Ontem, conversando com uma amiga angustiada com um mal estar entre ela e a sua namorada, percebi o quanto perdemos por puro medo de perder. Isso vocês já estão cansadas de saber. E por que, mesmo assim, muitas vezes repetimos os mesmos erros?
A situação era a seguinte: sua namorada, a Márcia, havia voltado de uma viagem a trabalho, relativamente curta, e telefonou para a Helena, contando como havia sido sua estadia no outro estado e tal. A Helena, por sua vez, estava cheia de saudades da Márcia e esperando ouvir dela românticas declarações de amor.
Como a Márcia esperava o mesmo da Helena, ficaram as duas fazendo charme no telefone e não disseram da vontade de ser encontrar naquela noite, após uma semana longe uma da outra. “Ai, amor, eu estou tão cansada…”, comentou a Márcia, na intenção de ouvir a resistência da Helena, insistindo em chamá-la para sair, dizendo o quanto morrera de saudades e fazia questão em vê-la.
Mas a Helena também estava esperando ouvir da Márcia a mesma coisa e, ao ouvir sobre o seu cansaço, decidiu se calar e respeitar o momento da parceira, mesmo tendo se sentido excluída daquela forma, quando, na verdade, esperava apenas se sentir desejada pela companheira. Resultado: cada uma foi para o seu lado com outro sentimento além da saudade, o de não ter sido querida, desejada.
Um pouco mais tarde a Márcia liga para dizer que foi ao teatro sozinha e a Helena se contrariou com a situação. Primeiro porque queria ter visto sua amada e ela havia dito que estava cansada e, no entanto, havia ido ao teatro. E pior, sozinha. Segundo porque lhe pareceu ainda mais esquisito da parte da Márcia. A Márcia ligou, provavelmente, com um pouco de rancor da companheira querendo fazer o típico draminha de quem não se sentiu desejada após o regresso da viagem e não teve outra opção senão ir ao teatro sozinha, abandonada, entregue às moscas. Elas se estranharam ainda mais e desligaram o telefone muito mais angustiadas.
Por que isso acontece quando amamos alguém e quando principalmente, queremos apenas estar ao lado dessa pessoa? Será que nós não aprendemos a demonstrar os nossos sentimentos corretamente? Será que fomos orientadas a fazer “charminho” para ouvir certas declarações?
O amor não é um jogo. Se sentir insegura, às vezes, faz parte. Visto que somos seres humanos frágeis e sujeitos a aprovações ou desaprovações da sociedade e das pessoas que admiramos e queremos por perto. Mas isso não pode – e não deve – nos levar a cometer erros tão pequenos, que muitas vezes terminam por criar mal-entendidos incansáveis e desgastantes dentro de uma relação.
Todo ser humano, no fundo, quer apenas amar e ser amado. Até aqueles mais perversos e assustadores precisam apenas de um olhar de afeto, de um sentimento de amor para que suas vidas valham à pena. E isso é com todo o mundo. Também com as nossas namoradas, mulheres, parceiras e amigas. Tudo o que precisamos fazer para evitarmos situações tão corriqueiras e desgastantes como essa, sendo o relacionamento novo ou maduro, é amar com toda a nossa força, verdade e transparência.
Quando eliminamos o medo dentro de uma relação e aprendemos a nos despir, deixando nossas almas nuas, vemos que a insegurança também se vai, simplesmente pelo fato de termos sidos feitos para amar e sermos amados.
Nada melhor que a demonstração de afeto, carinho e amor para cuidar de qualquer relação. Ainda mais quando amamos aquela pessoa e a queremos ao nosso lado. Dizer nunca é o suficiente porque se sentir querida e desejada é fundamental dentro de um relacionamento. Às vezes não dizemos com palavras, mas com gestos e olhares.
Numa situação como essa o ideal seria a Márcia e a Helena, que tanto se gostam, terem abandonado a insegurança ou o “jogo” e falado com os seus corações. Ou então, depois da situação de desconforto, uma ou outra parar, refletir e ceder. Podia ter sido com uma mensagem da Helena no celular da Márcia, dizendo o quanto gostaria de estar com ela no teatro; podia ter sido a Márcia ido, após a peça, à casa da Helena de surpresa; podia ter sido qualquer outra atitude que não a de se estranharem e esperarem demais uma da outra.
Afinal, dar amor é tão bom quanto receber. E aposte nisso: sempre que damos amor, recebemos amor em troca. Porque tudo o que o coração quer é amar.