba meu afetuoso abraço e solidariedade.
*João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro "Segundo Desejo" (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site.