Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, a psicóloga Rozângela Alves Justino, que corre o risco de perder o registro profissional por defender a "cura" de gays, classificou a homossexualidade como "doença" e afirmou que o movimento LGBT tenta implantar uma "ditadura gay".
"[A homossexualidade] é uma doença que estão querendo implantar em toda sociedade. Há um grupo com finalidades políticas e econômicas que quer estabelecer a liberação sexual, inclusive o abuso sexual contra criança", disse Justino. "Esse é o movimento que me persegue e que tem feito alianças com conselhos de psicologia para implantar a ditadura gay", continuou.
Para a psicóloga, os projetos de lei como o PLC 122, que criminaliza a homofobia no Brasil, tentam "cercear o direito de expressão, de pensamento e científico". Justino se diz perseguida e afirma ser vítima de censura. "Eles [os homossexuais] foram queimados na Santa Inquisição e agora querem criar a Santa Inquisição para heterossexuais", declarou.
Na entrevista, Justino disse ainda que "a maioria dos gays foi abusado sexualmente na infância e sentiu prazer nisso". "Normalmente o autor do abuso o comente com carinho. Então a criança pode experimentar prazer e acabar se fixando", justificou.
No próximo dia 31, o Conselho Federal de Psicologia julga a cassação do registro profissional da terapeuta. Resolução do próprio conselho proíbe há dez anos os psicólogos de lidarem a homossexualidade como doença e recrimina a indicação de qualquer tipo de "tratamento" ou "cura".
O repórter da Folha, Vinícius Queiroz Galvão, passou-se por paciente e pagou R$ 100 (Justino havia cobrado anteriormente R$ 200) pela sessão. Durante a conversa com a psicóloga, ela recomendou orientação religiosa na Igreja Evangélica, da qual se diz adepta. "Tenho minha experiência religiosa que eu não nego. Tudo que faço fora do consultório é permeado pelo religioso. Sinto-me direcionada por Deus para ajudar as pessoas que estão homossexuais", disse.
Líderes do movimento LGBT, como Toni Reis, presidente da ABGLT e Cláudio Nascimento, superintendente da Secretaria de Direitos Humanos do Rio, falaram à reportagem e criticaram a psicóloga. "Se absolvê-la, o Conselho Federal de Psicologia vai referendar a tese de que é possível ‘curar’ gays", disse Toni Reis.
Para a Sociedade Americana de Psiquiatria, a homossexualidade deixou de ser considerada uma "doença" em 1974, decisão seguida pela Organização Mundial da Saúde uma década depois.