in

Quem casa quer casa: as dificuldades de encontrar um cantinho pra chamar de seu

Quem casa quer casa. Esse velho ditado é meu lema atual. Diariamente, me inspira a caminhar por alguns bairros de Sampa em busca de um novo lugar para viver. Tudo porque, depois de três meses de namoro com um rapaz honesto, decente e trabalhador, resolvemos juntar nossas cuecas. E como típicos recém-casados, a idéia é encontrarmos, eu e o marido, um cantinho para chamar de nosso. Por ora, moro no Sumaré, e suas redondezas serviriam como ponto de partida nesta procura pelo lar doce lar. Sabia de antemão que encontrar uma casinha seria uma tarefa árdua. Os imóveis disponíveis estão à venda, revelam as faixas penduradas nos portões. Qual não foi minha surpresa ao ver uma placa de “aluga-se” num desses prédios baixinhos, com sacadas aconchegantes e trepadeiras na fachada. Ficava na minha rua, que é tranqüila, uma verdadeira terra prometida. O apartamento era térreo. Dois quartos. O proprietário pedia um valor justo. Ligamos para a imobiliária e agendamos uma visita para o dia seguinte. Perfeito. Vânia, a corretora, chegou para apresentar o imóvel desfilando suas madeixas loiras e escovadas. A conversa começou ainda no portão. Ao descobrir que éramos um casal gay, ela sentiu-se em uma dessas novelas que incluem minorias para serem politicamente corretas. “Como são bonitos, vocês. Jornalistas? Podem fazer um home office em um dos quartos”, adiantava-se. A disposição dela em fechar o negócio era invejável. “Encanamento e fiação foram refeitos. E está tudo recém-pintado. Vocês serão muito felizes aqui, estou sentindo.” Perfeito? Nem tudo é o que parece. Entramos no apartamento, e fomos recebidos por uma sala escura. Vânia tentou amenizar a decepção: “Mas não acharam espaçosa?” Ela prometeu uma cozinha repleta de armários. Realmente. Tão repleta que mal cabíamos os três. A sujeira do banheiro denunciava o novo encanamento, mas onde é que estava a janela? “Vê aquele buraco no alto da parede? Vão instalar um exaustor”, explicou a corretora. Nos quartos, não faltavam janelas. Nem grades. “Com essa violência, é preciso se proteger”, justificou, já sem muito entusiasmo. Ao menos a visita serviu para mostrar que nossa empreitada levaria tempo. Depois da primeira decepção, resolvemos seguir as dicas da Angela, uma corretora amiga nossa. Ela contou que os bairros do Centro – Barra Funda, Santa Cecília, Vila Buarque, Consolação, Bela Vista e seus arredores – estavam para o mercado imobiliário assim como o preto está para a moda. Chegando lá, entendi a comparação. Morar no Centro agora é fashion. As ruas transformaram-se em passarela para quem pretende entrar no mundo do inquilinato. Passei por lá um dia e o zelador de um prédio da região reclamou que já tinha subido no elevador umas vinte vezes para mostrar um apartamento vago. Em outro, enquanto conversávamos com o porteiro, apareceram outros interessados. Fomos obrigados a fazer uma visita guiada em grupo. Eu mesmo, enquanto procurava só pelo cantinho ideal, cheguei a cruzar com um casal de garotas por dois dias seguidos. Nem a concorrência do mercado de trabalho parece tão grande. Eu e o marido decidimos que nenhum percalço nos faria desistir. Um colega de trabalho até cogitou o golpe do destino para explicar nossa busca infrutífera: “Vocês estão juntos há tão pouco tempo, talvez não seja a hora certa.” Mas existe hora certa para um namoro virar casamento? Como já estou perto dos 30, achei três meses um bom parâmetro. “Não é esse o período de experiência para quem ainda consegue emprego com carteira assinada?”, pensei. Afinal, o que vale é o casamento durar mais que o contrato de aluguel. *Antonio Neto é jornalista e colaborador do site A Capa

Ministério da Educação de Israel reconhecerá associação gay

As fotos do Leonardo Ceni que não saíram na revista, você vê aqui