Por Jonatas Silva Macedo
Certa ocasião, fui questionado sobre qual seria minha opção sexual. Respondi: "Nenhuma".
Questionado sobre minha orientação sexual, respondi: "Hétero".
Isso porque "opção" é algo pelo qual se opina e eu não optei por ser como sou. E "orientação" é aquilo pelo qual fomos orientados ser, e eu como todos fui orientado a ser hétero.
Quando se fala em condição sexual se fala da forma que somos. Algo pelo qual não optamos ou fomos orientados a ser, simplesmente nascemos assim.
Ninguém opta por ser hétero, gay, bissexual etc. Você pode optar viver sobre alguma dessas condições, porém, dentro de você os seus desejos pedirão por aquilo que você deseja de verdade.
Quando percebemos que somos diferentes, que nascemos sobre uma condição diferente da maioria, somos orientados por muitos a nos adaptar e a viver como os demais. Mais isso também é inútil. Ninguém é feliz vivendo o que não é. Não se aceitando como é.
Crescemos com a crença de que o certo é ser hétero, qualquer outra condição é errada, contra as leis de Deus, é semvergonhice, opção, um demônio. Qualquer outra coisa, menos uma condição sobre a qual nascemos.
Me vêm em mente algumas perguntas:
"Quem gosta de sofrer preconceito?", "Quem gosta de ser rejeitado?", "Quem gosta de ser apontado como pederasta, promíscuo, endemoniado, semvergonha etc?" Ninguém.
É difícil para um gay, uma lésbica, um bissexual se aceitar, quando se vive em uma sociedade onde estão taxados o "certo" e o "errado".
Quando nos descobrimos diferentes, ficamos assustados, com medo. Procuramos ser iguais, viver como os demais. Mas não conseguimos. Percebemos que não estamos comento crime algum em sermos nós, em sermos como somos. Não há o que mudar, do que se libertar. Nascemos assim.
Podemos camuflar, criar uma vida fictícia moldada aos exemplos da sociedade, mas seremos infelizes, amargurados. Só se é feliz quando se aceita e se vive como é.
Quando me descobri gay, passei por crises de busca de libertação, não aceitação. Era difícil para um adolescente vindo de um família evangélica, filho de pastor, se aceitar como gay.
Com o tempo fui conquistando minha independência, conhecendo pessoas e pessoas, analisando o meu caráter, meus objetivos. Percebi que existem gays na polícia, na Marinha, no Exército, na Aeronáutica, assim como existem héteros. Existem gays médicos, advogados, professores, assim como existem héteros. Existem gays na política, gays ladrões, promíscuos que só vivem de sexo e para o sexo, assim como existem héteros.
Ser gay só diferencia a forma do prazer sexual e conjugal que é sentido pelo igual, fora isso somos todos iguais.
Me aceitando como eu era, tinha chegado a hora de minha família e amigos me conhecerem a fundo e me aceitarem também. Precisei antes conquistar minha independência. Cada caso é um caso e para cada ação existe uma reação. Se eu fosse rejeitado, eu precisava ter uma segurança.
Contei para todos do meu convívio. Para os que questionavam o fato de eu ser gay, eu questionava o fato de eles serem héteros. Quem pedia para eu tentar ser hétero eu pedia para tentar ser gay, se eles conseguissem ser gays, eu também conseguiria ser hétero.
Dizia isso para fazê-los entender que ninguém vive sob orientação ou opção sexual, vivemos sob a condição sobre a qual nascemos. Gays, héteros, lésbicas, bissexuais…
* Jonatas Silva Macedo é leitor de A Capa e autor do blog http://jonatassilvamacedo.blogspot.com/.