Para viver o lifestyle na capital paulista paga-se bem caro
Há quem diga que o gay tem muito para gastar e adora fazê-lo. Afinal, são vários os que são bem sucedidos profissionalmente, não têm filhos, nem uma extensa família para sustentar, podendo dar-se ao luxo de frequentar restaurantes da moda, clubes badalados, academias e consumindo suas marcas prediletas. E quem gosta (e pode) de gastar e de viver intensamente o chamado gay lifestyle encontra em São Paulo uma verdadeira meca. Na capital paulista são infinitas as possibilidades de lazer e entretenimento para o público homossexual disposto a abrir a carteira. Mas será que quem vive na cidade desembolsa o valor justo pelos serviços e produtos oferecidos? Ou será que gays acabam pagando mais pelo "status" de viver no centro financeiro do país?
Se colocarmos na ponta do lápis, a coisa sai cara sim. Por exemplo, o aluguel de um pequeno apartamento na região central de São Paulo gira atualmente em torno de R$ 800 a R$ 1500 reais, sem contar o condomínio. Já em se tratando de clubes, pode-se facilmente chegar a gastar R$ 150 numa noite, levando em conta que o valor de uma entrada nos clubes mais conhecidos da cidade dificilmente sai por menos de R$ 50 e soma-se a isso gastos com táxi e bebidas durante todo o fervo. Os preços dos drinques, aliás, são apontados como os maiores vilões por quem curte a noite paulistana. Em um dos clubes mais conhecidos e frequentados da cidade, por exemplo, um drinque pode sair por R$ 30. Como o mês tem quatro sábados e se tivermos em mente que muita gente não deixa de sair um sábado sequer, lá se vão, no mínimo, R$ 600.
Além disso, tem os gastos com academia (as mais hypadas da cidade têm mensalidades passando dos R$ 350), roupas e restaurantes. O produtor Bruno Hanna, 26 anos, fala sobre o assunto com conhecimento de causa. Ele mora na Frei Caneca, considerada a "rua gay" de São Paulo, e já chegou a pagar R$ 2.000 no aluguel de um apartamento que dividia com mais três pessoas. "Como rachávamos, não saía caro. Mas pagava-se muito mais a localização do que o imóvel em si", reconhece. Apesar de considerar que morar naquela região traz diversas vantagens para um gay, como a atmosfera mais tolerante e oferta de produtos específicos, o produtor percebe que existe um superfaturamento nos preços de produtos e serviços se comparados com os praticados em diferentes zonas da cidade." Isso talvez pelo mito segundo o qual o gay tem dinheiro. "Eu, por exemplo, acho o mercado do Shopping Frei Caneca um absurdo. Sempre com alguns produtos mais caros comparados aos outros estabelecimentos similares. O negócio é pesquisar", orienta.
Já quem não abre mão de ter o armário cheio de peças de grifes internacionais dificilmente consegue economizar fazendo pesquisa. Em São Paulo estes produtos são realmente caros e quem pode adquiri-los fora do país não deve pensar duas vezes." Eu costumo usar Calvin Klein, Hollister e Nike, e é possível encontrar todas aqui. Mas não vale a pena, não são preços justos", diz Bruno Hanna.
NÃO É SÓ EM SÃO PAULO
No Rio de Janeiro, onde a presença gay também é muito forte em bairros como Ipanema, a coisa também não é muito diferente. Na verdade, no que diz respeito ao valor para locação de imóveis, os valores podem pesar ainda mais no orçamento do que em São Paulo. Quem quiser alugar um apartamento de um quarto naquela região da Zona Sul onde está a fervida rua Farme de Amoedo dificilmente desembolsará menos de R$ 2.000.
As saídas para clubes badalados da cidade também podem ficar mais caras do que na capital paulista.
As entradas e bebidas possuem, em geral, preços similares ao de São Paulo, já as corridas de táxi costumam ser mais caras no Rio. "Acho que por ter mais turistas aqui do que em São Paulo, táxi geralmente é mais caro. Eu, por exemplo, moro na zona sul da cidade e vou sempre à The Week. Quando resolvo deixar o carro em casa, dificilmente pago menos de R$ 70 na corrida de táxi de volta para casa. É mais do que eu pago para entrar no clube", revela o analista de sistemas Gustavo Vasconcelos. O carioca conta ainda que periodicamente vem a São Paulo para visitar os amigos da cidade e diz não achar os preços paulistanos tão altos como se diz.
