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Quanto Absurdo

Muitas vezes nos deparamos com aquele velho chavão de “eu não entendo, uma menina tão bonita como você poderia ter o homem que quisesse” ou pior “eu não entendo como um homem pode não gostar de mulher” ou “eu não entendo o que leva uma pessoa a vestir-se com gênero diferente do dela” ou “seu rosto é tão bonito, não entendo porque você não é magra”.

“Não entendo” pra mim é sinônimo de “não aceito”.

Nessa salada de informações e polêmicas, eu pergunto, o que você, leitor desse humilde blog, não entende? Sim, porque muita gente não entende nada, mas ninguém nos pergunta: O que te choca?

Aqui, eu falarei por mim. E acredito que muitos dividem o mesmo sentimento.

Mulheres peladas na televisão me choca. Eu não aceito. Sim, elas estão peladas! Eu sinto vergonha alheia daquelas mulher expondo-se ao absurdo de mostrar seus órgãos sexuais, vergonha pelas esposas que estão próximas de seus maridos babando com um ser humano ao seu lado. E vergonha das filhas e netas que presenciam uma visão míope da realidade de seus corpos.

Aí todo mundo tem opção. Então tá, muda de canal e uma gostosona está fazendo propaganda de óculos de grau vestida de biquíni (!). Se televisão tivesse cheiro seria tão agradável um bunda esfregada na sua cara depois do almoço?

O que eu faço a respeito? Troco de canal e escrevo.

Me choca gente que ainda joga lixo na rua e sofá no córrego.

O que eu faço a respeito? Assisto e escrevo.

Me choca receber uma multa por andar no corredor de ônibus quando naquele dia e horário um marronzinho estava mandando todo mundo pegar o corredor em razão de um acidente que fechou as outras pistas. Me choca também a quantidade de buracos nas ruas. O que eu faço a respeito? Recorro a multa e se acatarem bem, se não acatarem, azar o meu.

Meia branca de algodão com calça social me choca. O que eu faço a respeito? Dou risada.

Não entendo gente que dá o rosto pra beijar mas não faz estalinho. O que eu faço a respeito? Agarro novamente e peço um beijo com estalinho.

O consumo acelerado de coisas que não precisamos realmente me assusta. O que eu faço a respeito? A minha parte.

Desconfio de gente que entra em redes sociais sem foto no perfil. O que eu faço a respeito? Não aceito como amigo.

Gente que grita pela janela do ônibus: “E aí vagabunda, que saudade!” Vagabunda não é ruim? Sei lá. O que eu faço a respeito? Finjo que não conheço.

Uma pessoa achar que o estado de SP ser 33% do PIB nacional é legal, me decepciona. Poxa, legal seria se todos os estados do país tivessem seu PIB fortalecido e o estado de SP fosse 1000 vezes melhor por não precisar dividir tanto seus lucros com a união. Concentração de renda não é bom pra ninguém.O que eu faço a respeito? Discuto e escrevo.

Me faz rir o Luciano Huck e a Angélica na capa da Veja como exemplo de casal moderno. Como assim exemplo? Eu adoro os dois como pessoas da mídia mas não sei se eles tratam bem as pessoas mais próximas e um ao outro. Não tenho a menor idéia de como se comportam em sua intimidade. Exemplo, pra mim, são os casais que na dificuldade real superam seus problemas e continuam juntos até na pobreza.O que eu faço a respeito? Não compro a revista.

Me choca o corporativismo do tapinha das costas.O que eu faço a respeito? Lamento.

Me entristece tanta guerra e tantas pessoas com fome. Os estupros e apedrejamentos. Não aceito a violência doméstica e o abuso infantil. Ignorância e intolerância me emputece. O que eu faço a respeito? Rezo.

Me irrita gente com uma vida tão medíocre que precisa falar da vida dos outros para sentir-se vivo. O que eu faço a respeito? Desprezo.

Taxista que cita a bíblia o percurso inteiro e no final me engana fazendo caminhos mais longos para cobrar R$ 8,00 a mais na corrida é um absurdo. O que eu faço a respeito? Nada. Eu denunciaria, mas acho que isso prejudicaria o fulano e ele deve estar precisando mais do que eu.

Acho que essa lista teria mil outras coisas, mas a conclusão geral é: Se você não tem capacidade de entender, apenas aceite. Já imaginou se tudo que me choca na lista acima eu fizesse algo direto para mudar? Eu bateria no taxista, mataria pedófilos e cuspiria nos marronzinhos. E mesmo assim não resolveria.

Porque tem mil outras coisas que não entendemos e não aceitamos e que podem ser mudadas para o bem comum de TODOS e não apenas de si mesmo.

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