Rosane Amaral é carioca, 39 anos, e produtora de uma das festas mais conhecida do público gay brasileiro, a R:EVOLUTION. Além dessa, ela também organiza as principais pool parties do Rio de Janeiro.
"Esse ano o meu lema é: não quero ninguém no inferno, vamos levar todo mundo para o céu", é o que diz Rosane sobre a energia de sua festa para o fim de ano e também para todas as outras. "As minhas festas não são festas, se trata de uma confraternização, um encontro de amigos", diz a produtora.
Em conversa com o site A Capa, Rosane fala sobre a festa de virada de ano, sobre a preparação do clube onde será realizado o evento, o Sky Lounge, as escolhas dos DJs, e ainda filosofa sobre a cena carioca e o gosto do público paulista, que, para ela, é muito "minucioso". Confira a seguir uma entrevista cheia de energia.
O que as pessoas podem esperar da sua festa de réveillon?
A minha festa é conhecida pela energia, as pessoas vão em outras festas e sempre reclamam disso, e quando a gente faz a R:Evolution o povo vai por causa dessa energia. [a festa] Atrai pessoas de fora, mas na verdade se trata de uma grande confraternização, não chega a ser uma festa, é um encontro de amigos. Fora isso, tem a produção que é caprichada justamente por não ser uma boate. Eu já conversei com os DJs e nada de música pra baixo, é réveillon. Não quero levar ninguém para o inferno, quero todo mundo no céu.
Haverá alguma novidade na festa desse ano?
Para o réveillon é uma coisa tradicional e tem um belo café da manhã.
E sobre os DJs, qual foi o critério de escolha?
O William [Umana] eu já conheço há muito tempo e estava vendo da gente tocar junto há muito tempo, mas ele nunca tinha data. O Bill [Hallquist] já é uma atração de muito tempo, que nem foi o Tony Moran que começou comigo e hoje é um grande produtor. Eu já conhecia o Bill há muito tempo, só que o Bill quando voltou para o Brasil precisava de uma empurrada igual ao Tony, então eu soltei o Bill no Brasil e ele estourou de novo lá fora e agora é um dos DJs mais importante de uma festa no Estados Unidos, que é a White Party.
E como é a sua relação de trabalho com esses DJs?
A gente conversa muito, o americano tem uma personalidade forte, não gosta que mande nele e comigo isso é o contrário porque eu falo mesmo, a gente conversa sobre música e falo sobre a característica da minha festa. Um produtor chegar e fala ‘toca o set assim’, eles não vão aceitar nunca e vão acabar com a noite. Já comigo não, eu chego na maior: ‘Bill tá errado, essa música tá uma merda’ e eles morrem de rir pela forma de eu falar, é uma outra forma, por isso eles têm respeito comigo. Eles entendem, e o meu lema esse ano é: não levar ninguém para o inferno, vamos todos juntos para o céu.
Você tem alguma expectativa de público?
Cara, não tenho a mínima idéia, eu sei que vai lotar. Para mim hoje em dia falar em número é assinar uma sentença.
Para o carnaval, você está preparando alguma coisa?
Para o carnaval vai ser algo bem bacana. Serão duas Pool Parties, dia 18 e 24, e uma R:Evolution bem grande.
Qual a sua opinião sobre a cena carioca atual?
Eu já falei sobre isso em algumas entrevistas. Os produtores mal saem, é aquela velha história: tem que ter capital para investir, tem que ter conhecimento e tem que ter toda uma série de coisas que muita gente não tem. E quem tem? Eu, a B.I.T.C.H. que eu respeito muito e eles tem um público cativo e só. Isso em festa, sobre clubes eu não posso falar. Por enquanto, estou na moda.
O que difere as festas do Rio e de São Paulo?
A credibilidade dos produtores. O paulista só sai de casa pra se dar bem, paulista é muito minucioso. Gosta de saber pra onde vai e o que ele vai curtir, talvez por isso as minhas festas em São Paulo dão certo. Ele sabe da qualidade, o paulista gosta de qualidade. O carioca já é uma coisa que fala por si só, é aquela coisa de energia. O paulista é da noite porque não tem praia em São Paulo. Todos saem a noite e a gente sai de dia, se não tiver praia o carioca morre. E você pode ir para Florianópolis, as festas não são as mesmas coisas, é por isso que o paulista vem para as nossas festas e, quando junta paulista com carioca, meu amigo…
Fale um pouco sobre o espaço onde será feita a festa.
O Sky Lounge já fala por si só. É o clube mais chique do Rio de Janeiro, não tem comparação, é um clube limpo, ele é aberto, as pessoas dançam na varanda, entram em contato e o sol na cabeça. O Sky Lounge é a minha cara. A produção tem a minha assinatura, são vários painéis, eu tenho um pé no trance muito grande e vou fazer uma decoração bem trance, vai ser uma coisa muito flúor. Vou trabalhar com o psicodélico.
Como é ser lésbica e fazer festa para gay?
Quando minha mãe descobriu que eu era gay, tive sérios problemas com ela. Aí fui embora de casa aos 16 anos e eu fui adotada por homens, homens que me ajudaram muito, como o Juliano Carani, Miguel Falabella… nunca tive uma referência feminina na minha vida, a minha vida foi com os homens. Para você ter uma idéia, tenho duas amigas mulheres e na minha casa não entra mulher, entram todos os homens do mundo, fui criada por eles. A decoração da minha casa foram os meus amigos homens que ajudaram a fazer, fazer comida eles que me ensinaram. Tudo o que eu fazia era com eles, eu fui escolhida por eles. Então, nunca tive problema com preconceitos. Eu sou um homem num corpo de mulher.