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Psicólogo Pedrosa Responde: Tenho 23 anos, sofri bullying e me sinto pecador por ser gay, como lidar?

Tenho 23 anos de idade. Não sinto vontade de fazer sexo. Sou virgem e não me masturbo. Gosto de ver sites gays e ver fotos de homem nu, mas fico com remorso depois. Acho que estou pecando. Fui criado numa família evangélica que sempre achou que a pratica do sexo gay era errada. Fui vítima da homofobia na escola e entre os primos com quem convivi quando criança. O bullying na escola foi intenso. Por ter sido uma criança gay efeminada apanhei muito na escola dos coleguinhas e sofri preconceito de alguns professores que ficavam fazendo piadinhas comigo. Tenho depressão e penso em me suicidar. Aos 20 anos de idade comecei a ter TOC de limpeza (transtorno obsessivo-compulsivo). Parei de estudar apesar de ter sido sempre o primeiro da classe e ter passado em todos os concursos que fiz sempre entre os dez primeiros colocados. Não quero trabalhar. Fico pouco tempo nos empregos com medo do que as pessoas vão fazer comigo. Não saio de casa com medo e a minha vida se resume a passar o dia limpando a casa com álcool e ir para igreja. Já fiz tratamento com um psiquiatra que frequenta a minha igreja, mas desisti. Ele era homofóbico. O senhor pode tecer algum comentário sobre o meu depoimento? Joe (Interior do Estado de São Paulo).

O termo bullying é usado para nomear comportamentos que denotem agressões verbais e físicas dirigidas às pessoas que fogem do estereótipo reforçado pelas práticas culturais. São vítimas do bullying: obesos, magros, homossexuais, negros, deficientes físicos, entre outros. O bullying inclui xingamento, apelido de má fé, agressão física, mexerico, crítica persistente e colocar o outro em situação humilhante.

Essa discriminação dirigida às pessoas ‘diferentes’ sempre existiu nas culturas. Parece que faz parte da natureza humana isolar, humilhar ou mesmo sacrificar os que não se encaixam nas regras estabelecidas pela cultura. Algumas tribos indígenas do Alto Xingu no Brasil praticam o infanticídio sacrificando os bebês que nascem com deficiência física ou que são diferentes, como albinos e gêmeos.

O bullying é uma punição pelo outro ser diferente. É praticado em todos os ambientes. Entre adultos no ambiente competitivo das empresas e em grande escala nas escolas. A prática desse tipo de violência está presente entre crianças e adolescentes de todas as classes sociais. O bullying praticado pelos meninos e rapazes caracteriza-se em punir sua vítima, geralmente, usando a agressão física e o xingamento. Já as meninas e as moças usam outras formas de punições mais sutis: apelidos, isolamento do grupo, comentários sarcásticos, entre outros.

Para estudiosos dos comportamentos, os psicólogos, o bullying pode causar sérios danos ao desenvolvimento emocional da criança, a sua autoestima e interferindo na formação do seu repertório comportamental, fortalecendo comportamentos de fuga e esquiva. Como efeito colateral teremos crianças que não reforçaram comportamentos adequadas de enfrentamento de ambientes, as chamadas crianças tímidas, ansiosas e fechadas. Elas com medo da punição da comunidade ao qual pertence e isolam-se dos contatos sociais.

Sobre você, o que poderei te dizer? Você deve ser um cara maravilhoso, inteligente e merece, como todos nós, ter uma vida digna. Porque sua vida é emocionalmente miserável. Dignidade significa você poder expressar livremente sua orientação sexual e procurar viver sem se preocupar com o que os outros pensam de você, seja você um gay efeminado ou não. Ter um trabalho é importante para você. Você parece ser um cara com um potencial incrível.

Penso que você deve procurar ajuda psiquiatra num primeiro momento para revolver a depressão e o TOC. Uma terapia com um psicólogo poderá ser de grande valia para você. Procure um profissional que não seja ligado aos grupos religiosos homofóbicos. Creio que você sozinho dificilmente conseguirá dar uma guinada na sua vida. Receba meu abraço fraterno.

* João Batista Pedrosa é psicólogo (CRP 06/31768-3) e autor do livro "Segundo Desejo" (Iglu). Envie suas dúvidas e perguntas para pedrosa@syntony.com.br. Acesse também seu site.

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