"A noite gay de São Paulo é cara, é verdade, mas para quem vem do Rio, esses valores não costumam assustar tanto. Algo importante a se dizer tanto sobre Rio quanto São Paulo é que ambas as cidades têm diversas opções de lazer fora do circuito mais conhecido dos grandes clubes e grandes festas. Nos subúrbios dessas duas cidades é possível encontrar baladas muitos mais baratas e tão divertidas quanto. Só é necessário calcular se vale a pena se deslocar até um local muito longe para pagar menos em entrada e consumação ou permanecer nas regiões centrais, que geralmente têm acesso mais fácil, porém são mais caras", opina Vasconcelos.
Até mesmo no Nordeste, onde até pouco tempo atrás se percebiam preços mais camaradas se comparados com grandes centros do Sudeste, a vida gay também pode sair bem cara. Segundo o designer pernambucano André Fantini, uma boa farra no maior clube de Recife chega a custar R$ 120 (entrada + drinques + táxi). Já para alugar um apartamento de 50 metros quadrados no tradicional bairro do Espinheiro está na faixa dos R$ 1.500, já com condomínio. "A diferença é pequena com relação a São Paulo, mas no fim do mês essa diferença acaba significando mais economia".
Acostumado a vir periodicamente a São Paulo, Fantini afirma que o maior vilão das noites paulistanas em comparação com as recifenses é mesmo o preço das bebidas. "Em São Paulo, se a pessoa for um pouco descontrolada alcoolicamente, vai sentir o bolso pesar muito no fim da noite. Aqui em Recife ainda é possível bebericar por preços mais honestos". Já com relação a gastos com academia e roupas de grife, o pernambucano diz que os patamares são bem próximos aos de Rio e São Paulo. De acordo com ele, o problema é encontrar roupas de marcas como Diesel e Abercrombie na cidade, mas quando encontra, as peças geralmente são tão caras quanto no Sudeste.
E LÁ FORA?
Definitivamente, não é só no Brasil que ser gay pode sair caro. Em Nova York, por exemplo, morar na área gay da cidade custa cerca de US$ 2.000 (cerca de R$ 3.600). "Isso por um apartamento muito pequeno", revela o técnico em Odontologia Oscar Rivera, morador da cidade. "Aqui sair à noite, especificamente para o XL, que é o clube da moda, não sai por menos de US$ 150 (R$ 275), às vezes pode custar muito mais que isso". Oscar nos conta ser fã da Diesel e sempre que dá uma passadinha na loja para adquirir várias peças e deixa entre US$ 500 e US$ 700 por lá. Ou seja, de R$ 900 a R$ 1200. São valores consideráveis, mas se pensarmos que aqui no Brasil uma única peça da mesma marca pode bater os R$ 1.000, o preço nova-iorquino não é algo absurdo.
Já em cidades européias, o custo de vida gay mostra que quem ganha em euro tem mesmo muitas vantagens. Morar em Chueca, bairro gay de Madri, pode custar menos de 900 euros, cerca de R$ 2.000. Já uma noite de sábado no Kluster, famoso clube gay da cidade, dificilmente ultrapassa os 50 euros (R$ 120). "Mas aqui é comum bares e boates fazerem promoções de bebidas. Há muitos descontos e drinques em dobro", conta o físico espanhol José Luis Gonzalez.
Mas o que pode mesmo causar inveja dos espanhóis por parte dos brasileiros é a chance que eles têm de comprar, por preços justos, roupas que para nós aqui chegam a custar uma fortuna. "Aqui conseguimos comprar camisetas de marcas como DSquared, Armani e D&G por 50 euros. Uma calça jeans básica de marcas como essas costuma girar em torno dos 100 euros (R$ 240)". Ou seja, se você pensar que a mesma calça no Brasil chega a ser vendida entre R$ 600 e R$ 700, já sabe: encher as malas com compras durante aquela viagem ao exterior vale, e muito, a pena. A seguir você compara o preço entre as cidades.
Morar no bairro gay – Jogação (clube + taxi + drinques) – Calça jeans Diesel
São Paulo : R$ 1500 – R$ 150 – R$ 1100
Rio de Janeiro : R$ 2000 – R$ 170 – R$ 1100
Recife : R$ 1500 – R$ 120 – R$ 1100
Nova York : R$ 3600 – R$ 275 – R$ 450
Madrid : R$ 2000- R$ 120 – R$ 240
Gasto mensal em SP: R$ 2450 = aluguel de apê no bairro gay + uma saída à noite por semana + academia da moda
*Matéria publicada originalmente na revista A Capa #55