A jornada de Beyoncé nos Grammy Awards é um reflexo das questões mais amplas relacionadas ao reconhecimento da música negra na indústria. Durante a 67ª edição do Grammy, Beyoncé fez um discurso emocionante ao receber seu primeiro prêmio de Álbum do Ano, destacando a ironia de ter o maior número de vitórias na história da premiação, mas frequentemente ter sido ignorada nas categorias principais. Essa situação levanta uma preocupação constante entre artistas negros e seus apoiadores sobre a falta de reconhecimento histórico por parte dos Grammy.
Os Grammy, assim como os Oscars no cinema, são considerados um marco de excelência na música. Com quase sete décadas de história, os vencedores são escolhidos por um júri composto por profissionais da indústria. Para os músicos, ganhar um Grammy é um sinal de validação entre pares, além de ser uma confirmação de sucesso comercial.
Contudo, a premiação tem enfrentado críticas crescentes por reconhecer predominantemente artistas brancos, mesmo em um cenário de diversificação na indústria do entretenimento. O processo de seleção, que inclui submissões de membros e gravadoras seguidas de verificações de elegibilidade e votação, também é criticado por sua falta de transparência e alegações de práticas antidemocráticas.
A trajetória de Beyoncé na categoria de Álbum do Ano foi cheia de desafios. Apesar de várias indicações, foi apenas em 2023 que ela conquistou o prêmio. Sua mais notável perda ocorreu em 2016, quando seu álbum “Lemonade”, considerado uma obra-prima, não ganhou, gerando revolta entre fãs e críticos. Em vez disso, o álbum foi premiado na categoria de Melhor Álbum Urbano Contemporâneo, uma situação que reflete um padrão: artistas negros muitas vezes são colocados em categorias inferiores.
O álbum “Renaissance”, de 2022, que celebra a disco e a dança, também não conseguiu conquistar o prêmio principal, evidenciando a luta contínua dos artistas negros por visibilidade nas categorias principais do Grammy.
Beyoncé não está sozinha em enfrentar esses desafios. Outros artistas negros, como Janelle Monáe, Nicki Minaj e Tupac Shakur, também alcançaram grandes sucessos, mas foram amplamente ignorados nas principais categorias do Grammy. Minaj, por exemplo, foi indicada 12 vezes sem ganhar, chegando a boicotar a cerimônia em frustração com a falta de reconhecimento. Os descasos com Tupac, apesar de sua influência massiva no Hip-Hop, são um exemplo claro da negligência do setor em relação a um gênero predominantemente moldado por artistas negros.
Como resultado, alguns músicos optaram por boicotar ou retirar suas submissões. The Weeknd, por exemplo, decidiu não permitir que sua música fosse considerada para o Grammy em 2021, após seu aclamado álbum “After Hours” não receber nenhuma indicação. Ele citou a natureza secreta do processo de seleção como um fator importante em sua decisão.
Os debates em torno dos Grammy revelam uma questão profundamente enraizada na indústria da música, que continua a marginalizar a arte negra, apesar das contribuições inegáveis desses artistas. Embora a vitória histórica de Beyoncé represente um avanço, a questão mais ampla da inclusão e da justiça ainda permanece em aberto.
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