in

Quem cisma, perdoa

Quanto mais conheço as mulheres, mas tenho certeza de uma coisa, sapa é a raça mais evoluída que conheço na face da Terra. Pode ser do tipo nova, madura, vivida, imatura, séria, liberal, conservadora, não importa, quando uma lésbica cisma com outra mulher, é capaz de perdoar qualquer parada para manter o relacionamento. Quem vê de fora não acredita, mas quem passou pela experiência sabe bem como é.

Um exemplo típico: comecei a namorar uma garota que largou um casamento pra ficar comigo. Tudo lindo, tudo azul, depois de tanto insistir, finalmente consegui a mulher que eu queria, lá estava eu com a mocinha do lado fazendo figuração de casalzinho, uma conquista para o meu ego. Vivia no meu castelinho, até chegar o primeiro dia de uma sucessão de traições…

Estava em casa, sexta-feira à noite, banho tomado, esperando a princesa chegar pra gente curtir o fim de semana, 21 horas, começou a novela, e nada, nem sinal de vida, ela não aparecia, e eu ansiosa resolvi ligar. Toca, toca, toca, ninguém atende, ligo de novo, tututu do outro lado, ligo de novo, mais uma vez, uma verdadeira obssessão, e só ouvia a caixa postal como resposta.

Pirei o cabeção, não dormi a noite inteira, dor de estômago, ânsia de vômito, aquele drama sapatônico, meu chão desapareceu, meu ego atrofiou, achei que ia morrer de raiva, pensei, não tem discurso que perdoe um “perdido” desses. No outro dia o meu celular toca, era ela, toda cheia de banca, disse com a voz mais serena, estava com minha ex, a gente foi tomar uma cerveja, depois fui parar na casa dela, a gente ficou… enfim, o resto da pra deduzir.

Que que a gente faz numa hora dessas? Dá um soco na pessoa, pede para a indivídua sumir da sua vida, termina o namoro por telefone mesmo ou perdoa a infeliz? Claro que eu perdoei, ela tinha se tornado a minha cisma, o amor da minha vida, a única mulher do mundo que podia me fazer feliz. Resultado da minha boa ação: passei quase um ano inteiro perdoando as eternas recaídas dela com a ex-mulher.

As histórias se repetem, é tudo mais ou menos no mesmo nível, mas o que me comove mesmo é a capacidade que as sapas têm de perdoar, é de um espírito tão elevado que só dá pra comparar com Jesus Cristo. Por que isso, meu Deus? Tem alguma explicação científica que dê conta desse comportamento tão longânimo? O que faz uma sapa aceitar todas as humilhações do mundo por causa de um rabo de saia?

Tenho alguns palpites, tipo, baixa auto-estima. Tem gente que só se sente amada quando tem alguém do lado, precisa de uma namorada para camuflar sua eterna insegurança em si mesma, precisa de uma “prótese” para aliviar os traumas mal resolvidos internamente, enfim, precisa mesmo é de um terapeuta. Nesse caso, o que vale é a própria sobrevivência, se a namorada sai de cena, ela desmorona e não se sente capaz de conquistar nenhuma outra mulher.

Outro caso bastante comum é quando existe a necessidade de provar que você é foda, que sempre consegue o que quer, custe o que custar. Tudo pela vaidade, o importante é mostrar para o mundo que você tem culhão para manter aquilo, mesmo que aos trancos e barrancos. Tudo está mal, a relação está toda remendada, mas o status quo é mais importante do que a felicidade própria. A pessoa vive para manter a aparência de casal perfeito que, inevitavelmente, vai se esfacelar mais cedo ou mais tarde.

Agora, tem um outro grupo de sapa que realmente não entendo, é o tipo que perdoa coisas imperdoáveis, que releva comportamentos acima do limite máximo da tolerância, e não tem nada a ver com auto-estima ou vaidade. Como escreveu o grande poeta Vinicius de Moraes, tem horas que até o perdão cansa de perdoar. Às vezes é preciso ser irredutível por uma questão de amor próprio, de consideração consigo mesma, de respeito a sua individualidade. O perdão reincidente pode se tornar um vício, abalar a confiança na relação e te levar ainda mais para o fundo do poço.

Dica de música: Regra Três, de Vinicius e Toquinho

Casal de lésbica terá filho biológico na Espanha

Natal dyke