Quase metade das pessoas LGBTQIA+ enfrentou ameaças ou agressões em meio à repressão estatal e social no país
Um novo relatório elaborado por grupos russos de defesa dos direitos LGBTQIA+, como o Vykhod (“Saída”) e a Fundação Sphere, expõe um cenário alarmante para a comunidade queer na Rússia em 2024. Com base em mais de 6 mil respostas, o estudo revela que quase metade das pessoas LGBTQIA+ enfrentou violência física ou ameaças, enquanto o medo e a repressão aumentam em um contexto de censura e criminalização.
Violência e ameaças em alta
Segundo o levantamento, 47,5% dos entrevistados relataram ter sido agredidos fisicamente ou ameaçados com violência, um aumento de 4 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Esta realidade é ainda mais dura para pessoas transgênero, que figuram como as mais vulneráveis. Além disso, a ameaça de denúncias às autoridades foi vivenciada por 14% do total, chegando a 18% entre pessoas trans e 20% entre adolescentes LGBTQIA+.
Apesar da frequência das ameaças, apenas 1% revelou que denúncias foram efetivamente feitas, geralmente para órgãos como polícia, Comitê de Investigação e o Serviço Federal de Segurança (FSB). Na maioria dos casos, essas denúncias não resultaram em punições, possivelmente pela falta de evidências ou desinteresse das autoridades.
Repressão, medo e autocensura
A pressão estatal e social tem levado a comunidade a um silêncio cada vez maior. O relatório aponta que 88% dos participantes sentem o impacto direto da censura sobre questões LGBTQIA+, e 91% afirmam praticar autocensura ao falar sobre sua orientação ou identidade de gênero. Este ambiente hostil também atinge o acesso à saúde: apenas 22% revelaram sua identidade a profissionais médicos, enquanto 29% evitaram procurar atendimento por medo de discriminação.
Desigualdade econômica e sobrevivência
A situação econômica da comunidade também segue preocupante. Cerca de 20% só conseguem comprar o básico para se alimentar, índice que é ainda maior entre pessoas transgênero, com 31% vivendo na pobreza. A presença no mercado formal de trabalho é desigual, com 71% dos entrevistados afirmando ter renda estável, caindo para 57% no grupo trans. Além disso, 5% recorreram ao trabalho sexual como alternativa diante das dificuldades financeiras.
Perseguição e fechamento de espaços seguros
Desde a declaração do “movimento internacional LGBTQIA+” como organização extremista pelas autoridades russas, grupos de apoio perderam a possibilidade de atuar publicamente, e vários espaços seguros foram fechados. O relatório destaca o aumento significativo da demanda por ajuda em processos de emigração, pedidos de asilo e apoio psicológico, diante da crescente violência, prisões e perseguição.
St. Petersburg como refúgio relativo
Apesar do cenário geral sombrio, St. Petersburg (Rússia) continua sendo apontada como a cidade mais acolhedora para a comunidade LGBTQIA+. Por lá, 56% dos entrevistados se sentem à vontade para se assumir com a maioria dos amigos, 16% com familiares e 22% no ambiente de trabalho ou escola.
Este relatório revela a urgência de ampliar a solidariedade internacional e o suporte às pessoas LGBTQIA+ na Rússia, que enfrentam uma combinação brutal de discriminação legal, social e econômica. Em meio à repressão e ao medo, a resistência e o apoio mútuo seguem sendo essenciais para a sobrevivência e a luta por direitos.